CAPÍTULO VI: OS ARTÍFICES DIONISÍACOS
Os Mistérios religiosos do mundo
antigo estão intimamente relacionados à Maçonaria. Um dos mais difundidos foi o
do deus grego Dionísio, quem se espalhou para Roma, Síria e Ásia Menor. Nas
paragens orientais, o rito celebrado unia a doutrina secreta da morte de
Dionísio pelos Titãs ao especulativismo, defensor da unidade de Deus e imortalidade da
alma, pelos construtores dos templos e obras públicas.
Mackey utiliza o termo “Mistérios
Antigos” para referenciar a validade da verdade da crença na imortalidade da alma
como sendo algo tradicional nas civilizações e que este conhecimento era
revelado de modo cerimonial por meio da Iniciação. O método esotérico, já
explicado em capítulo anterior, era utilizado para evitar a banalização da
crença entre pessoas incompetentes e por proteção aos líderes inimigos desta
verdade que detinham o poder político. As iniciações revelavam que a morte
encerrava a vida e que a alma era imortal. No caso de Adônia, inclusive, esta
imagem era comparada com leis da natureza.
Utilizando a teoria de Thirwall,
Mackey defende a ideia de que os Mistérios foram resquícios de uma
adoração anterior a fantasia da mitologia helênica, sendo aquela mais
adequada ao pensamento filosófico como do sentido religioso. Neste caso, os
asiáticos eram mais preparados que os ocidentais pois tendiam a favor de uma
pureza religiosa ou à Maçonaria Pura do mundo antediluviano. Os
dionisíacos da Ásia Menor eram, inclusive, uma associação de arquitetos e
engenheiros, construtores de templos, estádios e teatros, unidos por uma
ciência e sinais em comum.
Para o autor, a forma de
entendimento e venerabilidade em terras asiáticas, especialmente no Oriente
Médio, eram mais moralizadoras do que nas áreas do Ocidentais, leia-se Grécia. Fica
subtendido que esta proximidade territorial com os “Noaquitas” fez com que a
região Oriental fosse mais ortodoxa, em tendência, do que a Ocidental. A
relação entre a Natureza e a verdade da imortalidade foi destacada como sendo
um sinal desta aprofundada relação entre Oriente e Maçonaria Pura em essência,
sendo praticada, porém, a Maçonaria Espúria.
O rito dionisíaco estava baseado
no assassinato do deus-herói e a subsequente descoberta de seu corpo. O
aspirante representava alegoricamente e dramaticamente o assassinato, sendo que
a primeira parte era o confinamento dos iniciantes no pasto, cama ou caixão; o
ritual seguia com Réia buscando os restos mortais com cenas de confusão e
tumulto até que o lamento se transforma em alegria, com a luz
sucedendo a escuridão e o mistério é revelado: a crença na existência de
um deus e um estado futuro de recompensas e punições . O Mistério tal qual
era praticado pelos arquitetos- os maçons por assim dizer – da Ásia
Menor era materializado nas colônias ou lojas de arquitetos místicos
pelo esplendor da cidade de Tiro, com edifícios contemporâneos ao Templo
encomendado pelo rei Salomão.
A palavra “Mistério” utilizada
por Makey era sinônimo para escola de mistério ou escola iniciática. Ele
correlacionou esta palavra à associação de “pedreiros” que praticavam o rito
dionisíaco, revelador da crença na existência de “um deus” e da existência após
a morte. A condição de serem operários construtores será a base para a teoria
de justificação da união entre Maçonaria Pura e Maçonaria Espúria, sendo
exterior operativa e interior espiritual.
Analisando a origem teórica do
rito dionisíaco, nosso autor conclui que foram os gregos jônicos que, ao
colonizarem o território à oriente, levaram esta crença. Porém, ela era quase
que totalmente diferente da que era praticada no Ocidente pois, neste caso,
estava deturpada em seu sentido moral e espiritual. No seu contexto oriental,
relacionado ainda a operatividade, que é uma virtude humana em sua
especialidade civilizatória, seria muito provável que a fraternidade
dionisíaca tenha procedido a iniciação de Hiram construtor em seus
Mistérios.
A construção do Templo no Monte
Moriá, ação conjunta entre Salomão e o rei de Tiro, teve a supervisão do
experiente artífice, filho da viúva da tribo de Nephtali, herdeiro de
conhecimentos em metalurgia e escultura. Este mestre-de-obras deve ter sido
ligado à fraternidade dionisíaca e era de grande afeto do rei. Sua suposta partidarização
com as práticas cerimoniais dos artífices dionisíacos o inclinou a
ensinar aos operários de Jerusalém. As lições dominadas por Hiram, filho da
viúva, eram de fraternidade, caridade, Iniciação, sinais de reconhecimento e
arcabouço moral por símbolos e alegorias. Para os trabalhadores de carga e
artífices eram ensinados mistérios menores, seriam os Aprendizes e
Companheiros, e os mistérios maiores da competência dos Mestres.
A inserção de Hiram Abiff na
teoria de Mackey é feita como sendo uma representação simbólica da fraternidade
dionisíaca dos construtores da Ásia Menor, a vertente mais espiritualista se
comparada com a original grega. Na Grécia, o culto a Dionísio era eivado por
implicações cercadas de imoralidades. No contexto oriental, como explanado
anteriormente, a lição iniciática serviu a verdades espiritualistas as quais
ansiavam. A fraternidade oriental tinha na pessoa de Hiram Abiff o operário que
seria a síntese entre a Maçonaria Pura, de Salomão, e a Maçonaria Espúria, da
fraternidade dionisíaca de Tiro. Porém, conceitualmente, é interessante
ressaltar que esta Maçonaria Espúria está amadurecendo para a unidade pela
verdade através do método esotérico. A capacidade conferida a Hiram Abiff o faz
Mestre e exemplo de preparo de superação das outras etapas, que sejam os Graus
de Aprendiz e Companheiro. Sua excelência em ser mestre-de-obras é o arquétipo
daquilo que a escola iniciática oferece a seus iniciados.
Dificilmente a lenda de Dionísio
seria aceita pelos artífices judeus, zelosos por sua crença em Deus, denominado
Jeová, cujo princípio religioso era o da Maçonaria Primitiva. A celebração de
mitos pagãos não estava de acordo com a educação deste povo. Mas com o
assassinato do arquiteto-chefe, foi fornecido à Maçonaria sua lenda
apropriada ao testemunho da ressurreição do corpo e a imortalidade da
alma.
A lenda de Hiram é testificada,
independente de sua historicidade, pela tradição entre os maçons mais
antigos, estando intrínseca à instituição maçônica Regular. A probabilidade
da veracidade de Hiram Abiff está de acordo com a autoridade escrita sobre o
assunto (a Bíblia) e sua morte, silenciada pelas Escrituras, foi devido o
relato público inadequado, acabando por tornar-se relativa ao simbolismo
iniciático.
A formação do mito Hirâmico foi involuntária,
mas adequada ao pensamento religioso dos judeus que não aceitariam a forma
dionisíaca. O Mestre Hiram Abiff, afeto de dois reis e com o título de Ab -pai-
deve ter sido recordado pela posteridade de alguma maneira e a natureza de sua
morte, descrita na lenda maçônica , não descarta elementos míticos a uma
narrativa adequada aos Mistérios Antigos.
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