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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A MAÇONARIA OPERATIVA: HISTORIOGRAFIA E TEORIAS


 
A Maçonaria Operativa é o período de formação da atual Maçonaria relacionada à sua formação identitária. Apesar da dificuldade de se concluir qual o começo da institucionalidade maçônica, metodologicamente há a historiografia cuja teoria encerra a fase denominada operativa. O recorte deste período, envolto em muitas discussões, não está definitivamente delimitado. Na teoria de que a Maçonaria seria uma herança milenar da espiritualidade judaico-cristã, comum entre os mais tradicionalistas, o período operativo começa com as construções dos patriarcas bíblicos, cuja principal seria o Templo de Salomão. Este seria o motivador principal que daria continuísmo entre as Idades históricas.

Para os que não aceitam as explicações arcanas, a Maçonaria Operativa seria um fenômeno difuso entre a arte de construção, especialmente medieval, e associações de pedreiros. Não raramente, historiadores maçônicos hesitam em afirmar que houvesse verdadeiramente uma forma institucional maçônica, estruturada e independente, durante a Idade Média. Esta é a posição do historiador britânico Robert Freke Gould, um dos fundadores da Loja Quatuor Coronatti, a afamada Loja de pesquisas maçônica. O autor afirma, por exemplo, que, no medievo, não havia qualquer guilda suprema na Inglaterra e que é uma ideia pobre que houvesse na cidade de Londres uma guilda ou fraternidade reivindicando autoridade em virtude de um estatuto. Este estatuto seria o de Athelstan, de 926, que conferia autoridade sobre toda a Inglaterra. Não haveria autoridade entre os pedreiros que não fosse da parte do Conselho da cidade ou de representantes do Rei, a estes teriam que prestar o Juramento. Os misteriosos arcanos que haveria entre os pedreiros seriam apenas os segredos técnicos zelados para não vazar para os concorrentes. O trabalhador comum era denominado de mason, o mais experiente dedicado às melhores pedras que seriam buriladas era o freemason e o arquiteto responsável pela Arte da Construção era chamado de free master mason. Todos eram vilões, ou seja, estavam livres da servidão feudal, sendo o freemason e o free master mason, mais do que o simples mason, trabalhadores típicos das cidades. Considerando que não havia nestes canteiros qualquer associativismo e que eram temporários, o autor ironicamente diz que as associações Steinmetzen, na Alemanha, e os Compagnonagge, da França, seriam Maçonaria, pois não havia unidade caracterizada na centralização pelas Ilhas Britânicas (s.d: 98-104). Freke Gould critica a ideia de que houvesse uma organização maçônica e omite referências à tradições maçônicas que entendem que os textos canônicos medievais defendam formas institucionais.

A Maçonaria Especulativa está demarcada historicamente com a fundação da Grande Loja de Londres em 1717, culminando com a Constituição de 1723. O diferencial para esta nova forma de fazer Maçonaria está, além do sistema obediencial, no apelo místico e esotérico expansivos, o que irritara os maçons tradicionalistas fiéis ao discurso religioso e decidiram zelar pelas antigas doutrinas criando a associação dos Antigos. Nisto percebemos que o arcabouço teórico entre os maçons, pelo menos na primeira metade do século XVIII, não era irrelevante. Não estamos lidando com meras convenções sociais ou clube recreativo de trabalhadores. Não por acaso, a meta história dos Constitucionalistas de 1723 dão autoridade à Maçonaria por sua herança imemorial aos tempos da Criação. A tal prerrogativa que remonta a Adão é simbólica, mas a astúcia em estar presente nos eventos iniciais do mundo a dá o testemunho e a referência de ser parte na construção do Grande Arquiteto do Universo. Este discurso dos pioneiros especulativos confirma o compromisso com o Teísmo e a Bíblia judaico-cristã. Desse modo, a Maçonaria, por sua ênfase espiritualista, foi redimensionada a uma sociedade inevitavelmente esotérica pois nesta fase de afirmação não estava subordinada a nenhuma instituição, tal como estava durante o medievo. Historiograficamente, os teóricos que pensaram a Maçonaria Especulativa, eram ingleses ou, como no caso de Desaguliers, eram influenciados pela cultura e mentalidade inglesa ou britânica, mesmo que esta influência seja primordialmente continental, diante da possiblidade Templária ou dos Collegia Romanos. Deste modo, não há como associar o pensamento criticista da Quatuor Coronatti a uma posição intrínseca inglesa, mas será interessante analisarmos como pensadores franceses historiograficamente concebem a Maçonaria, naquilo que muitos mal informados rotuladores chamam de “maçonaria latina”.

MAÇONARIA OPERATIVA, ESOTERISMO E HISTÓRIA: PAUTAS FRANCESAS.

A Maçonaria continental, ou francesa, documentalmente, recebeu dos jabobitas exilados uma versão de Maçonaria tipicamente especulativa, ainda em fins do século XVII, com a presença da Dinastia Stuart. Deste modo, metodologicamente, temos que entender que o especulativismo em Maçonaria é um fenômeno de longa duração. Os historiadores que creditam aos Stuarts a filosofia esotérica em Maçonaria, também o fazem pela iniciativa de Loja escocesas darem origem aos Maçons Aceitos, além da posição moderna historiográfica das evidências entre Templários e Escoceses, com teses defendidas por ingleses. Não há como rejeitar, porém, que esta maçonaria jacobita era de viés político e isto era uma correção proposta pela Premier Grande Loja de Londres, mas que não descartou a prática esotérica.

Analisando a Franco-Maçonaria Operativa, como gosta de denominar, Alec Mellor, no Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons, começa o debate compreendendo que os talhadores de pedra elevavam seus pensamentos à glória de Deus, Grande Arquiteto do Universo, sendo que esses homens, organizados em corporações e confrarias conforme à hierarquia social da Idade Média- Aprendizes, Companheiros e Mestres- foram os primeiros Franco-Maçons (1989:11). Com esta afirmação, Mellor dá o tom da historiografia francesa maçônica, os operativos eram organizados, instituídos e iniciados. Modernamente, estamos contemplando Landmarks como a crença no Grande Arquiteto do Universo, o que preconiza o Teísmo e a crença na imortalidade da Alma, e a divisão ternária dos Graus Simbólicos. Esta historiografia, bom frisar, não está usando uma metodologia de intepretação aos moldes modernos, subordinando recortes e falas anacronicamente ao pensamento e praticas maçônicas modernas, ela procura ser honesta nas traduções e exegese, de modo a conferir uma ancianidade à Maçonaria por mérito próprio. Portanto, não será uma discursividade teórico ideológica, mas uma sincera análise dos documentos. Coisa que faltou na construção, pela posição a favor do ceticismo, a Freke Gould. Para Mellor, o santo ofício operativo foi transformado fenomenologicamente durante uma fase denominada de transição. Esta é a teoria da História maçônica neste historiador: Período Operativo, transição e Período Especulativo. Esta metodologia não utiliza marcos históricos para o período operativo, mas para a transição escolhe como temporalidade fluida a aceitação de não operativos no meio maçônico, a exemplo de John Boswell, em 1600, lorde de Aushinlenk, na Loja Mary Chapel, em Edimburgo, Escócia. Porém, Mellor não considera eventos históricos como os Collegia Romanos, os Tempários ou os Mestres Comancini como participantes da fundação da Maçonaria, no entanto, não consegue dissertar muito sua posição. A defesa anti Templária é um pouco fraca, pois acredita que toda a influência templária foi extinta com a exclusão da Ordem por Felipe IV, o que é muito difícil de acreditar e por não considerar que outros reinos, a exemplo de Portugal, mantiveram a Ordem em seus reinos apenas com outra nomenclatura. Os operativos não tinham segredos místicos, apenas profissionais ou de natureza técnica e a modernidade foi a causa primária que tornou irrelevante a Maçonaria, reinventada para o que se tornara o período especulativo.

A tese de Mellor é cautelosa, a transição padece de explicações e a problematização dos Maçons Aceitos está discutida na suposição rosacruciana e da Royal Society. O rosacrucianismo foi desacreditado por Mellor como farsa de dimensões enormes, mas sua crítica a Elias Ashmole é incipiente. Este personagem, maçom jacobita e suposto Rosa Cruz, é misterioso. Não há dúvidas de que Ashmole era maçom, foi iniciado em 1646 na Loja de Warrington, no condado de Lancashire, Inglaterra. A polêmica está na discussão da fidelidade de Ashmole à Maçonaria, que este abandonara e seria um maçom fugaz dado a trivialidade. Para Mellor, com razão, não havia Ordem Rosa Cruz no século XVII, a invencionice estava baseada numa infundada organização. No caso Ashmole, o que há seria uma interpretação errônea da falta de documentação de outras participações em lojas maçônicas ou de escritos maçônicos, sendo ele um autor renomado em seu tempo. A outra documentação que cita Ashmole e Maçonaria foi sua participação, além de seu diário que cita a iniciação, numa reunião de 1682, o qual era decano dos Companheiros. Na ideia de Mellor, este tempo de 1646 a 1682 é um espaço de tempo de rejeição de Ashmole à Maçonaria, o que para outros autores é confirmação de que ele ainda era ilustre pois se o tivesse tanto tempo alheio não seria chamado a participar de uma sessão daquele que  Grau. À Royal Society, Mellor considera positiva a influência desta instituição sobre a Maçonaria Especulativa, não por nomes como Robert Moray, seu presidente e Maçom Aceito desde 1641 e pioneiro nas iniciações maçônicas à modaliade jacobita em território inglês, mas por uma teoria de Thomas Sprat, autor cujas ideias são desposadas por Mellor ,a qual a Royal Society dera base para que houvesse duas religiões, e não religiosidades, a pública e a privada, sendo a Maçonaria o que a Constituição de 1723 rezava ser a religião que todos concordem (1989:14-15). A Royal Society era uma difusora das idealizações escocesistas, a reunião anual era na data de comemoração do padroeiro da Escócia, Santo André. Ashmole estava na lista dos fundadores da Royal Society, mas não participou de seus estudos. O que assemelhava os dois maçons, Ashmole e Moray, eram o jacobitismo maçônico e a alquimia. Mellor não considera a iniciação de Moray na discussão da relevância da Royal Society.
Outro Historiador francês, Robert Ambelaim, no livro A Franco-Maçonaria, não entende que a História da Maçonaria seja dividida em etapas, mas que seja uma evolução linear, com o esoterismo do período dos antigos amadurecendo com a Casa dos Stuarts e o diálogo exercido com alquimistas,astrólogos e místicos el, a exemplo de Jacob Boehme. A tese de Ambelaim é referendada pela história das mentalidades e descarta o método positivista, pois ele adota o parecer de que os documentos ritualísticos maçônicos estão perdidos e o que deve ser analisado é o contexto da formação das Lojas e a prática maçônica nas suas reminiscências. A espiritualidade maçônica é baseada em esoterismos, principalmente do oriente médio e que dialoga abertamente com o ocultismo medieval.

A Maçonaria, na tese de Ambelaim, tendia para o misticismo nos seus tempos de operativismo, mas com os escoceses, principalmente a dinastia Stuart, o esoterismo maçônico assumirá um senso de pertença que culminará com o sincretismo religioso, pois a entidade maçônica, doutrinariamente, será a herdeira natural de todo o conhecimento universal e estará acima de qualquer divisionismo sectário ou político-partidário.

O avant gard da Maçonaria é a atuação dos Stuarts, foram eles que introduziram a Maçonaria no âmbito reinol inglês e, no exílio, apresentaram-na ao continente. A Dinastia assume o trono do Reino Unido em 1603 com Jaime I (1566-1625), franco-maçom e com dedo a um certo esoterismo, favorecia assembleias rosacrucianas na taverna La Sirene de Londres e era amigo de Frederico IV, holandês de Hasse-Cassel, um dos maiores incentivadores do movimento rosacruciano. Dando publicidade à sua religiosidade, em 1593 constitui a Rosa-Cruz Real, uma elite militar composta por cavaleiros da Ordem de Santo André do Cardo, ordem militar criada por Robert Bruce e reaberta, em 1540, por James V, pai de James (1990:105-106). Esta Ordem talvez seria remanescente dos Templários recebidos supostamente por Robert Bruce? O Grão Mestrado da Maçonaria escocesa ficará com William Sinclair de Roslin na ausência de Jaime, que assumiu o trono inglês. O filho de Jaime I e seu sucessor, Charles I (1600-1649), fará laços com a França através do casamento com Henriette de France, irmã de Luís XIII e filha de Henrique IV. Ambelaim qualifica Charles I de rei místico, em 1645 fundou a invisible college e tentou publicar o pensamento de Jacob Boehme em toda a Inglaterra. O Invisible College referencia o rosacrucianismo pelos Cartazes de Paris de 1623, que espalhavam haver um Colégio Invisível Rosa Cruz na cidade, coisa nunca comprovada. O rosacrucianismo no século XVII era um ideário reformista que apelava para a crença na alquimia como forma de manipulação da natureza, mas nunca foi institucionalizado, sequer com a conivência moral de seus artífices alemães, a exemplo de Valentim Andrea e Michael Maier, que jamais assumiram filiação a qualquer entidade Rosa Cruz. O escritor Jacob Boehme, por sua novidade mística, foi quase que sequestrado pelo imaginário rosacruciano, despertava a curiosidade da elite de corte, mas jamais foi Rosa Cruz, sendo seu pensamento, quase ostracizado, incorporado ao movimento martinista no final do século XIX.O que chamou a atenção para o autor foi a construção, no reinado de Charles I, do misterioso quadrante solar no jardim do palácio de Holyrod, que revelara a marcha solar (1990:106). A intenção de Ambelaim relacionar Stuarts e esoterismo não é demeritória. Apesar de Jaime I ficar mundialmente conhecido mais pela tradução da Bíblia em inglês do que pela sua Demonologia, sua participação na Maçonaria escocesa revela que a instituição maçônica especulativa estava bem antes consolidada. A elite Rosa-Cruz de cavaleiros, no século XVI, é interessante pois os Manifestos Rosa Cruzes datam de 1614, 1615 e 1616, sendo um movimento tipicamente alemão e com influência luterana.

A Revolução Puritana expulsa os Stuart da Inglaterra (1649) e o exílio na França é oferecido pela família da Rainha viúva, que leva para o continente seus dois filhos Charles II e James II. O mais velho, Charles II, se torna Rei exilado e com a morte de Cromwell (1658) prepara a invasão à Ilha. O fiel jabobita escocês, general Monck, comandante do exército escocês, membro da Grã-Loja operativa de Edimburgo como Maçom Aceito foi feito Cavaleiro de Santo André e planejou o ataque que removeria os republicanos puritanos. Os jacobitas anglo-escoceses que pegaram em armas para restaurar a dinastia Stuart foram inseridos na Ordem dos Mestres Escoceses de Santo André, estas seriam a base para as Lojas militares futuras de Saint- Germain-em-Laye de James II. O trono é assumido por Charles II em 1660 e em 1662 funda a Royal Society, sucessora do Invisible College. Os livros de Boehme são publicados. (1990:106-107). A politização da Maçonaria foi amplamente elaborada pelos Stuarts, não faz parte da discursividade de Ambelaim acreditar em etapas históricas, mas que havia uma instituição hierarquizada que, para salvar o Grão Mestre, foi militarizada em detrimento do operativismo. Para o autor, afinal, não houve uma mudança de operativo para especulativo na Maçonaria devido a decadência das associações de construtores, mas pelo ativismo político jabobita que militarizou a instituição. A disciplina militar na ritualística maçônica iniciaria nesta confluência entre operativismo e especulativismo. A tradição de reis maçons na Inglaterra também seria um legado dos Stuarts, pois a partir destes a tradição foi assumida até à modernidade.

Analisando as Old Charges, Ambelaim não aceita que os juramentos fossem alheios às autoridades instituídas da Maçonaria. Nas ordenações dos maçons de York, de 1370, nenhum maçom poderia dar baixa sem o consentimento do Mestre e na ordenação de 1409, a ninguém é dado permissão de entrar na Loja sem a permissão dos cônegos e dos Mestres da Loja (1990:194). Esta autoridade dos Mestres maçons era indiferente às determinações públicas. De acordo com as ordenações de 1356, inclusive, o oitavo artigo caracteriza as três qualificações maçônicas: Os Aprendizes e os Companheiros nunca devem fazer pouco caso de sua colaboração com o Mestre, enquanto permanecer válido seu contrato (1990:193, 195). No MS Cooke, Ambelaim destaca a importância da Geometria e afirma que nela esboça-se uma metafísica latente (1990:200). A alusão a Euclides e à Geometria nas Old Charges seria referências ao esoterismo, ensinamentos praticados com a proibição de alterar as formas da ferramenta no ritual (1990:204). Estas problemáticas não costumam ser analisadas quando o discurso do historiador é pirrônico ou pessimista.

Considerando a indistinção entre fases, Jean Palou, em seu livro A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática, defende que não há rupturas da cadeia iniciática entre o operativismo e especulativismo. Na tese deste autor, a Maçonaria chamada de Operativa era, de fato, especulativa, mas na pratica profissional do Mestre, ou seja, a geometria aplicada era especulação (2012:20). Citando René Guénon, explica que, para este autor, o especulativo é a realização iniciática e a Maçonaria dita operativa teria seu simbolismo iniciático derivado do pitagorismo, numa cadeia ininterrupta, por meio dos Collegia Fabrorum romanos e das Corporações de construtores da Idade Média (2012:21). Para Marius Lepage, outro francês citado por Palou, a tradição operativa é típica do continente, principalmente da França, através dos Compagnonagge e também dos Steinmmetzen alemães. A Maçonaria na Inglaterra, de outro modo, se faz hermetista e filosófica e, talvez numa alusão encoberta aos Stuarts, Lepage diz que a Maçonaria é retomada no continente com capacitação do esoterismo (2012:22). A diferença entre Lepage e Ambelaim, é que sem as cores nacionalistas, este autor credita a origem da Maçonaria totalmente a vertente escocesa, não especificando se era ou não herança Templária.

Analisando a Maçonaria continental, Palou defende que os operativos eram especulacionistas, independente do apadrinhamento stuartista. Para demonstrar sua tese, exemplifica os construtores de Nuremberg, que para ser aceitos Companheiros deveriam apresentar um trabalho operativo, neste caso um plano de uma igreja baseado num octógono, que era a forma dos batistérios. A base teórica de Palou está na ideia de que as formas geométricas eram fundadas em conceitos pitagóricos e posteriormente cristianizados. Por exemplo, o triângulo equilátero, para os pitagóricos, seria símbolo de Minerva, mas os cristãos interpretaram por símbolo da Trindade. O triângulo ao círculo seria o dodecágono, proporção universal e astronômica (2012:29). A Geometria, entre os operativos, era simbolizada com finalidade esotérica de cortejar as medidas matemáticas essenciais utilizadas na Criação. Além disso, analisando a organização da Maçonaria, o autor acredita que havia as qualificações Aprendiz, Companheiro e Mestre. Sua fundamentação está no Poema Regius (1338-1445) que diz que o Aprendiz deve guardar os ensinamentos de seu Mestre e os conselhos de seus Companheiros (2012:51). Porém, havia apenas um Grau iniciático, o de Companheiro, e na contextualização de seu argumento, a apresentação de um trabalho subordinado a medidas geométricas especificas faz conexão com o esoterismo. A Maçonaria medieval, defende Palou, tem no MS Cooke a referência de que o filho do Rei Athelstan ao se tornar mestre em geometria é o símbolo de que havia a não exclusividade de oficio entre os iniciados maçons (2012:52). Num regulamento escocês de 1598 para um membro ser aceito deveria fazer demonstração no mérito do ofício, coisa que não parece ser adequado a um Rei, a exemplo do príncipe inglês, ou escocês, no caso do Grão Mestre Jaime IV. No contexto insular, ao que parece, o mérito do ofício não estava na demonstração de uma obra operativa, mas na adesão das crenças místicas que seriam posteriormente creditadas aos Stuarts e sua corte. Numa alusão a uma sistematização hierárquica entre Lojas, o Estatuto de Edimburgo, de 1599, elenca ser a primeira Edimburgo, a segunda Kilwinning e a terceira, Stirling, o que seria um arquétipo da Grande Loja de Londres (2012:60). Elementos relativos que convencionamos adequar ao especulativismo estão presentes em tempos denominados operativos.

À.G.D.G.A.D.U
E. L. de Mendonça
SALUS SAPIENTIA STABILITAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMBELAIN, Robert. A Franco Maçonaria: origem, história, influência. São Paulo: Ibrasa, 1990.

GOULD, Robert Freke. História concisa da Maçonaria, Vol I. Tradução de José Filardo. [s.l.:s.n]

MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons. Tradução: Sociedade das Ciências Antigas revisado por Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

PALOU, Jean. A Franco Maçonaria Simbólica e Iniciática. Tradução de Edilson Alkmin Cunha. 5 Ed.  São Paulo: Editora Pensamento, 2012.

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