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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

ANÁLISE CONCEITUAL: MAÇOM, MAÇONARIA OPERATIVA E MAÇONARIA ESPECULATIVA


As terminologias maçônicas Maçom, Maçonaria Operativa e Maçonaria Especulativa são os temas deste estudo que analisa a construção destes conceitos e sua utilização entre irmanados e profanos. Trabalho dedicado aos IIR. Ives Hermans, David César e Everaldo Trindade

A Maçonaria, em seus primórdios, é geralmente entendida como um termo que circunscreve entidades dedicadas à construção de edifícios. Seus trabalhadores eram profissionais pedreiros. O termo maçom é a tradução do original para pedreiro, proveniente das línguas inglesa e francesa. Com a admissão na Ordem dos chamados obreiros livres, ou seja, homens que não exerciam a função profissional relacionada às construções, foram criadas novas denominações, sendo na Inglaterra denominados freemasons e na França, franc-masons. Essa terminologia será conceitualmente utilizada para a distinção entre Maçonaria Operativa e Maçonaria Especulativa

No Brasil, a denominação literalmente traduzida para pedreiro livre não fez sucesso. A terminologia mais aceita foi a de proveniência francesa, mais adequada linguisticamente ao português. A palavra francesa “maçon” foi aportuguesada, o n deu lugar ao m, sendo grafada como “maçom” e a pronúncia foi perfeitamente assimilada.

Para Rizzardo da Camino, o conceito de pedreiro-livre é diferente do de Maçom Aceito. O pedreiro-livre ainda está relacionado com a fase operativa da Maçonaria. Os pedreiros-livres eram exímios profissionais de construção e estavam livres de obrigações com a guilda, dos monastérios e isentos eram dos impostos feudais ou do monarca, pois a confiança neles era elemento essencial. O Maçom Aceito, por sua vez, era uma nomenclatura utilizada para os homens que recebiam a iniciação aos Mistérios mas que não eram, definitivamente, profissionais em construção. Este era o típico elemento que compunha o estilo da Maçonaria Especulativa (2008: 260-261).

A distinção conceitual entre pedreiro-livre e Maçom Aceito também é defendido por Nicola Aslan. Os freemasons seriam os especialistas que faziam obras com pedra calcária, mais requintada e de uso complexo. Estes pedreiros-livres não eram associados a franquias de construtores de catedrais, sendo totalmente independentes. Os Maçons Aceitos eram exatamente aqueles que em nada pertenciam a classe de pedreiros, mas que eram aceitos na sociedade de maçons operativos (2012: 520, 736).

A fundação da Grande Loja de Londres, em 1717, organizou a prática maçônica em uma instituição obediencial e regular, que seriam reconhecida pela nomenclatura de Freemasonry, alusão feita, não obstante, ao termo freemason ou pedreiro-livre e não Accepted Mason ou Maçom Aceito. A terminologia mais usual para o membro da Freemasonry ficou sendo freemason, como fora no caso em língua portuguesa que “pedreiro livre” se tornara “maçom”. No caso francês, por motivações históricas e quiçá políticas, o uso proposto foi o de franc-mason com alguns autores entendendo que o nome característico seja o de Franco Maçonaria para referência à Maçonaria Especulativa. A nomenclatura Maçonaria foi oficializada pela Grande Loja de Londres com as Constituições de Anderson de 1723, sendo os membros denominados de franco-maçons, principalmente na França, a partir de 1725, conciliando a similaridade entre os termos em francês e inglês. Atualmente, é preciosismo fazer a distinção entre maçom e franco-maçom ou Maçonaria e Franco-Maçonaria, principalmente em nossa língua.

MAÇONARIA OPERATIVA

A Maçonaria Operativa era dedicada às construções de edifícios. De acordo com Renato Alencar, seus obreiros eram unidos pelos ritos iniciáticos e dividiam-se em três classes: Aprendizes, Companheiros e Mestres, todos profissionais na arte da construção (1979: 34). Os primórdios desta Maçonaria, segundo Gervásio Figueiredo, estão situados nos Collegia Fabrorum , ou Colégios de Arquitetos, criados na Roma Antiga supostamente por Numa Pompílio, para perpetuar os Antigos Mistérios. Estes colégios conheceram a perseguição pelo Senado em 80 a.C e em 378 d.C. quando foram exilados na Ilha do lago de Como, Norte da Itália, sendo denominados de Comancinos, com uma organização baseada em um Grão-Mestre, que comandaria os outros Mestres. Por motivo das perseguições, adotaram práticas de juramento, sinais de reconhecimento e a devoção aos Quatro Mártires (Coroados), santos martirizados por Diocleciano por não aceitarem a adoração dos deuses romanos, símbolos da perseguição e resistência aos princípios que acreditavam, foram coroados representando a majestade celestial. Cerimonialmente vestiam aventais e luvas brancas e símbolos como nó de Salomão, Esquadro, Compasso, Nível, Prumo, etc. Ferramentas dedicadas aos seus trabalhos. Os Comancini  são mencionados no Código do rei lombardo, onde estava localizada a Ilha do Lago Como, Rothares (643) e no memoratório do rei, também lombardo, Leitprand (713). Possivelmente, os Comancini influenciaram entidades como o Compangnonnage, sociedade de auxílio francesa que adotara três divisões denominadas de Filhos de Salomão, Filhos do Mestre Jacques e Mestre Subise, adotando ainda lenda a respeito de Salomão e seu Templo; os Steinmetzen (séc. XII) na Alemanha, com sua veneração aos Quatro Coroados e finalmente as guildas de construtores de Catedrais por toda a Europa nos séculos XII e XIII (2016:223-224).

MAÇONARIA ESPECULATIVA

A Maçonaria Especulativa é a segunda fase da Maçonaria, contemplativa e reunida em Templos. A raiz etimológica spec, do latim, é irmã da grega skep, derivando várias palavras em nossa língua portuguesa, tais quais: especula, vigilância; especulativo, contemplação teórica sem a atividade prática; especulativa, examinar ou perscrutar; especulatória, interpretação dos fenômenos naturais; ou especular, termo pejorativo no meio comercial.

Conceitualmente, para Nicola Aslan, a Maçonaria Especulativa sucedeu a Maçonaria Operativa quando do abandono da arte de construir. Esta mudança foi gradual, começando com os Aceitos representados pelo filho do Rei Athelstan, Edwin (séc. X), como confere o Manuscrito Cooke (séc. XV). Estes “Aceitos” faziam parte de um anexo da Loja denominado de Confraria para serviços de benevolência. À época de Elias Ashmole, famoso maçom “Aceito” em 1646, na Inglaterra, não havia maçons operando em lojas de construção, apenas Lojas Especulativas (2012: 750-752). O termo especulativo já existira, mas era dado aos teóricos que planejavam as construções e não os de canteiros. Neste caso, curiosamente não eram especificamente conceitualizados como pedreiros-livres.

Com esta tese, a Maçonaria Especulativa não nascera em 1717 mas seria uma prática que se organizara e se regulamentara, de modo culminante, com a Grande Loja de Londres. Isso explicaria, em parte, o motivo de pessoas da nobreza com tendências ao esoterismo procurarem este movimento, sendo que não tinham qualquer aproximação com o trabalho manual ou de técnica qualquer de construção. Além do exemplo de Elias Ashmole, como sendo um nobre que acorrera à Maçonaria, temos o relato de Albert G. Mackey, no seu O Simbolismo da Maçonaria, escrito no século XIX, que atesta a dissociação do elemento operativo com a eleição do Conde de St. Albans, em 1663, na Inglaterra, para Grão Mestre (2008: 49). Não há indícios, afinal, que o elemento operativo estava totalmente desaparecido nesta época, mas não era, pelo menos no século XVII, uma característica imprescindível para autenticidade do que se entendia por Maçonaria.

À.G.D.G.A.D.U
E. L. de Mendonça
SALUS SAPIENTIA STABILITAS

BIBLIOGRAFIA

ALENCAR, Renato de. Enciclopédia histórica do mundo maçônico Tomo I. Rio de Janeiro: Editora Maçônica, 1979.

ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2012.

CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 5 ed. São Paulo: Madras, 2018.

FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria. 2 ed. São Paulo: Pensamento, 2016

MACKEY, Albert G. O Simbolismo da Maçonaria. Tradução de Caroline Furukawa. São Paulo: Universo dos Livros, 2008. 

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