O Livro “O Simbolismo da
Maçonaria” foi publicado originalmente
em 1882, mas foi escrito em 1869, em Charleston, Carolina do Sul (EUA) por
Albert G. Mackey. O livro por ora analisado foi lançado pela editora Universo
dos Livros em 2008 e traduzido por Caroline Furukawa. Trabalho dedicado aos IIr
O SIMBOLISMO DA MAÇONARIA
O livro o Simbolismo da Maçonaria, publicado em 1882, é um dos principais livros do expoente maçônico norte americano, Albert Gallatin Mackey. O livro é uma demonstração de como a Maçonaria, em especial o Rito Escocês Antigo e Aceito, era concebida nos Estados Unidos da América. Este modo de praticar Maçonaria é interessante para compreender como era a imagem da Ordem no âmbito de todo continente americano e como ela foi apresentada para as autoridades maçônicas brasileiras em fins do século XIX, período em que a Maçonaria sob o R.E.A.A estava em ampla consolidação no país. O autor, Albert G. Mackey (1807-1881), está relacionado com a organização obediencial maçônica através dos Landmarks, nome que quase o faz sinônimo. Entender o pensamento de Mackey é entender o espírito de sua seleção de Landmarks que merece o respeito de toda comunidade maçônica regular. Estatutariamente, Mackey foi Grande Secretário da Grande Loja de Carolina do Sul e Secretário-Geral do Conselho Supremo do Rito Escocês Antigo e Aceito, ambos pela Jurisdição Sul dos Estados Unidos. A memória de Albert G. Mackey é respeitada seja pela sua devoção à Ordem Maçônica, deixando de fazer carreira exclusiva de medicina a qual era formado, seja pela sua autoridade em discernir os mistérios que o fizeram grande professor, reconhecimento dado por outras autoridades iniciadas no período áureo da Maçonaria americana. No Brasil, maçons de carreira literária e sensatos também fazem protesto de saudações à contribuição atemporal que Mackey legou para a Maçonaria regular universal.
A obra tem como objetivo principal apresentar a Maçonaria sob seus aspectos simbólicos mais pertinentes para estudiosos do assunto. A ideia central está relacionada ao arcabouço doutrinário da Maçonaria, baseada em dois princípios bem simples: unidade de Deus e imortalidade da Alma. A preconização é de que a Maçonaria é teísta, ou seja, subordinada à Revelação Divina. As tradições judaico-cristãs são entendidas como sendo parecidas com as outras tradições pagãs na essência de apontamento para que a espiritualidade. Porém, a base para o bom entendimento da espiritualidade está na Bíblia, como atesta o discurso a favor da herança espiritual noaquita. Todo o simbolismo da Maçonaria está relacionada a moral de crença na soberania de Deus e de que a alma é imortal e não limitada ao plano material. Esta crença preconiza o fazer bem, principalmente a caridade, e impetrar uma relação social justa através da ética comportamental, simbolizada pelas ferramentas de construção dos pedreiros, ou maçons operativos. Bem definido, a Maçonaria não está coadunada com formas de pensamento ateísta ou materialista em geral. O autor deixa subentendido que o homem que procura a Maçonaria demanda de um aperfeiçoamento moral, nisto consiste o esoterismo espiritualista da Ordem, que não é uma mera convenção social. Esta transformação do ashlar bruto em ashlar perfeito está estabelecida em normas místicas tais como iniciação, rituais e evolução de graus. Com esta obra, Mackey, além de lecionar aos maçons, coloca na prateleira da biblioteca universal uma das mais bem fundamentas perspectivas teórico- conceituais do que se compreende por Maçonaria. A relação espiritual de reverência ao sagrado, sua interrelação com tradições antigas testadas pelo tempo e sua finalidade de fazer bem ao homem e a humanidade dirimem qualquer dúvida ou contestações mal formuladas por contendedores internos ou externos à Ordem Maçônica.
A obra completa foi dividida em dois volumes pela editora Universo dos Livros, perfazendo um total de trinta e um capítulos. Nos cinco primeiros capítulos, Mackey tenta adequar o discurso simbólico de origem da Maçonaria de acordo com tese de que a Maçonaria é herdeira de tradições sublimes que culminam com síntese da crença de Deus único e imortalidade da alma. Para isto, faz um apanhado baseado no texto bíblico destacando os Noaquitas como sendo os “primeiros maçons” divididos em Maçonaria Pura e Maçonaria Espúria após a confusão da Torre de Babel, construção de pedra que desafiara Deus. A dispersão causada fez com que vários povos adotassem práticas estranhas ao que haviam recebido, sendo apenas o povo judeu ficando fiel aos ensinos dos patriarcas. Esta conexão com as tradições judaicas será fundamental para que a Maçonaria desenvolva sua doutrina. No entanto, sábios pagãos que mantiveram a essência da Verdade Revelada fundaram escolas de Mistério as quais os ritos zelavam pelas perspectivas espiritualistas, com o foco sendo na imortalidade da alma. Os capítulos de seis a nove expõem como o Templo de Salomão unificou as “Maçonarias”, mantendo a didática ritualística da Maçonaria Espúria e a Verdade do ensino da Maçonaria Pura, substituindo a Torre de Babel a favor da unidade institucional e fazendo da Maçonaria uma arte operativa, mesclando o secular com o espiritual e assegurando definitivamente a crença em Deus e a imortalidade da alma. Com o fim do Templo de Salomão, estes operários religiosos estarão na Europa fazendo edifícios e atraindo a atenção de nobres com as construções de catedrais cristãs, com o tempo a Maçonaria se tornará em Especulativa. Os capítulos dez e onze são a justificação da importância especulativa para o desenvolvimento dos símbolos maçônicos. Dos capítulos doze ao dezesseis alguns símbolos maçônicos são analisados, tais como o Templo, a Tábua de Delinear, as Pedras Bruta e Cúbica, os Instrumentos do Aprendiz, Companheiro e Mestre, o Esquadro e o Compasso. Ainda são analisados as referências esotéricas dos oficiais maçônicos, do símbolo do ponto dentro do círculo e a Escada de Jacó. Dos capítulos dezessete ao vinte e um, Mackey faz a introdução ao ritualismo, destacando o descalcaçamento, as vestes do avental e das luvas, e o a circum-ambulação. Os capítulos vinte e dois e vinte e três, o autor analisa o rito de iniciação e o da pedra angular, concernentes ao Aprendiz. Os capítulos vinte e quatro a vinte e seis, o Nome Inefável, as lendas maçônicas e a lenda das escadas em espiral, mais afinadas com o grau de Companheiro. Os capítulos vinte e sete ao trinta e um mais adequados ao Mestre Maçom, pois analisa símbolos como a lenda de Hiram, o ramo de acácia e a Palavra Perdida.
O mais emblemático capítulo do livro é vinte e cinco, As Lendas da Maçonaria, pois o autor desenvolve seu referencial metodológico que deve ser entendido para compreender seu pensamento e o uso que a Maçonaria faz de suas narrativas. A classificação das lendas ou mitos maçônicos são três: 1- o mito histórico, quando o fato histórico é diminuído a favor de uma invenção; 2- o mito filosófico, quando há apenas invenção e nenhum fato histórico; 3- a história mítica, quando predomina a narração do fato, valorizando o verídico. A narrativa maçônica flutua entre estas três categorias. Não havia trono de Salomão no Templo, mas usar este termo na doutrinação simbólica maçônica não incorre em erro, pois é um terminologia simbólica para fazer referência ao Venerável Mestre e sua capacidade de ensinar por meio da Prancheta escorada à sua mesa, pois Salomão ficou conhecido na história como sendo um rei sábio, que administrava com justiça. Então, dizer que no Templo Maçônico há o “trono de Salomão” é dizer que o Venerável Mestre é um sábio. Sem esta amplitude simbólica a Maçonaria empobrece sua linguagem e seu arcabouço doutrinário, alerta feito por Mackey no final deste capítulo e noutros.
Mackey nos apresenta uma teoria da origem da Maçonaria, comum em seu tempo, que está aliada aos princípios de unidade e religiosidade judaico-cristã. A Maçonaria simbolicamente começa com Adão, pois é o início da Revelação de Deus e sua intimidade com o homem. Os patriarcas da humanidade ratificaram esta Revelação, sendo Salomão o clímax desta sabedoria com a construção do Templo. Esta construção, simbolicamente sistematiza a Maçonaria tendo como culminância a Lenda de Hiram. Desse modo, o que simbolicamente representa esta antiguidade da Maçonaria é sua religiosidade. A Maçonaria está assentada em tradições religiosas centradas na unidade de Deus e na imortalidade da alma. A antiguidade em Mackey representa durabilidade isenta de modismo perecível ao tempo ou imposição de cunho político ideológico, por isso a defesa às Escolas de Mistério que defendiam estes princípios indiferentes aos ditames ameaçadores dos líderes seculares.
A antropologia maçônica entende que a evolução do homem tem como arquétipo a natureza em seu ciclo regenerativo. Na doutrina do homem maçônica, o profano sai do interior da terra para se tornar um maçom. Na escola maçônica, ele aprende as ciências terrenas, mas sabe que existe a Verdade que não está no plano terreno, mas no plano espiritual e tende a verifica-la. Para isso, ele será “enterrado” novamente, despreocupado com a limitação humana pois entende que sua alma é a emanação do Espírito, e Deus é Espírito. A Pedra de Fundação representa esta tese cíclica maçônica, tal qual a circulação aparente do Sol. O homem, para a Maçonaria, está em regeneração como a natureza também criação de Deus. Apenas entendendo a espiritualidade o maçom compreenderá esta doutrina e a instrumentalização maçônica.
A Maçonaria é sinônimo de religiosidade. O Rito Escocês Antigo e Aceito, que influenciou todo o continente, possui, nos dias atuais, boa parte desta simbologia analisada no livro. Na Maçonaria do século XIX, entendemos que seu ímpeto estava baseado numa identidade com princípios próprios e não a gosto do freguês. A filosofia estava calcada numa ideia de Verdade singularizada, com doutrina e finalidade esotérica de crença em Deus e imortalidade da alma. Estas doutrinas, de certo modo, afastavam o deísmo das fileiras americanas pois o compromisso com o Deus pessoal e interventor, criador da alma e seu sustentador, era um item que relacionava respeitabilidade e participação. A essência maçônica está discutida de modo salutar nesta obra, é esta Maçonaria que foi pujante e inspirou homens de Norte a Sul do continente.
À.G.D.G.A.D.U
E. L. de Mendonça Jr∴
SALUS SAPIENTIA STABILITAS
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