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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

ANÁLISE DO LIVRO: O SIMBOLISMO DA MAÇONARIA VOL.II ( ALBERT G. MACKEY) PARTE XXV

 


O Livro “O Simbolismo da Maçonaria”  foi publicado originalmente em 1882, mas foi escrito em 1869, em Charleston, Carolina do Sul (EUA) por Albert G. Mackey. O livro por ora analisado foi lançado pela editora Universo dos Livros em 2008 e traduzido por Caroline Furukawa.

CAPÍTULO XXV: AS LENDAS MAÇÔNICAS

A construção do Templo do Rei Salomão fez da Maçonaria Pura dos noaquidas a união com a Maçonaria Espúria dos operários de Tiro favorecendo a distinção entre mítico, ou legendário, e o material. Os símbolos materiais são os implementos dos pedreiros e os ornamentos de uma Loja e a lenda de Hiram, sua filosofia, a exemplo da Palavra Perdida, são símbolos míticos ou legendários. O ramo de acácia, um artefato material, é reconhecido como símbolo mítico pois seu sentido está para além de sua forma material e sim relacionada intimamente com a Lenda de Hiram.

As lendas maçônicas são uma parte verdadeira e importante do ritual e nelas está a profunda instrução religiosa que a instituição pretende inculcar. A simbologia não encerra os ritos maçônicos, ela ainda vale-se da alegoria que faz o Neófito velar pela verdade divina da Maçonaria. O propósito e o método de execução relacionam a Maçonaria aos Mistérios Antigos. O caráter místico das religiões introduziu à Maçonaria seu sistema. A palavra mito é uma narrativa de um evento despreocupada com a veracidade documental, mas que certifica uma evidência interna da própria tradição. A interpretação alegórica destes mitos começa no Egito ou no Oriente e foram ensinadas metodicamente aos gregos sob o véu dos símbolos. O símbolo era a fase inicial da linguagem que seria reforçada pela alegorismo para bem estabelecer o entendimento da doutrina respeitando Deus, a natureza e a humanidade. No entanto, os poetas ao popularizarem as narrativas fizeram com que a essência fosse perdida no sentido literal do ensino. Para preservação desta essência, fraternidades religiosas eram compostas por membros iniciados em determinadas cerimônias místicas administradas por famílias de sacerdotes.

Mackey legitima o uso alegórico da ritualística maçônica como sendo uma antiga didática utilizada há séculos por fraternidades que tentavam sustentar a fidelidade de suas verdades contra as frivolidades perversoras ou trivialidades de tendência. A Maçonaria não está resumida a estudo de símbolos e sua utilização ritualística, a alegoria também faz parte dos costumes maçônicos herdados de tradições anciãs. A condição de ancianidade para legitimar usos e costumes maçônicos é comum na literatura de Mackey, além de fazer a distinção que a Maçonaria não pratica paganismo mas mantém seu escopo como defensora teísta do monoteísto e da religiosidade.

Os mitos da Maçonaria são tradições do sistema antediluviano que foram corrompidos por má interpretações, gradativamente recuperadas, no entanto, ao ensino da verdade adequado doutrinariamente ao que a Maçonaria ensina nos dias atuais. Os mitos ou lendas são classificados em três classes, sendo elas :1- o mito histórico , quando a narrativa é fornecida com um leve fundo de verdade , sendo o fato bastante corrompido, seja por omissões ou introduções de personagens; 2- o mito filosófico, aquele totalmente inventado com o intuito de criar ficção facilitadora para ensino ou compreensão de determinada doutrina; 3- história mítica, quando um fato é narrado com fidelidade, predominando a veracidade sobre o colorido da imaginação, é relato mais fiel que o mito histórico.

Os mitos maçônicos são de tradições orais fundindo realidade e ideais. O mito de Hiram Abiff, por exemplo, é uma ilustração de uma verdade filosófica ou religiosa, que seja a doutrina imortalidade da alma. Nem todas as lendas maçônicas são, literalmente, fatos históricas mas possuem substrato de história e as invenções que a há nela servem para o ensino de verdades religiosas; noutros casos, a história geralmente predomina. Por exemplo, a lenda de Euclides maçom, que introduzira a Maçonaria entre os egípcios. O grande geômetra certamente não era maçom nem sequer estabelecera a instituição no Egito, mas esta absoluta invenção é um mito filosófico que praticamente ajuda na compreensão, simbolicamente, de uma verdade maçônica, ou seja, que a instituição é uma fusão entre ciência, pela geometria, e o sistema religioso, pela teocracia e Mistérios do Egito. A intepretação desta lenda nos faz entender que a ciência da religião partilha das ciências astronômicas, da física e da geometria.

A ilustração da lenda da Escada em Espiral é o exemplo dos Companheiros que ascendiam à Câmara do meio. É fato que havia no templo um lugar chamado Câmara do Meio e que havia escadas em espiral (1Rs 6.8). Porém, não sabemos a veracidade da Escada e da Câmara do meio em sua aplicação mítica no ritual do segundo grau. A lenda é, neste caso, um mito histórico. As invenções acrescentadas na história serviram como recurso didático para o simbolismo do grau e o método alegórico inculca na instituição sua conexão ao antigo templo. A lenda da Maçonaria na fundação do mundo, da sua datação do anno lucis, simboliza a criação da luz física do universo com o nascimento da luz maçônica ou espiritual ou intelectual do candidato. O haja luz material é um artifício da luz espiritual que incide no candidato, nos meios intelectual e espiritual, que o tira da escuridão do caos.

A lenda do grau de Mestre e do Arco Real misturam mito histórico e história mítica suscitando discussões entre os escritores maçônicos, uns a favor que sejam mitos filosóficos, outros que sejam histórias míticas, que é o caso de Mackey. O maçom deve ser comedido entre as interpretações das tradições entre história e invenções, distanciando dos extremos. A espiritualidade da narrativa é que o satisfaz à Maçonaria, não a tornando uma mera convenção social. O compromisso do maçom com ideias e conceitos o faz caridoso pelas lições de verdade divina destes conhecimentos. O habilidoso maçom não faz de sua experiência uma mera fraseologia de ritual para abrir e fechar a Loja nem uma mesquinha indiferença para conferir graus. Com propósitos e símbolos, a Maçonaria, se esvaziada, seria mera brincadeira de criança. O estudo e o bom entendimento constituem o conceito de Maçonaria.

À.G.D.G.A.D.U
E. L. de Mendonça
SALUS SAPIENTIA STABILITAS

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