A Maçonaria, em seus primórdios,
é geralmente entendida como um termo que circunscreve entidades dedicadas à
construção de edifícios. Seus trabalhadores eram profissionais pedreiros. O
termo maçom é a tradução do original para pedreiro, proveniente das línguas
inglesa e francesa. Com a admissão na Ordem dos chamados obreiros livres, ou
seja, homens que não exerciam a função profissional relacionada às construções,
foram criadas novas denominações, sendo na Inglaterra denominados freemasons
e na França, franc-masons. Essa terminologia será conceitualmente
utilizada para a distinção entre Maçonaria Operativa e Maçonaria Especulativa
No Brasil, a denominação literalmente
traduzida para pedreiro livre não fez sucesso. A terminologia mais aceita foi a
de proveniência francesa, mais adequada linguisticamente ao português. A
palavra francesa “maçon” foi aportuguesada, o n deu lugar ao m, sendo grafada
como “maçom” e a pronúncia foi perfeitamente assimilada.
Para Rizzardo da Camino, o
conceito de pedreiro-livre é diferente do de Maçom Aceito. O
pedreiro-livre ainda está relacionado com a fase operativa da Maçonaria. Os pedreiros-livres
eram exímios profissionais de construção e estavam livres de obrigações com a
guilda, dos monastérios e isentos eram dos impostos feudais ou do monarca, pois
a confiança neles era elemento essencial. O Maçom Aceito, por sua vez,
era uma nomenclatura utilizada para os homens que recebiam a iniciação aos
Mistérios mas que não eram, definitivamente, profissionais em construção. Este
era o típico elemento que compunha o estilo da Maçonaria Especulativa (2008:
260-261).
A distinção conceitual entre pedreiro-livre
e Maçom Aceito também é defendido por Nicola Aslan. Os freemasons seriam
os especialistas que faziam obras com pedra calcária, mais requintada e de uso
complexo. Estes pedreiros-livres não eram associados a franquias de
construtores de catedrais, sendo totalmente independentes. Os Maçons Aceitos
eram exatamente aqueles que em nada pertenciam a classe de pedreiros, mas
que eram aceitos na sociedade de maçons operativos (2012: 520, 736).
A fundação da Grande Loja de
Londres, em 1717, organizou a prática maçônica em uma instituição
obediencial e regular, que seriam reconhecida pela nomenclatura de Freemasonry,
alusão feita, não obstante, ao termo freemason ou pedreiro-livre
e não Accepted Mason ou Maçom Aceito. A terminologia mais usual
para o membro da Freemasonry ficou sendo freemason, como fora no
caso em língua portuguesa que “pedreiro livre” se tornara “maçom”. No caso
francês, por motivações históricas e quiçá políticas, o uso proposto foi o de franc-mason
com alguns autores entendendo que o nome característico seja o de Franco
Maçonaria para referência à Maçonaria Especulativa. A nomenclatura Maçonaria
foi oficializada pela Grande Loja de Londres com as Constituições de
Anderson de 1723, sendo os membros denominados de franco-maçons, principalmente
na França, a partir de 1725, conciliando a similaridade entre os termos em
francês e inglês. Atualmente, é preciosismo fazer a distinção entre maçom e
franco-maçom ou Maçonaria e Franco-Maçonaria, principalmente em nossa língua.
MAÇONARIA OPERATIVA
A Maçonaria Operativa era
dedicada às construções de edifícios. De acordo com Renato Alencar, seus
obreiros eram unidos pelos ritos iniciáticos e dividiam-se em três classes:
Aprendizes, Companheiros e Mestres, todos profissionais na arte da construção
(1979: 34). Os primórdios desta Maçonaria, segundo Gervásio Figueiredo, estão
situados nos Collegia Fabrorum , ou Colégios de Arquitetos, criados na
Roma Antiga supostamente por Numa Pompílio, para perpetuar os Antigos Mistérios.
Estes colégios conheceram a perseguição pelo Senado em 80 a.C e em 378 d.C.
quando foram exilados na Ilha do lago de Como, Norte da Itália, sendo
denominados de Comancinos, com uma organização baseada em um
Grão-Mestre, que comandaria os outros Mestres. Por motivo das perseguições,
adotaram práticas de juramento, sinais de reconhecimento e a devoção aos Quatro
Mártires (Coroados), santos martirizados por Diocleciano por não aceitarem a
adoração dos deuses romanos, símbolos da perseguição e resistência aos
princípios que acreditavam, foram coroados representando a majestade celestial.
Cerimonialmente vestiam aventais e luvas brancas e símbolos como nó de Salomão,
Esquadro, Compasso, Nível, Prumo, etc. Ferramentas dedicadas aos seus
trabalhos. Os Comancini são mencionados
no Código do rei lombardo, onde estava localizada a Ilha do Lago Como, Rothares
(643) e no memoratório do rei, também lombardo, Leitprand (713). Possivelmente,
os Comancini influenciaram entidades como o Compangnonnage, sociedade de
auxílio francesa que adotara três divisões denominadas de Filhos de Salomão,
Filhos do Mestre Jacques e Mestre Subise, adotando ainda lenda a respeito de
Salomão e seu Templo; os Steinmetzen (séc. XII) na Alemanha, com sua veneração
aos Quatro Coroados e finalmente as guildas de construtores de Catedrais por
toda a Europa nos séculos XII e XIII (2016:223-224).
MAÇONARIA ESPECULATIVA
A Maçonaria Especulativa é a
segunda fase da Maçonaria, contemplativa e reunida em Templos. A raiz
etimológica spec, do latim, é irmã da grega skep, derivando
várias palavras em nossa língua portuguesa, tais quais: especula, vigilância;
especulativo, contemplação teórica sem a atividade prática; especulativa,
examinar ou perscrutar; especulatória, interpretação dos fenômenos naturais; ou
especular, termo pejorativo no meio comercial.
Conceitualmente, para Nicola
Aslan, a Maçonaria Especulativa sucedeu a Maçonaria Operativa quando do
abandono da arte de construir. Esta mudança foi gradual, começando com os Aceitos
representados pelo filho do Rei Athelstan, Edwin (séc. X), como confere o
Manuscrito Cooke (séc. XV). Estes “Aceitos” faziam parte de um anexo da Loja
denominado de Confraria para serviços de benevolência. À época de Elias
Ashmole, famoso maçom “Aceito” em 1646, na Inglaterra, não havia maçons
operando em lojas de construção, apenas Lojas Especulativas (2012: 750-752). O
termo especulativo já existira, mas era dado aos teóricos que planejavam as
construções e não os de canteiros. Neste caso, curiosamente não eram
especificamente conceitualizados como pedreiros-livres.
Com esta tese, a Maçonaria
Especulativa não nascera em 1717 mas seria uma prática que se organizara e se
regulamentara, de modo culminante, com a Grande Loja de Londres. Isso
explicaria, em parte, o motivo de pessoas da nobreza com tendências ao
esoterismo procurarem este movimento, sendo que não tinham qualquer aproximação
com o trabalho manual ou de técnica qualquer de construção. Além do exemplo de
Elias Ashmole, como sendo um nobre que acorrera à Maçonaria, temos o relato de
Albert G. Mackey, no seu O Simbolismo da Maçonaria, escrito no século XIX, que
atesta a dissociação do elemento operativo com a eleição do Conde de St.
Albans, em 1663, na Inglaterra, para Grão Mestre (2008: 49). Não há indícios,
afinal, que o elemento operativo estava totalmente desaparecido nesta época,
mas não era, pelo menos no século XVII, uma característica imprescindível para
autenticidade do que se entendia por Maçonaria.
BIBLIOGRAFIA
ALENCAR, Renato de. Enciclopédia
histórica do mundo maçônico Tomo I. Rio de Janeiro: Editora Maçônica, 1979.
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário
Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica A
TROLHA, 2012.
CAMINO, Rizzardo da. Dicionário
Maçônico. 5 ed. São Paulo: Madras, 2018.
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de.
Dicionário de Maçonaria. 2 ed. São Paulo: Pensamento, 2016
MACKEY, Albert G. O Simbolismo da
Maçonaria. Tradução de Caroline Furukawa. São Paulo: Universo dos Livros, 2008.
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