Prof. Dr. Ulrich Lüke, nascido em 1951, estudou biologia,
filosofia e teologia. O renomado teólogo é professor de Teologia Sistemática e
Diretor do Instituto de Teologia Católica da Universidade Técnica de Aachen.
Autor de uma grande variedade de publicações.
O Deísmo tem como pressuposto a
interpretação que defende que o mundo é uma criação divina, mas exclui
qualquer intervenção de Deus após o ato criativo. O mundo, criado
perfeitamente, não necessita de qualquer intervenção. A partir desta
indiferença pós Criação, o Deísmo não considera a influência salvífica do mundo
por Deus, seja sobre seu povo em particular, seja na história da humanidade.
Esta forma de pensamento, fundamentada no estoicismo e no epicurismo, foi uma
tentativa, entre os séculos XVII e XVIII, de estar contextualizado com
cientificismo da época. A intenção era de responder à lei de conservação de
energia num sentido determinista. Desse modo, adequando-se à ciência,
parecia excluir a possibilidade de qualquer ação de Deus neste mundo. O
método utilizado foi o da teologia natural, que não está baseada na finalidade
religiosa do Revelacionismo bíblico, o dispensando. O Deísmo é comumente tido
como teologia do iluminismo ou conceito polêmico interconfessional no
sentido de uma crítica às igrejas, às instituições e à revelação.
LÜKE, Ulrich. Deísmo. In : BEINERT, Wolfgang;
STUBENRAUCH,Bertram (org). Novo Léxico da Teologia dogmática católica. Tradução de
Markus A. Hediger. Petrópolis: Vozes, 2015.p.140-141.
ANÁLISE DA CONCEITUAÇÃO
O autor faz a definição
corretamente alinhada com o pensamento geral sobre o Deísmo. A separação entre
homem e Deus, aqui de dimensão universalista, incluindo todo o mundo e por todo
o tempo, foi definido de modo bastante esclarecedor. Não fica muito espaço
teórico para entender que o Deísmo seja conveniente ao espiritualismo, à
espiritualidade ou religiosidade. O Deísmo está afinado e preocupado em responder
a uma discussão científica que estaria relacionada com a origem do mundo, a
“lei de conservação de energia”. O catalisador do Deísmo não era a “Palavra de
Deus”, mas a palavra dos cientistas da época. Toda convenção espiritualista
baseada tradicionalmente na religião ou religiosidade está dissociado com o
Deísmo.
As bases teóricas para o Deísmo,
de acordo com Lüke, são o epicurismo e o estoicismo. Para Abbagnanno, no
dicionário de filosofia, o epicurismo possui características tais como o
sensacionismo, critério de verdade e de bem, este relativo ao prazer
individual, e o semi-ateísmo, pois Epicuro entendia que os deuses existiam,
mas não desempenhavam papel nenhum na formação e no governo do mundo; o
estoicismo, superestima a razão como infalível e de direito natural.
(2000:337;375). Temos a peculiaridade, lógico-argumentativa, do Deísmo
relacionada ao individualismo e ao antropocentrismo. A teologia natural, que é
uma forma tomar conhecimento de Deus indiferentemente à Palavra Relevada, é o
método ético de que o Deísmo foi lançado na Inglaterra, mas com o
amadurecimento da ideia no Iluminismo, especialmente o francês, a relação
religiosa entre homem e Deus é perdida por causa da noção de ininteligibilidade
do homem com Deus. Afinal, o Deísmo é um instrumento de crítica utilizado
contra a religiosidade.
O Deísmo tenta explicar a origem
do mundo através da teoria científica da “conservação de energia”, mas não tem
capacidade de explicar a origem das formas planetárias ou do universo. Para
isso, apenas apela para a crença na existência de Deus. Com o evolucionismo, a
ideia de "Big Bang" e da evolução das espécies são as respostas dita cientificas,
ou pelo menos aceitas pelo clube científico, de origem das coisas e da
humanidade. Ao longo do tempo, estas teorias foram sendo adequadas tendo como
base a recusa de explicação “religiosa”. Por isso, os evolucionistas
implementam a ideia de agnosticismo, rejeitando a nomenclatura Deísta.
APLICABILIDADE MAÇÔNICA
(R.E.A.A.)
A Maçonaria tradicionalmente
reverencia Deus como sendo um ser pessoal, nomeado por Grande Arquiteto do
Universo, simbolizado pelo Delta Luminoso, pelo Nó Central da Corda de 81 Nós e
considerado o Princípio Criador, pelo símbolo do Olho Onividente, vigia da
Criação. Todos os símbolos
judaico-cristãos fazem referências à ideia de Deus teísta, por exemplo os padroeiros
São João Batista, São João Evangelista, os Quatro Coroados; ideia de Templo –
contemplação, leituras bíblicas, etc.
Esta é uma herança dos Operativos,
e a Maçonaria Especulativa, em suas Constituições mantiveram a tradição, com
todo o sentido místico e esotérico. A relação do homem com Deus, em termos de
reverência cerimonial, é a substância do Ritual maçônico, sem qual não faria o
menor cabimento. Toda a simbologia maçônica, baseada nos Mistérios Antigos,
possui uma relação intrínseca com o pensamento das primeiras civilizações, a interação
com o Sagrado, não seu afastamento.
O nome é a designação de uma pessoa. A Maçonaria nomeia Deus como sendo Grande Arquiteto do Universo. Este nome tem como princípio uma fundação Revelada na Bíblia, o respaldo está em Hebreus 11.10, sendo que as representações de Deus eram com ferramentas de arquiteto nas igrejas medievais. A nomenclatura G.A.D.U. representa, de acordo com Joaquim Gervásio de Figueiredo, em Dicionário de Maçonaria, o Deus como Ser Supremo em que se alicerçam todas as religiões (2016:115). A designação G.A.D.U., de acordo com Rizzardo da Camino, no Dicionário Maçônico, é o modelo ao estilo judaico de nomear Deus, para estes Deus é Jeová, no mundo maçônico é Grande Arquiteto do Universo (2008:141). O Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, de Nicola Aslan, ensina que Deus é o Ser Supremo admitido em todas as religiões (2012:381) e que o G.A.D.U. é a fórmula maçônica afirmada solenemente pelo Iniciado como crente em Deus. Em carta da G.L.U.I. à G.L. do Uruguai, em 1950, temos que A verdadeira Maçonaria é um culto para conservar e defender a crença na existência de Deus (...) mas deve ser uma religião monoteísta que exija a crença em um Deus como ser Supremo (...) e deve ser uma religião possuindo um livro sagrado sobre o qual o Iniciado possa prestar o seu juramento à Ordem. Com relação ao R.E.A.A., Aslan cita que Paul Naudon considera, em 1959, que a G.L da França aceita ser o G.A.D.U. seja um símbolo, Mas este símbolo encobre uma fé: Fé na existência da Perfeição e na possibilidade para o homem de aceder ao conhecimento desta Perfeição pela Iniciação, isto é, por participação (2012:541). O G.A.D.U. não é, definitivamente, um Deus, para o tal Deísmo, mas sim para o Teísmo, assim também à Maçonaria.
CONCLUSÃO
O Deísmo, de acordo com o
professor Ulrich Lüke, é uma filosofia que faz da divindade criadora do mundo indiferente
à sua Criação. Esta indiferença, que separa Criador e criatura, impede que haja
qualquer compreensão de religiosidade, esta entendida etimologicamente como
sendo a ligação entre homem e Deus. Qualquer discurso que encete a Maçonaria
como Deísta, condena a Ordem a perder toda sua substância tradicional, mística
e esotérica.
O Deísmo, além de esfriar e
separar o homem de seu Criador, possui um arcabouço individualista, baseado no epicurismo
e no estoicismo, que arruína qualquer ideia de fraternidade e filantropia, tradições
sociais maçônicas. Sem dúvidas, o Deísmo, estranho às Constituições de Anderson
, fundadoras da Maçonaria Obediencial, é um enxerto discursivo promulgado principalmente
por anti maçons, como é o caso de Bernard Fay, como expõe Allec Mellor, em seu
Dicionário de Maçonaria e de Franco
Maçons (1989:103). Simpatizantes do pós modernismo ou da exclusão da nomenclatura
G.A.D.U. do meio maçônico tendem a apoiar o Deísmo, outros o fazem por confusão
teórica. Os anti religiosos, metediços na Maçonaria, preferem, em suas aparições,
a usar o termo “agnóstico” como sendo uma sucessão do Deísmo e mais afinada com
o “cientificismo”.
A Maçonaria em lógica iniciática
e simbólica, tradicional em sua fundamentação nos Mistérios Antigos, calcada na
mística e no esoterismo, especialmente o R.E.A.A., com seu hermetismo iniciático
harmonizado com a tradição judaico-cristã, tem a definição de Deus baseada na
religiosidade do homem à seu Princípio Criador, como está em seus parâmetros legais
e morais das Constituições de Anderson e Congresso de Lausanne, os quais nenhuma
alteração foi feita ao sabor do vento de corrupção política ideológica em nenhuma
hipótese, nem de devaneios conspiratórios ou rivalidade causadora de insubordinação
com a Regularidade maçônica. O cumprimento, a humildade com sua base religiosa
limiar e sua proveniência estão na reverencia maçônica à Gloria do Arquiteto do
Universo simbolizadas como verdadeira e fiel pura Maçonaria.
ABBAGNANNO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução de
Ivone Castillho Benedetti.4 ed. São Paulo, Martins Fontes, 2000.
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria
e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2012.
CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 5 ed. São Paulo:
Madras, 2018.
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria. 2
ed. São Paulo: Pensamento, 2016.
JAPIASSÚ, H; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 4
ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 2006.
MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos
Franco-Maçons. Tradução: Sociedade das Ciências Antigas revisado por Marina
Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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