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quarta-feira, 24 de março de 2021

DEFINIÇÃO DE DEÍSMO I : POR ULRICH LÜKE

 


Prof. Dr. Ulrich Lüke, nascido em 1951, estudou biologia, filosofia e teologia. O renomado teólogo é professor de Teologia Sistemática e Diretor do Instituto de Teologia Católica da Universidade Técnica de Aachen. Autor de uma grande variedade de publicações.

O Deísmo tem como pressuposto a interpretação que defende que o mundo é uma criação divina, mas exclui qualquer intervenção de Deus após o ato criativo. O mundo, criado perfeitamente, não necessita de qualquer intervenção. A partir desta indiferença pós Criação, o Deísmo não considera a influência salvífica do mundo por Deus, seja sobre seu povo em particular, seja na história da humanidade. Esta forma de pensamento, fundamentada no estoicismo e no epicurismo, foi uma tentativa, entre os séculos XVII e XVIII, de estar contextualizado com cientificismo da época. A intenção era de responder à lei de conservação de energia num sentido determinista. Desse modo, adequando-se à ciência, parecia excluir a possibilidade de qualquer ação de Deus neste mundo. O método utilizado foi o da teologia natural, que não está baseada na finalidade religiosa do Revelacionismo bíblico, o dispensando. O Deísmo é comumente tido como teologia do iluminismo ou conceito polêmico interconfessional no sentido de uma crítica às igrejas, às instituições e à revelação.

LÜKE, Ulrich. Deísmo. In : BEINERT, Wolfgang; STUBENRAUCH,Bertram (org). Novo Léxico da Teologia dogmática católica. Tradução de Markus A. Hediger. Petrópolis: Vozes, 2015.p.140-141.

ANÁLISE DA CONCEITUAÇÃO

O autor faz a definição corretamente alinhada com o pensamento geral sobre o Deísmo. A separação entre homem e Deus, aqui de dimensão universalista, incluindo todo o mundo e por todo o tempo, foi definido de modo bastante esclarecedor. Não fica muito espaço teórico para entender que o Deísmo seja conveniente ao espiritualismo, à espiritualidade ou religiosidade. O Deísmo está afinado e preocupado em responder a uma discussão científica que estaria relacionada com a origem do mundo, a “lei de conservação de energia”. O catalisador do Deísmo não era a “Palavra de Deus”, mas a palavra dos cientistas da época. Toda convenção espiritualista baseada tradicionalmente na religião ou religiosidade está dissociado com o Deísmo.

As bases teóricas para o Deísmo, de acordo com Lüke, são o epicurismo e o estoicismo. Para Abbagnanno, no dicionário de filosofia, o epicurismo possui características tais como o sensacionismo, critério de verdade e de bem, este relativo ao prazer individual, e o semi-ateísmo, pois Epicuro entendia que os deuses existiam, mas não desempenhavam papel nenhum na formação e no governo do mundo; o estoicismo, superestima a razão como infalível e de direito natural. (2000:337;375). Temos a peculiaridade, lógico-argumentativa, do Deísmo relacionada ao individualismo e ao antropocentrismo. A teologia natural, que é uma forma tomar conhecimento de Deus indiferentemente à Palavra Relevada, é o método ético de que o Deísmo foi lançado na Inglaterra, mas com o amadurecimento da ideia no Iluminismo, especialmente o francês, a relação religiosa entre homem e Deus é perdida por causa da noção de ininteligibilidade do homem com Deus. Afinal, o Deísmo é um instrumento de crítica utilizado contra a religiosidade.

O Deísmo tenta explicar a origem do mundo através da teoria científica da “conservação de energia”, mas não tem capacidade de explicar a origem das formas planetárias ou do universo. Para isso, apenas apela para a crença na existência de Deus. Com o evolucionismo, a ideia de "Big Bang" e da evolução das espécies são as respostas dita cientificas, ou pelo menos aceitas pelo clube científico, de origem das coisas e da humanidade. Ao longo do tempo, estas teorias foram sendo adequadas tendo como base a recusa de explicação “religiosa”. Por isso, os evolucionistas implementam a ideia de agnosticismo, rejeitando a nomenclatura Deísta. 

APLICABILIDADE MAÇÔNICA (R.E.A.A.)

A Maçonaria tradicionalmente reverencia Deus como sendo um ser pessoal, nomeado por Grande Arquiteto do Universo, simbolizado pelo Delta Luminoso, pelo Nó Central da Corda de 81 Nós e considerado o Princípio Criador, pelo símbolo do Olho Onividente, vigia da Criação.  Todos os símbolos judaico-cristãos fazem referências à ideia de Deus teísta, por exemplo os padroeiros São João Batista, São João Evangelista, os Quatro Coroados; ideia de Templo – contemplação, leituras bíblicas, etc.

Esta é uma herança dos Operativos, e a Maçonaria Especulativa, em suas Constituições mantiveram a tradição, com todo o sentido místico e esotérico. A relação do homem com Deus, em termos de reverência cerimonial, é a substância do Ritual maçônico, sem qual não faria o menor cabimento. Toda a simbologia maçônica, baseada nos Mistérios Antigos, possui uma relação intrínseca com o pensamento das primeiras civilizações, a interação com o Sagrado, não seu afastamento.

O nome é a designação de uma pessoa. A Maçonaria nomeia Deus como sendo Grande Arquiteto do Universo. Este nome tem como princípio uma fundação Revelada na Bíblia, o respaldo está em Hebreus 11.10, sendo que as representações de Deus eram com ferramentas de arquiteto nas igrejas medievais. A nomenclatura G.A.D.U. representa, de acordo com Joaquim Gervásio de Figueiredo, em Dicionário de Maçonaria, o Deus como Ser Supremo em que se alicerçam todas as religiões (2016:115). A designação G.A.D.U., de acordo com Rizzardo da Camino, no Dicionário Maçônico, é o modelo ao estilo judaico de nomear Deus, para estes Deus é Jeová, no mundo maçônico é Grande Arquiteto do Universo (2008:141). O Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, de Nicola Aslan, ensina que Deus é o Ser Supremo admitido em todas as religiões (2012:381) e que o G.A.D.U. é a fórmula maçônica afirmada solenemente pelo Iniciado como crente em Deus. Em carta da G.L.U.I. à G.L. do Uruguai, em 1950, temos que A verdadeira Maçonaria é um culto para conservar e defender a crença na existência de Deus (...) mas deve ser uma religião monoteísta que exija a crença em um Deus como ser Supremo (...) e deve ser uma religião possuindo um livro sagrado sobre o qual o Iniciado possa prestar o seu juramento à Ordem. Com relação ao R.E.A.A., Aslan cita que Paul Naudon considera, em 1959, que a G.L da França aceita ser o G.A.D.U. seja um símbolo, Mas este símbolo encobre uma fé: Fé na existência da Perfeição e na possibilidade para o homem de aceder ao conhecimento desta Perfeição pela Iniciação, isto é, por participação (2012:541). O G.A.D.U. não é, definitivamente, um Deus, para o tal Deísmo, mas sim para o Teísmo, assim também à Maçonaria.

CONCLUSÃO

O Deísmo, de acordo com o professor Ulrich Lüke, é uma filosofia que faz da divindade criadora do mundo indiferente à sua Criação. Esta indiferença, que separa Criador e criatura, impede que haja qualquer compreensão de religiosidade, esta entendida etimologicamente como sendo a ligação entre homem e Deus. Qualquer discurso que encete a Maçonaria como Deísta, condena a Ordem a perder toda sua substância tradicional, mística e esotérica.

O Deísmo, além de esfriar e separar o homem de seu Criador, possui um arcabouço individualista, baseado no epicurismo e no estoicismo, que arruína qualquer ideia de fraternidade e filantropia, tradições sociais maçônicas. Sem dúvidas, o Deísmo, estranho às Constituições de Anderson , fundadoras da Maçonaria Obediencial, é um enxerto discursivo promulgado principalmente por anti maçons, como é o caso de Bernard Fay, como expõe Allec Mellor, em seu Dicionário de Maçonaria  e de Franco Maçons (1989:103). Simpatizantes do pós modernismo ou da exclusão da nomenclatura G.A.D.U. do meio maçônico tendem a apoiar o Deísmo, outros o fazem por confusão teórica. Os anti religiosos, metediços na Maçonaria, preferem, em suas aparições, a usar o termo “agnóstico” como sendo uma sucessão do Deísmo e mais afinada com o “cientificismo”.

A Maçonaria em lógica iniciática e simbólica, tradicional em sua fundamentação nos Mistérios Antigos, calcada na mística e no esoterismo, especialmente o R.E.A.A., com seu hermetismo iniciático harmonizado com a tradição judaico-cristã, tem a definição de Deus baseada na religiosidade do homem à seu Princípio Criador, como está em seus parâmetros legais e morais das Constituições de Anderson e Congresso de Lausanne, os quais nenhuma alteração foi feita ao sabor do vento de corrupção política ideológica em nenhuma hipótese, nem de devaneios conspiratórios ou rivalidade causadora de insubordinação com a Regularidade maçônica. O cumprimento, a humildade com sua base religiosa limiar e sua proveniência estão na reverencia maçônica à Gloria do Arquiteto do Universo simbolizadas como verdadeira e fiel pura Maçonaria.

À.G.D.G.A.D.U
E. L. de Mendonça
SALUS SAPIENTIA STABILITA

BIBLIOGRAFIA

ABBAGNANNO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução de Ivone Castillho Benedetti.4 ed. São Paulo, Martins Fontes, 2000.

ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2012.

CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 5 ed. São Paulo: Madras, 2018.

FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria. 2 ed. São Paulo: Pensamento, 2016.

JAPIASSÚ, H; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 4 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 2006.

MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons. Tradução: Sociedade das Ciências Antigas revisado por Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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