O Livro “O Simbolismo da
Maçonaria” foi publicado originalmente
em 1882, mas foi escrito em 1869, em Charleston, Carolina do Sul (EUA) por
Albert G. Mackey. O livro por ora analisado foi lançado pela editora Universo
dos Livros em 2008 e traduzido por Caroline Furukawa.
CAPÍTULO XXV: AS LENDAS MAÇÔNICAS
A construção do Templo do Rei
Salomão fez da Maçonaria Pura dos noaquidas a união com a Maçonaria Espúria dos
operários de Tiro favorecendo a distinção entre mítico, ou legendário, e o
material. Os símbolos materiais são os implementos dos pedreiros e os
ornamentos de uma Loja e a lenda de Hiram, sua filosofia, a exemplo da Palavra
Perdida, são símbolos míticos ou legendários. O ramo de acácia, um artefato
material, é reconhecido como símbolo mítico pois seu sentido está para além de
sua forma material e sim relacionada intimamente com a Lenda de Hiram.
As lendas maçônicas são uma
parte verdadeira e importante do ritual e nelas está a profunda
instrução religiosa que a instituição pretende inculcar. A simbologia não
encerra os ritos maçônicos, ela ainda vale-se da alegoria que faz o Neófito
velar pela verdade divina da Maçonaria. O propósito e o método de
execução relacionam a Maçonaria aos Mistérios Antigos. O caráter místico das
religiões introduziu à Maçonaria seu sistema. A palavra mito é uma narrativa de
um evento despreocupada com a veracidade documental, mas que certifica uma evidência
interna da própria tradição. A interpretação alegórica destes mitos começa
no Egito ou no Oriente e foram ensinadas metodicamente aos gregos sob o véu
dos símbolos. O símbolo era a fase inicial da linguagem que seria
reforçada pela alegorismo para bem estabelecer o entendimento da doutrina respeitando
Deus, a natureza e a humanidade. No entanto, os poetas ao popularizarem as
narrativas fizeram com que a essência fosse perdida no sentido literal
do ensino. Para preservação desta essência, fraternidades religiosas
eram compostas por membros iniciados em determinadas cerimônias místicas
administradas por famílias de sacerdotes.
Mackey legitima o uso alegórico
da ritualística maçônica como sendo uma antiga didática utilizada há séculos
por fraternidades que tentavam sustentar a fidelidade de suas verdades contra
as frivolidades perversoras ou trivialidades de tendência. A Maçonaria não está
resumida a estudo de símbolos e sua utilização ritualística, a alegoria também
faz parte dos costumes maçônicos herdados de tradições anciãs. A condição de
ancianidade para legitimar usos e costumes maçônicos é comum na literatura de
Mackey, além de fazer a distinção que a Maçonaria não pratica paganismo mas
mantém seu escopo como defensora teísta do monoteísto e da religiosidade.
Os mitos da Maçonaria são
tradições do sistema antediluviano que foram corrompidos por má
interpretações, gradativamente recuperadas, no entanto, ao ensino da verdade
adequado doutrinariamente ao que a Maçonaria ensina nos dias atuais. Os mitos
ou lendas são classificados em três classes, sendo elas :1- o mito
histórico , quando a narrativa é fornecida com um leve fundo de verdade , sendo
o fato bastante corrompido, seja por omissões ou introduções de personagens; 2-
o mito filosófico, aquele totalmente inventado com o intuito de criar ficção
facilitadora para ensino ou compreensão de determinada doutrina; 3- história
mítica, quando um fato é narrado com fidelidade, predominando a veracidade
sobre o colorido da imaginação, é relato mais fiel que o mito histórico.
Os mitos maçônicos são de tradições
orais fundindo realidade e ideais. O mito de Hiram Abiff, por exemplo, é uma
ilustração de uma verdade filosófica ou religiosa, que seja a doutrina
imortalidade da alma. Nem todas as lendas maçônicas são, literalmente,
fatos históricas mas possuem substrato de história e as invenções que a há
nela servem para o ensino de verdades religiosas; noutros casos, a história
geralmente predomina. Por exemplo, a lenda de Euclides maçom, que introduzira a
Maçonaria entre os egípcios. O grande geômetra certamente não era maçom nem
sequer estabelecera a instituição no Egito, mas esta absoluta invenção é
um mito filosófico que praticamente ajuda na compreensão, simbolicamente, de
uma verdade maçônica, ou seja, que a instituição é uma fusão entre ciência,
pela geometria, e o sistema religioso, pela teocracia e Mistérios do Egito. A
intepretação desta lenda nos faz entender que a ciência da religião partilha
das ciências astronômicas, da física e da geometria.
A ilustração da lenda da Escada
em Espiral é o exemplo dos Companheiros que ascendiam à Câmara do meio. É fato
que havia no templo um lugar chamado Câmara do Meio e que havia escadas
em espiral (1Rs 6.8). Porém, não sabemos a veracidade da Escada e da Câmara
do meio em sua aplicação mítica no ritual do segundo grau. A lenda é, neste
caso, um mito histórico. As invenções acrescentadas na história serviram como
recurso didático para o simbolismo do grau e o método alegórico inculca na
instituição sua conexão ao antigo templo. A lenda da Maçonaria na fundação do
mundo, da sua datação do anno lucis, simboliza a criação da luz
física do universo com o nascimento da luz maçônica ou espiritual ou
intelectual do candidato. O haja luz material é um artifício da
luz espiritual que incide no candidato, nos meios intelectual e espiritual,
que o tira da escuridão do caos.
A lenda do grau de Mestre e do
Arco Real misturam mito histórico e história mítica suscitando discussões entre
os escritores maçônicos, uns a favor que sejam mitos filosóficos, outros que
sejam histórias míticas, que é o caso de Mackey. O maçom deve ser comedido entre
as interpretações das tradições entre história e invenções, distanciando dos
extremos. A espiritualidade da narrativa é que o satisfaz à Maçonaria, não a
tornando uma mera convenção social. O compromisso do maçom com ideias e
conceitos o faz caridoso pelas lições de verdade divina destes
conhecimentos. O habilidoso maçom não faz de sua experiência uma mera
fraseologia de ritual para abrir e fechar a Loja nem uma mesquinha indiferença
para conferir graus. Com propósitos e símbolos, a Maçonaria, se
esvaziada, seria mera brincadeira de criança. O estudo e o bom entendimento
constituem o conceito de Maçonaria.
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