A Maçonaria moderna, também denominada por Maçonaria Especulativa, recebe este nome pela desenvoltura no fazer maçonaria, tendo como marco histórico a fundação da Grande Loja de Londres, em 1717, proposta efetiva de sistematização obediencial da Ordem. Mas, esta referência não encerra o marco inicial do especulativismo, tido por alguns autores como sendo um processo gradual de transformação a partir da aceitação de nobres indiferentes ao trabalho de construção. Esta nova forma de conceber Maçonaria, documentalmente, surge no século XVII, tempo em que foi criada a nomenclatura de Maçom Aceito, ou seja, a aceitação da iniciação de homens que desconheciam a arte operativa.
A formação da Grande Loja de
Londres, portanto, foi a culminância de uma tendência que se apoderava da
Maçonaria dita operativa há muito tempo. O que antes era uma associação tipicamente
formada por profissionais da arte da construção de edifícios, especialmente
talhadores de pedra, se tornara numa instituição nobiliárquica de forte apelo
esotérico e filosófico, sem perder, no entanto, seu caráter religioso. A
fundação da Maçonaria Operativa está envolta de discursos poéticos, linguagem
comum entre oradores que dissertavam origens míticas e transcreviam isso em
documentos. Não por isso, autores comentam os usos e costumes dos operativos aludindo
a eras indeterminadas.
O escopo deste trabalho não
será avaliar o teor esotérico presente na denominada fase operativa, mas
contribuir com o debate de como estudiosos maçônicos analisam a temática da Maçonaria
Operativa. Para tal, será basilar analisarmos o pensamento do historiador maçom
Robert Freke Gould (1836-1915), autor de História Concisa da Maçonaria,
lançado em 1903, cujo capítulo II recebe o título de Maçonaria Operativa
Medieval. O autor foi um dos fundadores da Loja de Pesquisas Quatour Coronati
(1886) e o segundo mestre desta Loja, a qual se afama ser escola autêntica de
pesquisa. Outras autorias, outrossim, serão também discutidas.
A MAÇONARIA OPERATIVA NA
CONCEPÇÃO DE GOULD
História Concisa da Maçonaria é uma
edição revisada e condensada do História da Maçonaria lançado entre 1882
e 1887, sendo publicada em 1904. Para o autor, esta edição relataria a Maçonaria
em todos os seus estágios, com o capítulo I destacando as principais
teorias com relação à origem da Maçonaria (p.2). Ora, estas teorias são
consideradas pelo autor ou, pelo menos, dos que faziam e pensavam a Maçonaria
no século XIX, inclusive na Quatour Coronati.
Hermeneuticamente, o capítulo
I utiliza linguagem de apelo simbólico, composto por enigmáticas inserções
narrativas, ao melhor estilo de Albert Mackey, em seu O Simbolismo da
Maçonaria (1882), convidando apenas os maçons com experiência ritualística
para o entendimento. A linguagem maçônica de narrar suas origens, porém, foi
sacramentada no texto das Constituições de 1723, maldosamente interpretado por críticos
como sendo um documento mistificador. Respeitando a tradição maçônica, Gould faz
sua História inalienavelmente, cumprindo a função informativa. A
maçonaria possui, teoricamente, sua fundação não em documentação formal, mas na
tradição dos costumes ou práticas relacionadas a crença em Deus. Aliás, de modo
inovador, o autor, baseado em estudo do especialista orientalista Chaboner
Alabaster, apresenta a adoção milenar entre os chineses de forma maçônica
em símbolos a exemplo do Esquadro e Compasso e uma deidade chamada Primeiro
Construtor (p.8). Considerando a Maçonaria como depositária de Tradição
Primordial, alerta que esta fé antiga entre os chineses já se perdeu,
mas confrarias a refundam em ritos e símbolos antigos. Com ousadia, diz
o autor que muito antes da era cristã havia uma história da Maçonaria através
da moralização dos implementos do pedreiro e seu ensinamento simbólico (p.9).
A Maçonaria, conceitualmente,
em Gould, está associada às crenças dos Mistérios Antigos, teoria constante não
apenas na fundação da Maçonaria Especulativa, cuja narrativa mítica defende o
espiritualismo da instituição, mas em autores de língua inglesa contemporâneos
seus, a exemplo de Mackey e Albert Pike. Ilustrando sua teoria, o autor
defende, por exemplo, que a crença da imortalidade da alma era típica entre os
mistérios mitraicos, os quais haveria sucessivas iniciações exclusivamente
masculinas de sabedoria absoluta cujo segredo deveria ter sido trazido do
oriente (p.13). Ora, façamos uma pequena pausa e analisemos o discurso de
Gould. Na mitologia persa, Mitra era o Sol que afastava as trevas,
representação do mundo espiritual. Esta verdade antiga é proveniente do
Oriente, ou seja, a Maçonaria possui um arcabouço doutrinário que encerra em
seus símbolos e ritualística crenças sistematizadas.
Além dos Mistérios mitraicos,
foram elencados os órficos, eleusinos e essênios, estes últimos depositários
das tradições dos Kasideanos, uma associação de arquitetos que estavam
conectados à construção do Templo de Salomão, que tinham uma doutrina de craft
herdada dos caldeus: aproximador, associado e discípulo ou
companheiro. Foram estes, diz as pesquisas de Gould, que haviam concordâncias
com o Collegia Romana, os fundadores, na Inglaterra, das corporações
de artífices. Os colegas eram organizados por oficiais denominados Mestre,
decuriones- os Vigilantes-, Secretário e Tesoureiro. Os colegas eram
denominados Companheiros. Porém, Gould não correlaciona o Collegia à
Maçonaria. O Collegia, exclusivamente operativo, faltava à imortalidade
da alma (p.18). Esta crença, por certo, estaria presente na Maçonaria
Operativa, eminentemente cristã. Na opinião de Gould, ao que parece, os Collegia
são influenciadores na formação da Maçonaria, mas por algum motivo, ele rechaça
uma relação intrínseca de continuidade entre uma e outra composição. O autor
também recorta os Steinmetzen medievais alemães, que fizeram na catedral de
Würzemberg, uma das mais antigas cidades da Alemanha, dois pilares, o Jachin e
Boaz (sic), mas que não era especulativa. Para os Steinmetzen o autor
também considera adequado, por motivos que nos alheiam, evidenciar que não eram
especulativos. Os Corps D´etat e os Compagnonagge franceses
também foram analisados mas o autor não concorda que sejam Maçonaria pois,
dentre outros motivos, não adotaram a lenda de Hiram (p. 53). O rosacrucianismo
foi uma das análises mais cautelosas pois o autor suspeita que não houvesse Fraternidade
Rosa Cruz efetivamente efetivamente no século XVII, aceitando porém que pessoas
eram tidas por rosacruzes (p. 70). O hermetismo, por outro lado, é
aceito pelo autor como grande influência e, citando Pike, considera como um
marco desta representatividade a adesão de Elias Ashmole, iniciado em
Warrington, em 1646, e que sua presença no Mason´s Hall, em 1862, seja uma
demonstração que o ambiente lhe era propício (p. 73-74). Autores hodiernos não
entendem que Ashmole fosse assíduo na Maçonaria pela falta de outras atas que
constem sua presença em Loja ou Lojas. A presença de Ashmole na Maçonaria,
ainda no século XVII, é sintoma de que a Maçonaria esta época atraia mentes
afeitas ao esoterismo e que nada tinham de operativos. Outro exemplo de Maçom
Aceito, que não está na análise de Gould mas que merece menção, é Robert Moray,
iniciado em 1641 na Loja Mary Chapel em Edimburgo. Ambos estavam envolvidos com
a criação da Royal Society em 1660, eram stuartistas e associados ao
esoterismo, sendo Ashmole o mais estudado pela sua fama de rosacruciano. O
simbolismo maçônico, caracterizado pelo elemento esotérico e místico, no
entanto, não é originado do século XVII contextualizado à aceitação de
esotéricos ou Maçons Aceitos, mas se originou no esplendor da Maçonaria
operativa medieval, e não seu declínio (p. 77). Para Gould, o que atraía
estes interessados em esoterismo seria a finalidade mística existente na
Maçonaria antes dos tempos modernos.
Analisando especificamente a
Maçonaria Operativa medieval, Gould começa suas reflexões considerando o estilo
gótico de construção, esta como sendo suposta contribuição dos cruzados ao mundo
ocidental pelos conhecimentos orientais, especialmente sarracenos. Gould
apresenta a narrativa, comum no século XIX, de que a Maçonaria pré-1717,
representada pelas obras de Sir Christopher Wren, referência entre os maçons
construtores, estaria sob a égide de monges franco maçons que trabalhavam
livremente com patentes papais e, por isso, estavam eximidos das proibições
feudais.
Os pesquisadores da Quartour
Coronati, especialmente T.Hayten Lewis, defendiam que o arco pontiagudo foi
adotado pelos maçons das grandes ordens religiosas da Europa, mas que
estas inovações estariam dependentes da supervisão templária. O estilo gótico,
remodelado ao longo dos tempos, teve sua versão inglesa no século XVI com a
deterioração do medievo.
Para o autor, o estilo gótico,
independente de suas variações, fora herança de maçons que estiveram no
oriente auspiciados pelos templários. Nada é dito se estes maçons tinham
afinidades místicas, apenas que o estilo arquitetônico foi influenciado pelas
cruzadas e que os cavaleiros templários, que era uma ordem religiosa e militar,
interessados estavam pelas construções orientais e que isso foi copiado para o
ocidente. Nada é dito se o estilo gótico teria alguma dimensão esotérica, à
moda da proporção áurea.
Os maçons medievais é
uma terminologia referente a pedreiros, as cartas constitutivas os
disciplinavam com expressões luz do dia para expediente de trabalho e meio
dia para recreação. Os documentos estavam dedicados a juramentar os
trabalhadores. Na execução do serviço recebiam avental e luvas. A Loja era a
oficina dos trabalhos ou até residência dos operários. Não raramente, estas
Lojas eram nomeadas. Por exemplo, na Escócia, em 1536, havia a Our Lady Luge
of Dundee. Porém, não havia uma associação estável de maçons, mas
interesses individuais ou contratos específicos para determinada construção.
Nisso, o autor tenta afastar a ideia de que haveria uma institucionalidade
maçônica, ou quiçá Ordem Maçônica operativa. Aliás, o documento de 1352, As
listas da fábrica da catedral de York Minster, que eram pedidos aos maçons
seria uma ideia fraca de que havia uma fraternidade reivindicando autoridade do
que lhe fora concedido por Athelstan, em 926, em todo o país. A juramentação
era feita às autoridades da cidade e não a uma figura proeminente da Loja que
representasse a instituição. A Companhia de Maçons de Londres, de 1375,
manda o trabalhador prestar juramento aos Prefeitos, Conselheiros e Xerifes de
Londres (p. 92). O maçom era livre em decidir aceitar ou não o serviço,
mas ao aceitar estaria juramentado ao que lhe diziam estas autoridades.
Os chamados Mistérios dos Mestres
eram segredos de cunho estritamente profano, por exemplo macetes de construção,
que não deveriam espalhados e fornecer elementos a mestres rivais. Os
Vigilantes ou Supervisores eram os contratadores dos trabalhadores.
Nomeadamente eram chamados de Steward ou Comissário (p.95). O Mestre
pedreiro ou arquiteto era recrutado, desde o século XIV eles tinham seus sociis
ou Companheiros. No ano de 1376, os trabalhadores de Londres eram conhecidos
por ffreemasons (sic) e em 1377 o free master mason, Will
Humbervyle, foi contratado pelo Merlon College, Oxford. O termo freemason
está referido não a um componente de Loja mas a um trabalhador livre, ou seja,
não era um servo de senhor feudal. Posteriormente, o uso se torna normativo
para artífice.
Para Gould, a Maçonaria
operativa não estava afinada com especulativismo ou esoterismos, nem sequer
seria uma instituição organizada. As regulações de trabalho eram de instancias
comumente autoritativas, estavam subordinados, por exemplo, ao Rei ou ao
Conselho da cidade. No entanto, a versão de Gould deixa a desejar sobre as origens
da Maçonaria, sua relação histórica com os Templários e sua disposição institucional.
Os Collegia romanos, ao estarem descartados como difusores ou comunicadores
dos mistérios antediluvianos, deixa uma lacuna sobre em que momento ou de quem
a Maçonaria adotou seus princípios esotéricos. A relação com os Templários também
em pouco ajuda às pesquisas, apenas diz que os Templários foram influenciadores
na difusão da arte Gótica, por esta ser originária dos sarracenos no oriente.
As guildas francesas, incluindo os Compagnonagge, e a alemã Steinmetzen,
também não recebem uma análise bem explicativa para a Maçonaria operativa medieval.
O problema do esoterismo na Maçonaria medieval, algo evidenciado pela liturgia,
não recebe análise bem fundamentada. Apesar da fundamentada suspeita de que não
existia Ordem Rosacruz no século XVII, não considera o expoente Elias Ashmole
como sendo um maçom ativo e colaborativo na formação ou maturidade esotérica
maçônica. O autor simplesmente centra na atividade construtora inglesa a origem
da Maçonaria, sem relação direta nem com o Collegia, nem com os Templários.
Flerta com as possibilidades, mas timidamente as rejeita. A instituição maçônica
não existira no século XIV, pois as oficinas de construtores eram contratuais
para determinado serviço ou senhorio, o juramento era para com as autoridades
públicas e o termo livre maçom não era uma identidade institucional, mas
apenas um modo de denominação para trabalhador sem vínculos feudais.
A MAÇONARIA OPERATIVA SOB OUTRAS
PERSPECTIVAS
Autores maçons hodiernos
tentam discernir as características da Maçonaria dita operativa e sua relação
com os usos e costumes com a atual Maçonaria, a especulativa. Amparando teoria
criticista, Joaquim Roberto Pinto Cortez, no livro A Maçonaria Esocesa, descarta
qualquer relação dos arquitetos medievais com o Collegia Fabrorum, para
o autor os romanos não utilizavam o estilo gótico, nem eram cristãos. A Maçonaria
seria oriunda apenas das guildas ou corporações de ofício na Idade Média
(2009:29-31). Os documentos antigos da Maçonaria, MS Halliwell, de 1538, e o MS
Cook, de 1410 (sic), dizem ser os trabalhos organizados com fundo religioso,
moral e social. O especulativismo tem começado caracteristicamente com os
maçons Aceitos, com a dinastia Stuart, durante estadia na França, e com
a formação dos Altos Graus, no hermetismo e no ocultismo. Para o
autor, a maçonaria especulativa começara na segunda metade do século XVII,
na Inglaterra (2009:43). Ora, historicamente temos que o John Boswell, foi
iniciado em Edimburgo, Escócia, em 1600, na Saint Mary’s Chapell Lodge. Deste
modo, o recorte histórico favorece a Escócia, e não a Inglaterra, como terra natal
do especulativismo maçônico. Além disso, o ano de 1600 é a culminância apenas para
a iniciação do Lord de Aushinleck e não o start para os trabalhos
especulativos. Interessantemente, Gould não cita o MS Cook, seria ingenuidade analisar
este documento isento de influências do século anterior. O MS Cooke, de acordo
com Robert Ambelain, em seu livro A Franco-Maçonaria, aliás, faz referências
à Geometria em termos espiritualistas (2010:200). Não seria este documento
apenas uma lista de decretos, mas ainda uma discursividade de teor abstracionista.
No livro Maçonaria,
Filosofia e Doutrina, Raimundo Rodrigues, faz uma simplória relação entre Collegia
Fabrorum, Templários, Compagnonagge e essênios (sic). Aproveitando a
polêmica da teoria essênia, o autor aproveita os exageros desta hipótese e decide
encomiar o maçonólogo extraordinário que é o Dr. José Castellani e
afirma: Não, a Maçonaria não é uma ordem mística (2000:72). Porém, nosso
maçonólogo extraordinário, em livro publicado em 2005, com o sugestivo título
de As Origens Históricas da Mística Maçônica (grifo meu)
demonstra não estar à par do pensamento do colega. Neste livro, o Dr.
Castellani entende que misticismo é uma tendência à busca do Absoluto e
o místico pretende se assimilar com a realidade absoluta ou divina em íntima
relação com as coisas do Universo, a finalidade é a comunhão com a divindade,
considerada espírito criador, animador e regulador de tudo que
existe (grifo meu, 2005:09). Após esta bela confissão teísta do Dr.
Castellani, entendemos que por sua proposta sistemática teórica, que estuda a doutrina
simbólica maçônica associando os ensinamentos ritualísticos a tradições das
Escolas de Mistérios da Antiguidade, o aclamado exegeta conceitua, sim, a Maçonaria
ser uma ordem mística.
Nas pesquisas de Alberto
Victor Castellet, no livro O que é Maçonaria, a Maçonaria Medieval
possui relevância por ser o período de criação da denominação maçons, ou
free-stone-mason, na data de 1350, e que nas associações havia iniciação
maçônica, com o Mestre declarando aberta as sessões e o Companheiro encarregado
da preparação do neófito (p. 23). O neófito recebia o conhecimento da tríplice
grande luz, um avental novo, a palavra passe e o lugar que
havia de ocupar, finalmente recebiam a saudação e o toque que posteriormente
usariam os Aprendizes franco-maçons. Para Castellet, havia organização maçônica
no século XIV e toda a estrutura iniciática, pelo menos em fase primitiva.
Defendendo a teoria chamada período
de transição, Alec Mellor, no Dicionário da Franco-Maçonaria e dos
Franco Maçons , não acredita que houvesse uma associação, por sua vez,
denominada comancini, que seria a derivação de co-mason, diz ser lendária
a influência templária, sob a ideia de que a Ordem do Templo foi destruída e jamais
produziu qualquer corrente de pensamento. Não havia hermetismo entre os operativos
na Idade Média e que o termo Freemason apareceu pela primeira vez no MS Dives
Pragmaticus, em 1376, nomeando o talhador de pedra e não um pedreiro livre.
Os segredos, sinais e toques eram de finalidade apenas profissional e serviam
para transmissão de mensagens. Para o autor, a história da Maçonaria é dividida
em três fases, Maçonaria Operativa, transição e Maçonaria Especulativa. A
transição é o período dos Maçons Aceitos, referenciado por John Boswell,
de Edimburgo (1989:13-14). Porém, Mellor não disserta o motivo pelo qual os
cavalheiros procuram estas confrarias de trabalhadores, nisto temos um problema.
Para afastar a ideia do temido esoterismo entre os trabalhadores, Mellor ataca o
emblemático Elias Ashmole, interpretando que ele por ter sido iniciado em 1646
teria outra participação maçônica somente em 1682, o que seria uma demonstração
de desinteresse. Ora, historicamente temos uma evidência de que Ashmole estava
apto a frequentar Lojas após tanto tempo de iniciação, o que não temos são documentos
que demonstrem sua atuação neste ínterim. Pior seria se não houvesse qualquer
menção a Ashmole em loja maçônica após 1646, o que não elucida o que o levou a
se tornar maçom, sendo que isso de modo algum acrescentaria ao seu currículo ou
metiér profissional. O que sabemos e é notório, Ashmole era uma hermetista
inveterado e que procurava entidades esotéricas para desenvolver suas práticas.
Na opinião de Jean Palou, em Franco
Maçonaria Simbólica e Iniciática, a Iniciação, enquanto conceito e prática,
esta intrinsicamente relacionada com a linearidade Maçonaria Operativa e Especulativa.
A Franco Maçonaria, tal como é denominada a Maçonaria Especulativa entre os
franceses, é uma continuação da Maçonaria Operativa sem qualquer ruptura da
cadeia iniciática. No período operativo, os antigos maçons faziam operações
cuja iniciação era baseada na realização espiritual. Citando René
Guénon, Palou acredita que o simbolismo iniciático é derivado de forma
ininterrupta do pitagorismo dos Collegia Fabrorum e das corporações de
ofício medievais. Outro pesquisador, Marius Lepage, diz que a Maçonaria Operativa
é oriunda dos antigos construtores , referência às ideias de Guénon
(2012:20-21). Sem incitar qualquer rivalidade, Lepage oferece o discurso de que
a Maçonaria do continente, com rituais de iniciação dos Companheiros na França
e Alemanha, influenciou a Maçonaria inglesa, que devolveu o especulativismo posteriormente.
Palou sustenta que para os construtores iniciados o trabalho operativo é
um apoio puramente espiritual (2012:22-23). Noutras palavras, a Maçonaria
inglesa especulativa foi filha da Maçonaria francesa, por esta estar
sintetizando as tradições iniciáticas de guildas seja na França seja na
Alemanha. O que está desapercebido é se os Stuarts levaram a Maçonaria já
especulativa para a França durante o exílio ou se apenas com a fundação da
Grande Loja de Londres a Inglaterra devolveria o especulativismo.
O conceito de Maçom também é discutido,
freemason não seria uma pessoa, mas a pedra adequada para talhamento, a
pedra de boa qualidade. Não havia Aprendiz na Maçonaria operativa, apenas
Companheiro. O Venerável, termo comum na Maçonaria inglesa, chama a Assembleia
e impõe o silêncio (Ordenanças de Tourgau, 1462) sendo comum na ritualística a
evocação ao Glorioso El Shadday, Grande Arquiteto o qual Teu Espírito
domina a todos e dá sabedoria ao Venerável (Assembleia Geral dos Maçons de
Wakefield, 1663). Para o autor, a Maçonaria estava, na fase operativa,
ritualisticamente entrosada e doutrinariamente teísta, principalmente em sua
afirmação especulativa.
Analisando os Maçons
Aceitos, Palou com honestidade intelectual não disserta os motivos da
aceitação destes profanos. Os pioneiros, Boswell, em 1600, Robert Moray, em
1641, e Elias Ashmole, 1646, decano em 1682 e convidado para novas iniciações,
não eram operários (2012:62). Não há nada que ajude a definir o que estes
cavalheiros estavam ansiando na instituição. Porém, contextualizando o século
XVII e considerando o ideário denominado rosacruciano afeito a Ashmole, talvez
esta fosse a explicação do que estava praticado na Maçonaria em sua virtude
iniciática. Para o autor, não há diferença essencial entre as fases da
Maçonaria, a Operativa e Especulativa, indiferenciado indistinção de teor iniciático.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTELLANI, José. As Origens históricas da Mística Maçônica.
São Paulo: Landmark, 2005.
CASTELLET, Alberto Victor. O que é Maçonaria. São Paulo: Madras,
[S.D].
CORTEZ, Joaquim Roberto Pinto. A Maçonaria escocesa.
Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2009.
GOULD, Robert Freke. História concisa da Maçonaria, Vol I.
Tradução de José Filardo. [s.l.:s.n]
MACKEY, Albert G. O Simbolismo da Maçonaria. Tradução de Caroline Furukawa. São Paulo: Universo dos Livros, 2008.
MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos
Franco-Maçons. Tradução: Sociedade das Ciências Antigas revisado por Marina
Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
PALOU, Jean. A Franco Maçonaria Simbólica e Iniciática.
Tradução de Edilson Alkmin Cunha. 5 Ed.
São Paulo: Editora Pensamento, 2012.
RODRIGUES, Raimundo. Maçonaria, Filosofia e Doutrina. São
Paulo: Editora GLESP, 2000.
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