O ateísmo é uma prática que era totalmente estranha à Maçonaria
Especulativa ou a Lojas Obedienciais desde quando se concebe a existência da
Maçonaria em tempos Operativos. O título Grande Arquiteto do Universo estava bem
entendido e respeitado até que mudanças perjuras desafiem a Maçonaria. A falta
do reconhecimento indiscriminado ao G.A.D.U. deu oportunidades para que
descrentes estivessem à par das sessões maçônicas e que suas posições ideológicas
subordinassem a tradição e a ritualística maçônica.
MAÇONARIA E ATEÍSMO: UMA ANÁLISE
A Maçonaria é uma instituição que
em suas fases operativa e especulativa sempre reverenciou o sagrado. O
esoterismo maçônico em nenhum momento tornou irrelevante a influência do que é
denominado Grande Arquiteto do Universo. A crença em Deus e na imortalidade da
alma foram pré-requisitos para que o profano fosse aceito para a Iniciação
maçônica. Esta regulamentação é parte do desenvolvimento da Maçonaria em
resposta à filosofia deísta que atacava a Ordem em sua essência. Este Deus é
intervencionista na História e providencialista. Por isso, a complementação da
imortalidade da alma, entendido que esta é uma emanação do Criador. Na tradição
cristã, por exemplo, isso faz dos homens filhos de Deus; nas outras concepções
religiosas esta intimidade entre homem e Deus são concretizadas de modo
diverso. A Maçonaria, respeitando esta afinidade, ou religiosidade, cumpre com
honradez sua própria história e oferece aos maçons um acompanhamento espiritual
através de doutrinas metodicamente estudadas através do simbolismo.
Com a expansão da Maçonaria para
fora do território inglês, local onde a Maçonaria experimentava transformações
para o especulativismo, motivações políticas foram se misturando com a proposta
maçônica de desenvolvimento espiritual do homem. A Maçonaria stuartista,
denominada jacobita, implementou motivações políticas devido perseguições que
sofriam diante das mudanças políticas que exilavam os Stuarts. No exílio, os
Stuarts, recebidos da França, utilizavam a Maçonaria para planejar revanchismo
e este foi o cartão de visita dado aos franceses. A Grande Loja de Londres, ao
inaugurar a organização obediencial, afastou que motivações políticas ou
religiosas separasse os maçons. Para um bom entendimento, sabemos que o ultimo
rei legítimo stuartista foi James II, deposto pela Revolução Gloriosa por
motivos de cunho religioso. O medo de um alinhamento entre católicos insulares
e continentais que representaria perseguições aos protestantes era devido o
histórico de lutas entre cristãos inaugurada pela Reforma. A religião em que
todos concordavam era o cristianismo, mas o sectarismo religioso e político
causava conflitos. A Grande Loja tentou evitar isso com a Obediência
Especulativa. Não havia, de modo nenhum, qualquer flerte ou aceitação passiva a
ateus ou a filosofia deísta, mesmo que fosse a versão inglesa, muito parecida
com o teísmo.
A perversão que mistura política
com religião no meio maçônico não ficou limitada ao caso jacobita. A rivalidade
entre França e Inglaterra instigou, ainda durante o século XVIII, um rompimento
na instância obediencial na decisão de cindir com a Grande Loja inglesa e
inaugurar o Grande Oriente de França, com ações que flertam à bizarrices e
extravagâncias que confundiam os interessados e estudiosos da Maçonaria,
dificultando definições mais acertadas sobre a Ordem. Foi desta anomia que
começaram aventar maçonaria de loja espúria e maçonaria politiqueira
revolucionária, deste meio começara a se falar em ateísmo na Maçonaria. Com a
tredice cujo o lema é “liberdade absoluta de consciência”, o ateísmo foi
instalado na Maçonaria à moda francesa, terrível influência no esvaziamento
espiritualista da Maçonaria. A perfídia deste movimento político, nesta
obediência maçônica, causou problemas incomensuráveis à Maçonaria universal,
com conflitos infamantes contra a religião cristã, incentivando a formação de
lojas desprovidas do carisma religioso maçônico e com envolvimento em
conspirações noutros países da Europa. A falta para com a obediência inglesa
inspirara entidades estranhas a adotarem nome de “maçonaria”, mas foi a
política acima de qualquer coisa que evocou o ateísmo.
CONCEITO DE ATEÍSMO
Ateísmo significa sem Deus,
doutrina que nega a existência de Deus, sobretudo a de um Deus pessoal. Pode
ser uma simples atitude de negação da existência de Deus. Com esta
definição de Hilton Japiassú e Danilo Marcondes, percebemos que o antônimo de
ateísmo é teísmo, seu principal oponente. O deísmo não é uma definição clara
que difere totalmente com o ateísmo, por isso o teísmo é distanciado de ambos
conceitos. Os autores ainda explanam que os principais representantes do
ateísmo são o materialismo histórico-marxista, o neopositivismo lógico que nega
as religiões e as metafísicas em Bertrand Russel e Nietsche (2006:19).
No Dicionário de Filosofia, de
Nicola Abbagnanno, ateísmo é a negação da causalidade de Deus. O ateísmo
foi debatido nos templos de Platão sendo a negação da divindade pelos
materialistas que acreditavam que os elementos, por exemplo, água, ar e fogo precediam
a alma ou esta era secundária. Nisto temos a alma como sendo uma prerrogativa
para a existência de Deus, afirmação maçônica para a regularização obediencial.
Platão, ainda de acordo com Abbagnanno, confere que ateísmo também seja a
crença que a divindade existe, mas não se ocupa das coisas humanas, ideia que
transforma a divindade em algo preguiçoso e indolente. Esta definição é
correlato ao deísmo que será concebido no século XVIII, principalmente no
Iluminismo francês. A última forma de ateísmo seria a crença que o ser divino
propicia-se com doações e oferendas, sendo esta a pior forma pois faz a
divindade comparado ao homem em ilicitude. Na Idade Moderna, o ateísmo está
baseado no materialismo como sendo princípio de tudo. Para Hume, por exemplo,
Deus não existe comprovadamente pois não seria reduzido à matéria para ser
experimentado. Além disso, provas
cosmológicas seriam inválidas pois o mundo sendo finito e imperfeito, sua causa
também seria finita e imperfeita. Este não era, porém, um ateísmo professado. O
denominado ateísmo professado ou pessimismo estão, por exemplo, em
Schopenhauer, o qual o mal e a infelicidade são provas que Deus não existe; e
Sartre, que critica a liberdade humana em crer em Deus, causa da falência da
humanidade ( 2000:87-88).Não parece que um ateu convicto precise da Maçonaria.
De acordo com Coda, no Léxicon, o ateísmo é a negação teórica e/ou prática da existência de Deus. Sob o aspecto moderno, as formas de ateísmo são a da não experiência do homem perceber a presença de Deus ou a livre manifestação de rejeição do reconhecimento. A fenomenologia do ateísmo moderno está manifestado nas: negação explícita de Deus, agnosticismo, neopositivismo lógico, cientismo, relativismo, historicismo, niilismo, antropocentrismo, entre outros. As causas para o ateísmo moderno são: causa moral, reação crítica contra as religiões, a superestruturação da imanência histórica e a não tolerância ao mistério de Deus. O ateísmo sistemático está baseado em tópicos da modernidade: a autonomia do homem como afirmação da liberdade, a emancipação do sujeito-homem da tutela religiosa que conservava o homem em perene menoridade, o fim da alienação (2003:58-59). O agnosticismo, como uma forma de ateísmo moderno, está explícito na conceituação de ateísmo em Coda, pois nega a existência de Deus empiricamente. Deu acordo com o dicionário Aurélio, agnosticismo é doutrina que declara o absoluto inacessível ao espírito humano ou que considera vã qualquer metafísica e qualquer ideologia religiosa, uma vez que alguns desses preceitos ou ideologias não podem ser comprovados empiricamente(Grifo meu). Não influi para o ateu moderno a experiência pessoal religiosa ou qualquer esforço que compreenda religiosidade. O agnosticismo tem pouco ou nada adequado à Maçonaria.
Na conceituação de Hans Joachim
Sander, no Novo Léxico da teologia dogmática católica, ateísmo é um termo
universal para sistemas de pensamento que rejeitam a existência de um Deus e a
intepretação religiosa do mundo como criação dependente dele. Na crítica religiosa,
o ateísmo demonstra, na modernidade, a irracionalidade do discurso sobre Deus
que ameaçaria a soberania do homem e sua alienação diante do sofrimento, pois o
homem seria exigido nas morais religiosas que não afastariam seu sofrimento e
sua dor. No final do século XX, o ateísmo tende a autocompreensão da sociedade.
Este ateísmo é radical e condena todo pensamento positivo de Deus como
fundamentalismo e opressão do sujeito soberano, seu discurso é de poesia heroica e afasta qualquer influência da religiosidade no ambiente público. Na
pós-modernidade, o ateísmo perde o interesse pois criticar Deus não é atrativo
devido a indiferença à divindade (2003:63-64). A ação ateia do fim do século
está comprometida com o desaparecimento da liberdade de exercício da fé, nações
de maioria cristã estariam proibidas de professar a fé em ambiente público por
ser considerado uma opressão à humanidade. O enraivecimento de políticos ateus
e de ideologia materialista não pouparam religiosos nem a religiosidade,
inclusive na França. Neste contexto de “liberdade absoluta de consciência”, a
Maçonaria seria corrompida com a exclusão do termo Grande Arquiteto do Universo
pelo Grande Oriente de França, terminologia terminantemente pertencente à
tradição maçônica, para agradar ateus que aceitariam fazer para da instituição.
ATEÍSMO E LITERATURA MAÇÔNICA
Nicola Aslan é decisivo na
opinião de que ateísmo e Maçonaria não são similares. De acordo com o autor,
ateísmo é doutrina oposta à Maçonaria porque, ao negar a existência de Deus
ou de todo Ser Supremo, nega também todas as verdades e ensinamentos desta
Ordem. Ainda sobre o ateísmo, Aslan traz a opinião de Octaviano Bastos, que
é curiosa na referência ao deísmo. Bastos afirma que o ateísmo Nega a
existência de todo espírito, inteligência ou princípio, que seja causa, ordem e
providência do Universo; nega que possa haver alma (...), enfim é a negação da
doutrina maçônica essencialmente espiritualista e deísta. Ora, o deísmo
também nega a providência divina em todas as suas modalidades, seja no mundo
terreno, seja no cosmológico. A providência divina, de acordo com o dicionário
Aurélio, é a Sabedoria suprema de Deus com a qual ele governa todas as
coisas e pessoas. A forma maturada de Deísmo, à moda francesa, nega
qualquer intervenção de Deus para com os homens. De outro modo, Bastos
acertadamente alerta que o ateu não deve ser aceito em Loja maçônica por se
traduzir como uma iniciação mentirosa e a hipocrisia do indivíduo não deve ser
tolerado nem entre maçons nem entre profanos. O ateu, esclarece Aslan, não
pauta a sua conduta dentro dos universais princípios da virtude e da moral e
que está indiferente aos atos menos dignos (2012: 158-160). Deste modo,
é inaceitável o ateísmo no meio maçônico.
As Constituições de Anderson de
1723 começa com as Obrigações do franco-maçom em estar relacionado a Deus e à
religião, ou seja, não será jamais um ateu estúpido nem libertino
irreligioso. As constituições de 1738, além de confirmar esta mesma
incumbência, acrescenta na qualidade de um verdadeiro noaquita (PALOU,
2012:289-290). Os Noaquitas, de acordo com Albert G. Mackey, são os detentores
das verdades confiadas aos patriarcas pós Dilúvio, resumidas na crença em Deus
e imortalidade da alma (2008: 16-19). Para Mackey, inclusive, encontramos que o
ápice do simbolismo maçônico simbólico está na ritualística do Terceiro Grau, a
qual a Lenda de Hiram representa a doutrina da imortalidade da alma, ornamentada
pelo ramo de Acácia, planta sagrada que simboliza exatamente esta imortalidade
(2008: 60-75). Esta alma, define o autor, é uma emanação de Deus (2008: 16, 26,
122).
As Leis Fundamentais da
Maçonaria, fixadas pela autoridade maçônica Estadunidense e confiadas a Albert
G. Mackey sua compilação, são denominadas de Landmarks, São vinte e cinco
Landmarks, com destaque para os XIX e XX:
XIX: A crença no Grande
Arquiteto do Universo é um dos mais importantes Landmarks da Ordem. A negação
dessa crença é impedimento absoluto e insuperável para a Iniciação.
XX: Subsidiariamente a essa
crença, é exigida a crença em uma vida futura.
Explicando o XIX Landmark,
Rizzardo da Camino faz um excelente alerta: O maçom não pode repelir a
existência do Grande Arquiteto do Universo; aceitando-o, estaria dando uma
demonstração de que adere aos princípios da Maçonaria ; continua : Quando
no Grupo Maçônico, surge o elemento que desacredita, é porque não foi
suficientemente sindicado antes da sua iniciação (...) Deve haver severa
vigilância a esse respeito, porque é melhor abrir mão de um candidato, mesmo
excepcional, que tirar a fé dos irmãos que abraçados nela podem construir o seu
mundo em busca da felicidade; e encerra: Maçons houve, e em grande
número, que eliminaram este Landmark e criaram o Rito Francês Moderno,
suprimindo a crença em um Grande Arquiteto do Universo e no Livro Sagrado.
A Maçonaria não é uma obrigação aos homens, aquele que aceita fazer parte da
instituição deve ser sindicado e deve ter aceitado respeitar esta Lei. A
Iniciação constitui a parte mística dos trabalhos maçônicos, se o
candidato aceita a norma é porque a exigência não lhe tolhe a liberdade de
pensar (2018: 123-124). Lamentavelmente, muitos traem seu juramento e o
perjuro parece ser uma tendência na Maçonaria.
O Grande Oriente do Brasil, a
mais antiga Potência Regular brasileira, garante sem sua Constituição no Art.
1º, Parágrafo Único, Iniciso I : Proclama a prevalência do espírito sobre a
matéria; esta prerrogativa está harmonizada no Art. 4º, Inciso V, Parágrafo
Único, estabele: Serão respeitados os Landmarks, os postulados universais e
os princípios da Instituição Maçônica. Os Landmarks previstos na Carta
Magna do G.O.B são os fixados por Albert G. Mackey, de fundamentação teísta.
O ateísmo, no Dicionário da Franco Maçonaria e dos Franco-Maçons, de Alec Mellor, é confirmado como doutrina que nega a existência de Deus. Há duas formas de ateísmo, de acordo com o autor: o puro, atitude negativa do espírito sem implicações morais; e o libertino, nega a Deus e por consequência toda moral, ou uma moral pouco exigente. O ateísmo é incompatível com a Maçonaria, a Grande Loja Nacional Francesa entende que a Franco-Maçonaria regular defende o Grande Arquiteto do Universo sendo o Criador e isso sem equívoco nem escapatória panteísta ou imanentista. Ele não é um símbolo. Em termos claros, a Franco- Maçonaria regular é teísta. Continua Mellor, a crença em Deus na Maçonaria tem por corolário a crença na imortalidade da alma e na vontade revelada de Deus: o Livro da Lei Santa. Essa crença na existência de Deus é um landmarque, talvez o principal. Todo candidato à iniciação deve afirmar sob juramento e solenemente que crê em Deus, sem o que ele não será considerado iniciável. Mellor ressalta que as obediências que se afastaram desta exigência fundamental são irregulares e que o Grande Oriente (de França), em 1877, pura e simplesmente riscou a fórmula do G.A.D.U. de sua constituição. Além disso, as pseudo-maçonarias pervertem o artigo primeiro dos Estatutos de Anderson e nesse contexto de irregularidade que a loja , Os livre pensadores, em 1882, iniciou Maria Deraismes, a fundadora do Direito Humano. Essa posição extremada foi uma das exceções, mas os ateus são maioria esmagadora no Grande Oriente. A pseudo maçonaria belga , além disso, supera a maçonaria francesa em termos de irregularidade. A exemplo disso, iniciaram um doente mental apenas porque este dizer ser inimigo da Igreja Católica (1989:66).
O Grande Oriente de França,
motivado pelo interesse em desmantelar a Maçonaria simbólica a favor de uma
adequação que a subordine ao homem e ao tempo, interesse aliás desde sua
fundação com a cisão com a Grande Loja, faz com que a Ordem em território
francês involua que culmina com o fim do culto ao Grande Arquiteto do Universo.
Defensor da retirada da compreensão de Deus, René Joseph Charlier, autor de
Mosaico Maçônico, aceita que a Maçonaria Operativa fosse religiosa, mas que a
Especulativa, não. Para o autor, a intepretação das Constituições de Anderson é
equivocada, fazendo alusão ao desprezo à religiosidade, sem qualquer
contextualização com as próprias práticas religiosas ritualísticas que a
permearam. O autor não esconde sua opinião sobre religião e cita Renan, notório
ateu militante, afirmando que Renan não carece de razão quando escreve:
‘’os desuses passam como os homens; não seria bom que fossem eternos”. Imbuído
deste pensamento, ele interpreta as Constituições de 1723 retirando as relações
com o infinito e o incognoscível fora das cogitações e das
pesquisas da Maçonaria (1995: 169-170). Este é fim da utilidade maçônica no
âmbito espiritual, esvaziando de sentido da ritualística, a linguagem
conceitual de transformação iniciática do Maçom e pondo fim a respeitabilidade
maçônica em sua tradição esotérica. O que os ateus e o Rito, ou Potência, que
os apoiam e aceitam, oferecem à Maçonaria é basicamente sua redução a uma mera
convenção social.
UM POUCO DE HISTÓRIA
A ação do Grande Oriente de
França em abolir a invocação ao G.A.D.U. e com isso adotar uma filosofia
ateísta como parte da Maçonaria faz eco ao contexto político francês, que
reacenderia o anticlericalismo da Revolução Francesa. O envolvimento de maçons
com a Revolução, aliás, incluindo o Felipe de Orleans, um dos arautos da
decadência das tradições maçônicas em território francês, não foi nada
benevolente. A Terceira República francesa (1871-1940), que começou com derrota
e terminou com derrota para a França, foi marcada por radicalizações das
facções políticas. A fracassada guerra contra a Alemanha de Bismarck, em 1870,
fez ruir o Império de Napoleão III e com ele tudo o que estava identificado com
o conservadorismo, pois a monarquia era aliada a setores como a Igreja
Católica, tal como era na época da Revolução Francesa. Com a ocupação das
tropas alemãs, Paris experimentou a aclamada Comuna de Paris, insurgência em
1871, rapidamente obliterada. Apesar do rápido desfecho não ter empolgado Karl
Marx, escritor do Manifesto Comunista (1848), que expulso de Paris em 1844 por
subversão, encontrara refúgio na Bélgica, onde disseminou o comunismo e o
ateísmo, a Comuna de Paris foi elogiada por Lênin. Diferente de Marx, que
acreditava que a Comuna fosse apenas o levante de uma cidade sem maioria
socialista, Lênin, por sua vez, elogiou como protótipo de Ditadura do
Proletariado, com um Estado que controlava todas as instituições inclusive
as coercitivas emancipando os trabalhadores e estabelecendo uma sociedade socialista
(Dicionário do Pensamento Marxista, 2001: 70).
O ateísmo militante do século XIX
teve como um dos símbolos a I Internacional, de 1846, com ideias como a de
Mazzini, tido por maçom italiano, que não escondia sua intenção em politizar a
Maçonaria, e a de Marx que insistia que
os sindicatos seriam bases revolucionárias. Estas ideias ,que contaminam a
Maçonaria e os sindicatos para fins políticos, foram encenados neste contexto
revolucionário. A “Revolução de 1848” na França que instaura a Segunda
República, a Primeira foi a do Terror Jacobino de 1792, será mais moderada. A
nova República não agrada os insurrecionistas que ,em pouco tempo, fazem uma
rebelião que será pacificada com a ascensão de Luís Napoleão Bonaparte. Este,
por sua vez, em 1852, com o apoio do campesinato e prometendo reformas liberais
mais ágeis é proclamado Napoleão III, instaura a monarquia e faz uma politica
externa que mais prejudicou que ajudou. Com a derrota para a Alemanha de
Bismarck, os republicanos tentaram evitar o restabelecimento do regime
monárquico. Com o caos instalado, os socialistas apostaram na revolução tomando
a capital. Na Terceira República, a luta entre conservadores, liberais e
comunistas tinha muitas vezes como palco o campo religioso. A religião e a
religiosidade eram ojerizadas por parte dos liberais e pelos ateus militantes
do materialismo histórico.
O Grande Oriente de França
instaura a possibilidade ateísta em 1877, tempo em que a religiosidade era
problematizada, mas a politicagem não. A moral cristã, entendida como ameaça
conservadora, foi evitada e isso explica porque a maioria dos maçons obedientes
a esta potência são ateus, como testemunha Alec Mellor, autor francês. A
instrumentalização da Maçonaria para fins políticos, incentivará mazelas que
causariam problemas à imagem da Maçonaria Universal para com a sociedade
profana. Aliando a mania de idealizar Loja espúria com a revolução do
materialismo histórico, a Maçonaria, à moda francesa, será motivo para disputas
com o Cristianismo e com a Regularidade Maçônica da Grande Loja Unida da
Inglaterra, a detentora moral do reconhecimento maçônico universal. Como esclarece
João Evangelista Martins Terra, em seu Maçonaria e Igreja Católica, essa
profissão de ateísmo do Grande Oriente pareceu, nos outros meios maçônicos, ser
uma manifestação escandalosa, principalmente na Inglaterra e nos Estados
Unidos. As obediências desses países romperam todas as relações com o Grande
Oriente (2016:15). Este espectro de traição remonta à fundação do Grande
Oriente de França e à pessoa de seu Grão-Mestre Luís Felipe II duque de
Orleans, traidor celerado que prejudicou seu primo Luís XVI, votando por sua
execução, depois traindo os próprios revolucionários, que também o executaram;
além incentivar loja espúria, traindo as tradições maçônicas. A má impressão
causada pela Maçonaria na França e suas vertentes políticas em outros países
europeus, como na Itália, por exemplo, com Mazzini e Garibaldi, fez com que a
Maçonaria fosse confundida como uma instituição conspiratória e traiçoeira. O
regime comunista, expoente do ateísmo mundial, sonho realizado pelos
socialistas na revolução de 1917 e formalizado em 1922 com a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, com tentáculos espalhados por todo o mundo, temendo
a erva daninha cultivada por seus aspirantes, foi um dos maiores inimigos da
presença maçônica em seus territórios.
CONCLUSÃO
O Cristianismo está presente na fundação da Maçonaria e faz parte, ao lado do judaísmo, da inspiração de maior parte do arcabouço doutrinário simbólico. A mística de povos antigos, que também compõem a ritualística maçônica, aponta para uma verdade que está baseada numa concepção de divindade monoteísta. O Grande Arquiteto do Universo é o Deus pessoal e providencialista comum à tradição judaico-cristã e responsável pelo delineamento comportamental baseado na Bíblia, Revelação cognoscente a favor do entendimento humano, compreendido pela Maçonaria como Paramento e uma das Três Grandes Luzes, ou seja, os maiores símbolos maçônicos composto por Esquadro, Compasso e Bíblia.
Esta influência da Bíblia e sua bagagem moral
incomoda os simpáticos do ateísmo que tentam incompatibilizar valores
conservadores e Maçonaria. Muitas vezes, este ateísmo pode ser confundido com
aspirações políticas, que por mais que o tenham escondido por debaixo do
tapete, sua intenção traz o disfarce de “progressismo” social. A ação mais
comum destes “progressistas” é implantar sua teoria política sobre os escombros
da Maçonaria. Uma das mais fáceis falácias está na rejeição do que é antigo, o
que era tido antes como estabilidade e afirmação, agora é ridicularizado. O que
era imperecível ao tempo, o tempo agora é exaltado. O transcendente e suas
virtudes são substituídos pela mesquinharia lucrativa do mercado que impõe e
moda mainstream. A retirada da espiritualidade maçônica tem como
finalidade, como a história nos ensina, a descaraterização da Maçonaria e sua
instrumentalização politica, como sendo um bastião a ser derrubado pelo deleite
maléfico dos inimigos de todos os tipos de tradição e religiosidade.
Lamentavelmente, muitos maçons,
numa atitude de perjuro, sentem prazer de propagar críticas aos fundamentos
espirituais da Maçonaria. Potências Maçônicas regulares que aceitam em seu meio
Rito que aceite como “virtude” qualquer embasamento contrário às suas
Constituições permite a entrada do joio no meio do trigo; e não apenas a nível
de Rito, mas do mesmo modo indivíduos, “palestrantes” e “medalhões”, que por
prazer fazem críticas destrutivas às tradições estabelecidas comuns a Ritos
fiéis ao conceito Maçônico. Estes maçons que prometeram em juramento respeitar
e defender os Landmarks em sua Iniciação, incorporam o espectro de Luís
Felipe II em suas contumélias anti tradição, sem a decência de tomar a decisão
de pedir renúncia. A intenção parece fazer progressismo à implosão da
Maçonaria.
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