O termo Companheiro Maçom é originado da expressão inglesa Fellow-Craft, companheiro de arte ou ofício. Esta terminologia era utilizada durante o período denominado Operativo e foi incorporada pela Maçonaria dita Especulativa, com seu viés esotérico e iniciático. Afinal, a ideia de progressismo em Maçonaria está associada justamente com a graduação de conhecimentos, o que remonta ao esoterismo maçônico da Escada de Jacó, tradicional símbolo da Ordem.
Sucedendo o Grau de Aprendiz, ou
Grau1, O Grau de Companheiro é simbolizado primordialmente pela Pedra Cúbica, o
oposto e evolução da sua fase anterior, que era a de Pedra Bruta. A Pedra
Cúbica é pedra burilada, polida e perfeita, pronta para ser ajustada na Grande
Obra de construção do Templo. Para isso, o Maçom utilizará outras ferramentas
além das conhecidas no Grau de Aprendiz. Outrossim, o trabalho do Companheiro
acontece na Coluna do Sul, parte iluminada pelos raios solares.
A correlação entre iluminação e
Companheiro Maçom está representado pelo símbolo inerente ao Grau chamado Estrela
Flamejante de Cinco Pontas. Este símbolo é originalmente advindo dos
círculos ocultistas da Idade Média, o conhecido ocultista alemão Cornélio
Agrippa de Nettesheim (1486-1533) teria sido seu inventor ou pelo menos seu
difusor. Sua presença é definitivamente relacionada ao espiritualismo esotérico
do Ritual que a adota. O pensamento hermetista que sintetiza os usos e
atributos desta simbologia estava embasado numa interatividade entre homem e
Deus pautada na magia e teurgia. O símbolo foi adotado pela Maçonaria através
de Théodore Henri, barão de Tschoudy (1727-1769), mas a partir de 1737, este é um símbolo comum à Maçonaria Especulativa, não obstante nem todos os
Ritos o adotam. Em Resumo, a Estrela Flamejante, símbolo inerente ao
Grau de companheiro, possui uma função esotérica espiritualista que demarca a
presença iluminativa divina no Homem, exegese concatenada com a Coluna
iluminada do Sul.
Devido a Estrela Pentalfa, outro
símbolo inerente é a letra G. No R.E.A.A. , o símbolo sintetiza varias
qualidades atribuídas ao Companheiro. A instrução para os Companheiros cabe ao
1º Vigilante, sendo o 2 º Vigilante responsável pela Coluna do Norte, o que performa
o X da Cruz de Santo André, esotericamente. A instrução para os portadores da
síntese do G é a iminência para o Grau de Mestre, critério de assento no
Oriente. Por isso, categoricamente, nenhum Maçom pode estar na espacialidade do
Oriente sem antes contemplar a Estrela Flamejante com o G e receber a instrução
do 1º Vigilante.
A transposição da Coluna do Norte
para a Coluna do Sul é denominada de Elevação. À Loja de Companheiro temos a leitura
reverencial do livro do profeta Amós (Am 7.7-8), presente no Livro da Lei. O painel
Alegórico do Grau nos obsequia com outras referências bíblicas, a exemplo da
Palavra de Passe do Grau. O Companheiro é o Maçom definitivamente evoluído ou Iniciado
definitivo. A paternidade Teísta da Maçonaria está sempre associada aos elementos
auferidos na Palavra Revelada.
PEQUENA DISCUSSÃO AO GRAU DE COMPANHEIRO:
APONTAMENTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS.
Defensor da teoria historiográfica
maçônica da transição, ou seja, que a Maçonaria dita Operativa se transformou
gradualmente em Maçonaria Especulativa, posicionamento majoritário entre os historiadores
maçons, Allec Mellor, em seu Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons,
expõe que o Grau de Companheiro era o único da Maçonaria, sendo posteriormente
dele derivado o Grau de Aprendiz (Entered Apprentice) inscrito, a nível
inferior e, em nível superior, a Maestria. O Companheiro é o operário
qualificado. O símbolo capital é a Estrela Resplandecente com a
letra G (1989:94). Desse modo, o primeiro dos Altos Graus em Maçonaria foi o de
Mestre Maçom, pois dos dois que havia na Ordem, apareceu o terceiro, o de
Mestre, o superior aos demais.
Para José Castellani, no Dicionário
Etimológico, o Grau de Companheiro é o Grau mais importante do
simbolismo, pois representa o fim da escalada profissional nas confrarias de
artesãos ou Maçonaria de Ofício. Na Maçonaria Operativa ou na Maçonaria dos
Aceitos, havia apenas Aprendizes e Companheiros, destes últimos se destacavam
os escolhidos para serem Mestres de obras. O Grau de Mestre Maçom foi criado em
1724, mas estabelecido na norma obediencial em 1738 (2004:119). Filosoficamente,
ainda em Castellani, na Cartilha do Companheiro, escrito ao lado de Raimundo
Rodrigues, o Grau de Companheiro reproduz a mística das Escolas de Mistério da
Antiguidade, a exemplo das Eleusínias e do Pitagorismo. O Grau de Companheiro,
esotericamente, alvitra a continuidade do símbolo da espiga do milho nos
Mistérios de Elêusis, símbolo do trabalho, da abundância e dos ciclos da vida
ou da imortalidade da alma, pregada na doutrina mística da Maçonaria; do
Pitagorismo, o qual os três graus eram representativos para intuição,
análise e síntese, a Maçonaria faz do Aprendiz o domínio da intuição, e do Companheiro,
o domínio do método analítico, a fase mais avançada na evolução racional do
homem (2004:29). Deste modo temos, no discurso de Castellani e Raimundo Rodrigues,
o cumprimento histórico e existencial da Maçonaria como sendo continuidade dos Antigos
Mistérios.
De acordo com Denizart Silveira
de Oliveira Filho, em Da Elevação rumo à Exaltação, o Companheiro na
Maçonaria Especulativa cumpre o papel institucional e místico de síntese
histórica e doutrinária na qual se baseiam todas as fases de ascensão do obreiro
ao mais alto grau de qualquer Rito (2013:26). Com efeito, a presença na
Coluna do Sul é ponta de lança para o aperfeiçoamento proporcionado a partir do
Oriente.
Tomando por base o método praticado
por Harry Carr, em seu Ofício do Maçom, a data de registro de um documento
a respeito de usos e costumes na Maçonaria não corresponde a um marco inicial.
Por exemplo, o Grau de Mestre costumeiramente ensinado como nascido documentalmente
entre 1724 ou 1725, sugere o autor, na verdade pôde estar presente nas Lojas em
alguma data entre 1711 e 1725. Desta forma o documento não fala por si,
sendo interessante considerar problematizações às atas e a suposição de que
antes de ser consolidado, o uso e costume poderia ter sido registrado em algum
documento perdido, considerando que a Maçonaria é adepta do tradicionalismo e indiferente
a modismo. As evidencias documentais utilizadas pelo autor para discutir a legitimidade
do Grau de Companheiro são datadas do início do século XVI, os Estatutos de
Trabalhadores na Inglaterra e o Selo da Causa dos Maçons e Artífices em
Edimburgo, lido junto com os Estatutos Schaw e as Atas de Loja de 1598 e
1599. Estes documentos confirmam a existência de um sistema de dois graus, um
para Aprendiz e outro para o Companheiro maçom (ou Mestre). Documentalmente,
a primeira concessão para Grau de Aprendiz está nas atas da Aitchinson´s Haven
Lodge, na Escócia, a qual está escrita que Alexander Cubie se tornou
Aprendiz, datado de 9 de janeiro de 1598. Nesta mesma data, a referida Loja
faz a concessão do grau de Companheiro Maçom a Robert Widdersone, feito
companheiro de Ofício. A documentação para o Terceiro Grau mais antiga da
Maçonaria regular é a mencionada na Loja Dumbarton Kilwinning, Escócia, erigida
em 1726, a qual na reunião de fundação estavam presentes o Grão-Mestre (isto
é, o Venerável Mestre) com sete Mestres Maçons, seis Companheiros e três Aprendizes.
Esta reunião, na data de 25 de março de 1726, marcou o progresso de Gabrael Portenfield,
que em janeiro apareceu na reunião como Companheiro, sendo admitido unanimemente
e recebido como Mestre da Fraternidade, renovou seu juramento(...). Para
Carr, o documento certificou que Terceiro Grau é o progresso do Companheiro
Maçom para Mestre Maçom, sendo ainda que o juramento era característica do esoterismo
da Maçonaria na Escócia (2012:395). Porém, o autor ressalva que esta documentação
não representam as datas exatas da introdução das cerimônias, ou seja, elas
avalizam apenas a existência, à época, dos Graus que provavelmente existiam bem
antes da documentação.
Problematizando o conceito de
Grau em Maçonaria, Francisco Carvalho (Xico Trolha), no livro Companheiro
Maçom, diz que na Maçonaria Operativa, pelo que está nos Manuscritos da
Casa de Edimburgo, de 1696, a menção de que Aprendizes e Companheiros trabalhando
juntos, não significa Graus, mas apenas um tratamento, sendo,
outrossim, a palavra Mestre relativo a cargo na associação. As formas de
tratamento foram transformadas em graus com ingresso de Maçons Aceitos.
Para o autor, os graus foram criados entre 1670 e 1680, estranhamente,
porém, ao apresentar a exposure de Samuel Prichard de 1730, pretende defender
que não havia o uso do termo Companheiro em Maçonaria no século XVIII, preferindo
o uso dos termos Aprendizes, Juniors e Sêniors (sic) (2006:33-38). Curiosamente,
o autor utiliza uma fonte de 1725 para justificar a Exaltação a Mestre
Maçom de três irmãos, entres eles Charles Cotton e Papillon Bull (Harry Carr
também menciona este documento de 1725, mas comunica que esta mudança para o
Grau de Mestre não é numa Loja Regular, mas sim na Sociedade Apolônia para amantes
da Música e Arquitetura. Ou seja, não era sequer uma Loja maçônica (cf p. 395).
A fonte de 1725 apenas certifica que havia este grau na Maçonaria, mas não que
foi o início da Exaltação do grau). Assim sendo, se levarmos em consideração o posicionamento
defendido por Carvalho que não havia Grau de Companheiro no século XVIII, então
haveria apenas os Graus de Aprendizes (sic) e Mestre!
Para finalizarmos este estudo, analisemos o Poema Regius, escrito canônico maçônico, zelado pelo British Museum, datado entre os séculos XIV e XV, dividido em nove partes e transcrito por Robert Ambelaim. Este é um dos documentos mais importantes da Maçonaria Operativa. Neste documento há considerações razoáveis sobre a existência das categorias Aprendiz, Companheiro e Mestre. Na primeira parte há uma narrativa que encontra a origem da Maçonaria nos tempos do grego Euclides. Nela há referências à Geometria e que os estudantes desta arte, integrada à Maçonaria, eram chamados de Companheiros e seus professores eram chamados de Mestres. Na segunda parte há uma série de ditames, dentre os quais temos o 15º que diferencia os cargos, ou tratamentos, entre Companheiros e Mestres, sendo estes instados a ser honestos para com àqueles. Na terceira parte, a dos deveres morais e religiosos, os artigos que definem Companheiros e Mestres está mais costumaz. Nela temos o 1º que regula o serviço do Maçom como amante a Deus, à Igreja, e seus Mestre e Companheiros; o 3º que zela pelo silêncio e sigilo do Aprendiz com relação ao seu Mestre e Companheiros e toda a Loja; o 7º e o 8º exige do Aprendiz comprometimento moral e familiar para com os Companheiros e Mestre; o 12º comenta que nas Assembleias Gerais devem contar com a presença dos Mestres e Companheiros, além de outras autoridades do distrito; e no 14º temos que o filiado que deseja fazer parte da corporação deve prestar juramento perante o Mestre da loja e aos Companheiros a obediência ao Rei e as leis do país (1990: 196-197). Estes artigos demonstram uma certa independência e graduação entre duas categorias, Companheiro e Mestre, sendo que ao Mestre cabia o ensino aos Aprendizes e parece estar bem distintas as qualidades de cada qual, sendo o Mestre não apenas um Companheiro referencial mas um encargo de responsabilidade característico de função elevada na Loja.
REFERÊNCIAS
AMBELAIN, Robert. A Franco Maçonaria: origem, história,
influência. São Paulo: Ibrasa, 1990.
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria
e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2012.
CARR, Harry. O Ofício do Maçom. Tradução de Carlos Raposo.
São Paulo: Madras, 2012.
CARVALHO, Assis. Companheiro Maçom. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica
A TROLHA, 2006.
CASTELLANI, José. Dicionário Etimológico Maçônico. 2 ed.
Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2004.
CASTELLANI, José; RODRIGUES, Raimundo. Cartilha do Companheiro.
3 ed. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2004.
MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos
Franco-Maçons. Tradução: Sociedade das Ciências Antigas revisado por Marina
Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de. Da Elevação rumo à
Exaltação: Comentários às instruções do Ritual de Companheiro Maçom do Rito
Escocês Antigo e Aceito. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2013.
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