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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

ANÁLISE DO LIVRO: O SIMBOLISMO DA MAÇONARIA (ALBERT G. MACKEY) PARTE VI

 




O Livro “O Simbolismo da Maçonaria” foi publicado originalmente em 1882, mas foi escrito em 1869, em Charleston, Carolina do Sul (EUA) por Albert G. Mackey. O livro por ora analisado foi lançado pela editora Universo dos Livros em 2008 e traduzido por Caroline Furukawa.


CAPÍTULO VI: OS ARTÍFICES DIONISÍACOS

Os Mistérios religiosos do mundo antigo estão intimamente relacionados à Maçonaria. Um dos mais difundidos foi o do deus grego Dionísio, quem se espalhou para Roma, Síria e Ásia Menor. Nas paragens orientais, o rito celebrado unia a doutrina secreta da morte de Dionísio pelos Titãs ao especulativismo, defensor da unidade de Deus e imortalidade da alma, pelos construtores dos templos e obras públicas.

Mackey utiliza o termo “Mistérios Antigos” para referenciar a validade da verdade da crença na imortalidade da alma como sendo algo tradicional nas civilizações e que este conhecimento era revelado de modo cerimonial por meio da Iniciação. O método esotérico, já explicado em capítulo anterior, era utilizado para evitar a banalização da crença entre pessoas incompetentes e por proteção aos líderes inimigos desta verdade que detinham o poder político. As iniciações revelavam que a morte encerrava a vida e que a alma era imortal. No caso de Adônia, inclusive, esta imagem era comparada com leis da natureza.

Utilizando a teoria de Thirwall, Mackey defende a ideia de que os Mistérios foram resquícios de uma adoração anterior a fantasia da mitologia helênica, sendo aquela mais adequada ao pensamento filosófico como do sentido religioso. Neste caso, os asiáticos eram mais preparados que os ocidentais pois tendiam a favor de uma pureza religiosa ou à Maçonaria Pura do mundo antediluviano. Os dionisíacos da Ásia Menor eram, inclusive, uma associação de arquitetos e engenheiros, construtores de templos, estádios e teatros, unidos por uma ciência e sinais em comum.

Para o autor, a forma de entendimento e venerabilidade em terras asiáticas, especialmente no Oriente Médio, eram mais moralizadoras do que nas áreas do Ocidentais, leia-se Grécia. Fica subtendido que esta proximidade territorial com os “Noaquitas” fez com que a região Oriental fosse mais ortodoxa, em tendência, do que a Ocidental. A relação entre a Natureza e a verdade da imortalidade foi destacada como sendo um sinal desta aprofundada relação entre Oriente e Maçonaria Pura em essência, sendo praticada, porém, a Maçonaria Espúria.

O rito dionisíaco estava baseado no assassinato do deus-herói e a subsequente descoberta de seu corpo. O aspirante representava alegoricamente e dramaticamente o assassinato, sendo que a primeira parte era o confinamento dos iniciantes no pasto, cama ou caixão; o ritual seguia com Réia buscando os restos mortais com cenas de confusão e tumulto até que o lamento se transforma em alegria, com a luz sucedendo a escuridão e o mistério é revelado: a crença na existência de um deus e um estado futuro de recompensas e punições . O Mistério tal qual era praticado pelos arquitetos- os maçons por assim dizer – da Ásia Menor era materializado nas colônias ou lojas de arquitetos místicos pelo esplendor da cidade de Tiro, com edifícios contemporâneos ao Templo encomendado pelo rei Salomão.

A palavra “Mistério” utilizada por Makey era sinônimo para escola de mistério ou escola iniciática. Ele correlacionou esta palavra à associação de “pedreiros” que praticavam o rito dionisíaco, revelador da crença na existência de “um deus” e da existência após a morte. A condição de serem operários construtores será a base para a teoria de justificação da união entre Maçonaria Pura e Maçonaria Espúria, sendo exterior operativa e interior espiritual.

Analisando a origem teórica do rito dionisíaco, nosso autor conclui que foram os gregos jônicos que, ao colonizarem o território à oriente, levaram esta crença. Porém, ela era quase que totalmente diferente da que era praticada no Ocidente pois, neste caso, estava deturpada em seu sentido moral e espiritual. No seu contexto oriental, relacionado ainda a operatividade, que é uma virtude humana em sua especialidade civilizatória, seria muito provável que a fraternidade dionisíaca tenha procedido a iniciação de Hiram construtor em seus Mistérios.

A construção do Templo no Monte Moriá, ação conjunta entre Salomão e o rei de Tiro, teve a supervisão do experiente artífice, filho da viúva da tribo de Nephtali, herdeiro de conhecimentos em metalurgia e escultura. Este mestre-de-obras deve ter sido ligado à fraternidade dionisíaca e era de grande afeto do rei. Sua suposta partidarização com as práticas cerimoniais dos artífices dionisíacos o inclinou a ensinar aos operários de Jerusalém. As lições dominadas por Hiram, filho da viúva, eram de fraternidade, caridade, Iniciação, sinais de reconhecimento e arcabouço moral por símbolos e alegorias. Para os trabalhadores de carga e artífices eram ensinados mistérios menores, seriam os Aprendizes e Companheiros, e os mistérios maiores da competência dos Mestres.

A inserção de Hiram Abiff na teoria de Mackey é feita como sendo uma representação simbólica da fraternidade dionisíaca dos construtores da Ásia Menor, a vertente mais espiritualista se comparada com a original grega. Na Grécia, o culto a Dionísio era eivado por implicações cercadas de imoralidades. No contexto oriental, como explanado anteriormente, a lição iniciática serviu a verdades espiritualistas as quais ansiavam. A fraternidade oriental tinha na pessoa de Hiram Abiff o operário que seria a síntese entre a Maçonaria Pura, de Salomão, e a Maçonaria Espúria, da fraternidade dionisíaca de Tiro. Porém, conceitualmente, é interessante ressaltar que esta Maçonaria Espúria está amadurecendo para a unidade pela verdade através do método esotérico. A capacidade conferida a Hiram Abiff o faz Mestre e exemplo de preparo de superação das outras etapas, que sejam os Graus de Aprendiz e Companheiro. Sua excelência em ser mestre-de-obras é o arquétipo daquilo que a escola iniciática oferece a seus iniciados.

Dificilmente a lenda de Dionísio seria aceita pelos artífices judeus, zelosos por sua crença em Deus, denominado Jeová, cujo princípio religioso era o da Maçonaria Primitiva. A celebração de mitos pagãos não estava de acordo com a educação deste povo. Mas com o assassinato do arquiteto-chefe, foi fornecido à Maçonaria sua lenda apropriada ao testemunho da ressurreição do corpo e a imortalidade da alma.

A lenda de Hiram é testificada, independente de sua historicidade, pela tradição entre os maçons mais antigos, estando intrínseca à instituição maçônica Regular. A probabilidade da veracidade de Hiram Abiff está de acordo com a autoridade escrita sobre o assunto (a Bíblia) e sua morte, silenciada pelas Escrituras, foi devido o relato público inadequado, acabando por tornar-se relativa ao simbolismo iniciático.

A formação do mito Hirâmico foi involuntária, mas adequada ao pensamento religioso dos judeus que não aceitariam a forma dionisíaca. O Mestre Hiram Abiff, afeto de dois reis e com o título de Ab -pai- deve ter sido recordado pela posteridade de alguma maneira e a natureza de sua morte, descrita na lenda maçônica , não descarta elementos míticos a uma narrativa adequada aos Mistérios Antigos. 

À.G.D.G.A.D.U
E. L. de Mendonça
SALUS SAPIENTIA STABILITAS

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