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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

ORNAMENTOS MAÇÔNICOS NA EXEGESE DO PAINEL FRANCÊS R.E.A.A



 

TERNÁRIO DOS ORNAMENTOS (PAVIMENTO MOSAICO, ORLAS DENTEADAS E CORDA) Trabalho dedicado aos IIr∴ Lúcio de Oliveira e Elenilson Ferreira

O Painel de Aprendiz Maçom do Grau de Aprendiz traz um conjunto de elementos que definem boa parte da doutrina maçônica. Os elementos são ternarizados, sendo que cada a intepretação não impede uma análise individual de cada elemento, mas que agrupados em três, por seu simbolismo, oferece uma revelação generalizadora. Na estudo sobre o Maço e Cinzel, instrumentos do Aprendiz de acordo com a versão francesa, temos uma dualidade que esotericamente é completada com o indivíduo maçom perfazendo seu ternário. Neste estudo, teremos a proposição de que o maçom é simbolizado pelos Ornamentos maçônicos.

O Pavimento Mosaico é caracteristicamente branco e preto, entendido geralmente como representação do Bem e Mal ou Imanência e Transcendência. A Lei da Dualidade não é estranha esta disposição dicotômica, modelo do dualismo dos Instrumentos do Aprendiz para a concepção francesa do Painel do grau. O homem é prefigurado pelo Pavimento Mosaico em sua dupla aspiração existencial Material e Imaterial ou Espiritual, tal como está simbolizado na acomodação entre Esquadro e Compasso referente a evolução gradual do maçom. Esta dualidade do ser humano está representada pela vestimenta ritualística maçônica em branco e preto como exige o decoro, por exemplo, do Rito Escocês Antigo e Aceito.

A Lei da dualidade é a antecedência para a Lei do Triângulo pela Manifestação da terceira ponta do Triângulo. A Imanência e a Transcendência que compõem o homem são as duas pontas do Triângulo que sozinhas são a Dualidade que antecede a Manifestação, ou seja, o Homem. A Manifestação, ou o Homem, é a terceira ponta do Triângulo que anseia por sua plenitude pela imagem do G.A.D.U representada pelo Delta Sagrado. A Alma, emanada do Criador, faz dualidade com o corpo fazendo manifestar o ser humano. A Alma e o Corpo pertence, desse modo, a um indivíduo que exterior a si busca pelo seu Criador através de sua Conscientização, ou seja, trabalhando na aperfeiçoamento da Pedra, símbolo de sua consciência sediada na Alma. O Criador, por sua vez, influi o seu Espírito ao maçom, desde sua Iniciação, para que lhe seja dada a “vivificação” (Ruáh observar a grafia correta do hebraico) capacitadora a serviço do seu intento. O homem, desse modo, possui maçônicamente, natureza tripartite: Corpo, Alma e Espírito, senda esta última a representação da plenitude do Terceiro Grau. O Corpo e a Alma, no Ocidente, ascende ao Espírito, no Oriente.

O Pavimento Mosaico, que leva este nome devido a sua forma entendida como original do Templo de Salomão, era um costume na ornamentação estética dos povos da antiguidade. Nos tempos operativos a doutrina do Pavimento não havia sido pensada, apenas com a fundamentação da ideia de Templo pela Grande Loja da Inglaterra em 1776 que o Pavimento foi idealizado. No Templo Maçônico, especialmente no de Rito Escocês Antigo e Aceito, o Pavimento está adequado aos passos do Maçom no Universo, contraposto à Sala dos Passos Perdidos. A forma dos quadrados é em diagonal orientando a postura do maçom no Ritual.

A Orla Denteada ou Orla Dentada, está no Painel francês em todo quadrante Norte, Sul, Ocidente e Oriente. O formato triangular das figuras de toda a borla são representações dos elementos evocados no Pavimento, seguindo a mesma coloração. A Lei do Triângulo está exteriorizada no formato denteado da Orla. A maioria dos exegetas do Painel confirmam que estas figuras são os maçons que percorrem, em união, todo o quadrante do Templo. A disposição da ponta triangular branca para fora é a influência iluminativa (do Espírito) e a ponta preta para dentro é a recepção desta pela matéria no “interior” (ASLAN, 2012:950). A ponta “para fora” representa a transcendência da Iluminação e a “para dentro” a imanência que receberá a Iluminação. A exegese dos dois símbolos são intrínsecos, sendo que o Pavimento Mosaico esotericamente representa o Maçom e as Borlas o Maçom em unidade. A referência para às Orlas é o Pavimento Mosaico, seja por sua austeridade nas cores seja por sua simbolização esotérica.

O terceiro elemento do ternário é tema de uma pequena polêmica. Para Pedro Juk, o ternário dos Ornamentos é completado com a Estrela Flamejante; essa também era a ideia de Albert Pike. Porém, este símbolo, praticamente em todos os sentidos, é componente do Painel do Grau de Companheiro e parte de seu universo simbólico. Não é salutar contextualizá-lo ao Grau de Aprendiz. Por isso, será mais cabível considerar a Corda como sendo o terceiro componente do Ternário dos Ornamentos. A posição segue a exegese de Paulo Antônio Outeiro Hernandes, em seu Curso de Formação de Aprendizes do R.E.A.A, que define como Ornamentos do Templo o Pavimento Mosaico, a ‘’Orla Dentada’’ e a Corda de 81 Nós (2017:125). A proposta que apresentamos, concernente ao Painel de Aprendiz, considera que a Corda de Sete Nós seja o foco da doutrina dos Ornamentos, sendo a Corda de 81 Nós analisada como em sua singularidade simbólica exterior a formulação dos conjuntos mas que dividida em seu ternário simbólico de Corda, Laços e Borlas.

A Estrela Flamejante, como sendo parte do ternário do Painel francês do Grau de Aprendiz é defendido por Pedro Juk em seu Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom, determinando que para o Grau de Aprendiz seria uma ‘’luz intermediária entre as luminárias terrestres’’ (2007:100). Albert Pike, em Moral e Dogma, também contextualiza a Estrela Flamejante ao Grau de Aprendiz, comparando-a a Sirius que anunciava as enchentes do Nilo (2011:18). Para outros autores, a Estrela Flamejante é um símbolo dedicado e exclusivo à exegese do Grau de Companheiro. O Dicionário Maçônico de Rizzardo da Camino diz que a Estrela Flamejante é o símbolo máximo do Grau de Companheiro (2018:166) e Nicola Aslan entende, no seu Grande Dicionário Enciclpédico, que a Estrela Flamejante é a representação de todos os símbolos do Companheiro (2012:475), em seu “Vade-Mecum” para o Ritual de Aprendiz não há nenhuma referencia exegética à Estrela Flamejante. Este é o mesmo posicionamento de Joaquim Gervásio Figueiredo, no Dicionário de Maçonaria, o qual a Estrela Pentagonal é emblema individual do Grau de Companheiro (2016:139). Para Álvaro de Queiroz, em seu Maçonaria Simbólica, que discute os símbolos da “Maçonaria Azul” ou dos Graus Simbólicos, também não há nada relacionado a Estrela Flamejante e o Grau de Aprendiz. A ideia de que a Estrela Flamejante seja um Ornamento alusivo ao Grau de Aprendiz não é uma unanimidade.

A Corda, como Ornamento, está representada no Painel do Grau de Aprendiz, seja no simbólico, com seus sete laços, seja no alegórico, com suas borlas. O formato da corda é o de lemniscata, ou oito deitado, símbolo da eternidade, demonstra o compromisso maçônico de unidade infindável entre os maçons. Na iconografia do Grau está em número de sete nós e circunda as Colunas do Norte e do Sul. O número sete em Maçonaria, como ensina José Castellani, está relacionado com a mística judaico-cristã mas era comum ser entendido com sacralidade por povos mesopotâmicos por estarem referidos aos planetas conhecidos na época (2006:153) e Nicola Aslan assevera que este seja o mais sagrado dos números místicos pois simboliza o espírito dominando a matéria (2012:129). A Corda com Sete Nós, contextualizada com o ternário dos Ornamentos, esotericamente revela a sacralidade da união infindável entre os maçons.

Conclusão

O ternário dos Ornamentos da Maçonaria são Pavimento Mosaico, Orlas Denteadas e a Corda. O Pavimento Mosaico esotericamente refere ao Maçom, personalizado pela sua veste ritualística concomitante com as cores austeras e acromáticas; as Borlas Denteadas refere a unidade dos Maçons em sua universalidade e a Corda em Sete Nós é a sacralização do Maçom e da sua união. Esta proposta de exegese é adequada ao Painel de Aprendiz francês, também denominado usualmente de “simbólico”, do Rito Escocês Antigo e Aceito. Como exposto no texto, cada símbolo possui um interpretação esotérica que está sintetizada nas definições. 

O termo Ornamento está relacionado etimologicamente com a palavra em latim ornamentum, que está referida a visibilização daquilo que se demonstra e está relacionado a beleza ou alguma coisa que demonstre uma qualidade positiva. Na utilidade maçônica, os maçons são o ornamento da Ordem ou sua qualidade de transformação, em essência, do homem. Nisto consiste a beleza da Maçonaria, sua espiritualidade, esoterismo e mística. Os símbolos analisados e que foram possíveis para esta conclusão fazem parte da exegese de vários maçons, esta proposição pretende considerar hermeneuticamente todos os símbolos constantes sem invalidações pueris derivados da qualificação de estética vazia ou que levem a uma interpretação despropositada com o simbolismo, considerando que todos os símbolos não estão esvaziados de esoterismo.
À.G.D.G.A.D.U
Emanoel L. de Mendonça jr 
SALUS SAPIENTIA STABILITAS

Bibliografia



ASLAN, Nicola. Comentários ao Ritual de Aprendiz Vade Mecum Iniciático. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 2006.

___________. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”,2012.

CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 5 ed. São Paulo: Madras, 2018.

CASTELLANI, José. O Rito Escocês Antigo e Aceito: História Doutrina Prática. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 2006.

FIGUEIREDO, Joaquim G. Dicionário de Maçonaria. 2 ed. São Paulo: Pensamento, 2016.

HERNANDES, Paulo Antonio Outeiro. Curso de Formação de Aprendizes do R.E.A.A. 2 ed. Londrina:Editora Maçônica “A TROLHA”, 2017.

JUK, Pedro. Exegese simbólica para o Aprendiz Maçom. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 2007.

PIKE, Albert. Moral e Dogma. Tradução de Celes Januario Garcia Junior e Glaucp Bonfim Rodrigues. Birigui: Editora YOD, 2011.

QUEIROZ, Álvaro de. A Maçonaria simbólica. São Paulo: Madras, 2010.



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