O Salmo 133 é leitura essencial para o Rito Escocês Antigo e Aceito para a maioria das Lojas Simbólicas brasileiras. Sua proclamação esotérica evoca a unidade entre os irmãos consolida a ideia de fraternidade na irmandade maçônica. O presente trabalho analisa seu espaço ritualístico, sua oficialidade perante o Grande oriente do Brasil, a polêmica entre seus críticos, sua beleza exegética e o misticismo. Salus, Sapientia, Stabilitas.
Trabalho dedicado aos IIr ∴ Marcio Macedo e Felipe Mike
A ritualística de Abertura da Sessão Maçônica
Ritual, em ambiente maçônico, é empregado em dois sentidos:
1- Conjunto das cerimônias, práticas e prescrições ordenadas por determinado rito; por exemplo, quando se fala: “Vai ter início o ritual de Iniciação”. É o rito em funcionamento.
2- Livro que contém a descrição dessas cerimônias, práticas e prescrições; por exemplo, quando se fala: “Você já recebeu o ritual de Aprendiz?”
Ritualística, como substantivo, tem o mesmo sentido de “ritual”. É a execução , durante as sessões, das ordens determinadas pelos dirigentes do rito.
Em regra, as sessões maçônicas são ritualísticas, praticadas por maçons regulares.
- Sessões maçônicas de cerimônias especiais também fazem parte do Ofício Maçônico, a exemplo dos “Banquetes Ritualísticos” e da “Iniciação Maçônica”.
- Sessões onde estão presentes profanos, são denominadas públicas. Maçons em situação irregular também não estão presentes em sessões ritualísticas.
- Sessões ordinárias com profanos, a exemplo de palestras, são usualmente denominadas sessões brancas.
- Todo desenvolvimento da sessão é previsto pelo Ritual (Livro), os obreiros que intervêm na ritualística leem suas falas de modo apropriado e com procedimentos inalterados.
- A disciplina da ritualística inculca na mente dos obreiros os conceitos básicos e a filosofia do grau.
- É proibido incluir, suprimir ou modificar palavras, expressões ou frases constantes no Ritual.
- Abertura ritualística: Mestre de Cerimônias conclama os obreiros reunidos no Átrio para estarem em silêncio e concentrados para o início dos trabalhos. Os irmãos entram no Templo e permanecem em pé voltados para o centro. Após a ordem do Venerável Mestre de sentarem-se, são recitadas as falas previstas. O Orador abre o Livro da Lei, lê o trecho relativo ao grau da sessão, coloca sobre as páginas o Esquadro e o Compasso devidamente alinhados e o Venerável determina que todos fiquem à ordem. Durante a abertura, são acesas as lâmpadas nos candelabros do Venerável Mestre e Vigilantes, em honra ao G. A. D. U;
- Leitura e Aprovação da Ata: Ofício do Secretário que submete ao Venerável a aprovação dos irmãos;
- Leitura e destino do expediente: A pedido do Venerável, o Secretário lê a correspondência recebida; leis e decretos são lidos pelo Orador;
- Saco de propostas e informações: Sacola que o Mestre de Cerimônias circula pela Loja para comunicação ou propostas para oficialização em ata;
- Escrutínio Secreto: Admissão de novos candidatos (esporádica);
- Ordem do Dia: O Secretário lê a relação dos temas, previamente elaborada em conjunto com o Venerável, para manifestação dos irmãos em Loja. Momento de tomada de decisões para a Loja ou para a comunidade;
- Tempo de Estudos: Momento especial de evolução da Loja, a ritualística, nesse momento, permite a liberação de palavras, intervenções e comentários para uma maior participação da Loja em sua abstração do ensino e teor espiritualista apresentado (se for o caso). Depois, o Venerável faz o comentário do trabalho apresentado e determina o retorno ao ritual;
- Tronco de Beneficência : momento de recolher óbolos;
- Palavra a bem da ordem, em geral, e do quadro, em particular: Momento em que o Venerável faz ouvir as Colunas do Sul e do Norte, o Chanceler parabeniza os aniversariantes ou celebra alguma efeméride, o Tesoureiro revela o tronco de beneficência. Momento de falas rápidas e agradecimentos, sem discussões típicas da Ordem do Dia. Não havendo ninguém mais a falar, o Venerável passa a palavra ao Orador;
- Encerramento ritualístico: O Orador, após analisar os trabalhos, saudar visitantes validar a sessão como “Justa e Perfeita”, são feitas novas leituras do ritual, o 1º Vigilante fecha a Loja e o Venerável Mestre declara encerrados os trabalhos.
Tema fundamental do Grau Aprendiz
Para o G.O.B, o Grau I é dedicado à União Fraternal:
“ O 1º grau do Simbolismo Maçônico, Grau de Aprendiz, é consagrado à Fraternidade, tendo como objetivo principal a união de toda humanidade” ( Ritual, 2009:11).
O uso do Livro do Sagrado, o Livro da Lei para o R.E.A.A
O uso da Bíblia Sagrada é essencial para o rito escocês pois ele norteia invariavelmente a ritualística. Para o G.O.B, o Altar do Juramento não prescinde da sua presença: “ em caso de juramento realizado sobre outro livro diferente da Bíblia, esta não seja retirada do Altar dos Juramentos” ( Ritual, 2009:17).
Para Rizzardo da Camino, o Livro Sagrado é o Livro da Lei conceitual, pois é aberto , por preceito litúrgico, para leitura de determinado trecho que afina com o grau a ser executado, dando início da Luz que construirá a Egrégora. ( Dicionário Maçônico, 2008:250).
Nicola Aslan considera que seria o Livro Sagrado da religião dominante no país, ‘contendo a vontade revelada do Grande Arquiteto do Universo’’ ( Grande Dicionário Enciclopédico, 2012:690). Seria este Livro ideal , para o mundo cristão, deve ser a Bíblia e
que Livro da Lei representa a espiritualidade do Maçom: “No ato de prestar o
Juramento, a Bíblia é considerada como o Símbolo da Vontade Divina, ou seja, os
Ditados de Deus, ou do Espiritualismo Maçônico que todo Maçom deve possuir” ( Vade
Mecum Iniciático, 2006:173).Defende, por fim, que o Livro seja deixado aberto durante a sessão Maçônica, citando Mackey: “um antigo uso da Fraternidade quer que o Livro da Lei esteja sempre aberto na Loja(...) O Livro da Lei é a Grande Luz da Maçonaria (...) estando aberto , indica que a Loja não está nas trevas, mas sob influência de um poder iluminativo... No 1º Grau , a Bíblia abre-se no Salmo 133, eloquente descrição da beleza do amor fraternal(...).
Os dois autores maçônicos, consagrados em sua bibliografia, estão afinados com a ideia de que o Livro da Lei é a Bíblia, por sua espiritualidade e deve ser estar aberto, pela sua utilidade mística (iluminativa) e ritualística (Tema Fundamental do Grau I). Esta é a concepção do G.O.B.
Salmo 133 ou Jo 1.1-5 ?
João 1.1-5:
“No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele,e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. (Almeida Revista e Corrigida).
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele,e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. (Almeida Revista e Corrigida).
O Evangelho de São João, de acordo com Pedro Juk, era a referência das “Lojas de São João”, do século XIV e XV, na época dos tempos Operativos e os Aprendizes prestavam sua “obrigação” em uma folha de papel escrito “Evangelho de João”, ou seja, não havia leitura.
Para José Castellani, o verdadeiro Rito Escocês Antigo e Aceito abre e lê o Livro da Lei em João 1.1-5, o Sol vence as Trevas, em todo o mundo escocesista. Porém, com a instalação das Grandes Lojas, em 1927, o Salmo 133 foi adotado (também pelo Grande Oriente do Brasil). O Livro sempre aberto. ( 2006: 275). O Salmo 133, de acordo com Juk, foi utilizado pragmaticamente apenas para o reconhecimento das Grandes Lojas americanas.
Análise do Salmo 133
A Excelência do amor fraternal
Salmo de Davi
"Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Aarão,e que desce à orla dos seus vestidos.
Como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre". ( Almeida Revista e Revisada)
As Palavras sublinhadas são o escopo desta análise :
IRMÃOS: a exegese deste termo no Salmo é de que são companheiros tribais e nacionais, ao se unirem em oração ou elementos comuns em adoração (Bíblia de estudo de Genebra, 2004:712). Este é o sentido esotérico: irmãos unidos em oração ou em adoração é bom e suave.
No seu contexto sociológico e de crítica literária, Davi possuía filhos em constante luta parental. Estudiosos contam mais de vinte filhos com diversas mulheres, nem todos registrados na Bíblia. Mas os que se destacam nesta luta familiar foram:
Amnon, filho de ainoã, príncipe que decidiu violentar sua meia irmã Tamar, filha de Maaca; o irmão de Tamar e meio irmão de Amnon, Absalão, mata o meio irmão por vingança e decide tomar o trono do pai; morreu em combate. Adonias, filho de Hagite , era o mais velho e seria o rei por direito de sucessão, mas a mãe de Salomão. Betsabeia, convence Salomão a mudar a lei e escolher seu filho Salomão para rei , com a narrativa favorável do profeta Natã. Com a unção do profeta, Salomão assume o reinado e diante da recusa do irmão mais velho, manda matá-lo e a outros.
ÓLEO PRECIOSO: Este é uma mistura especial e exclusiva que o Senhor encomendou a Moisés: mirra, canela aromática, cálamo aromático, cássia e azeite de oliva (Êx. 30.22-25). Esta unção servia também para santificar Aarão no ministério do sacerdócio (Êx. 30.30). O esoterismo é este: a inteligência é uma “unção” do Senhor.
AARÃO : Orador no deserto, irmão de Moisés e intérprete. Era metalúrgico, fez o Bezerro de Ouro ( Êx. 32). O sacerdote Jaquim era seu descendente (1Cr. 24.12-17) após o Cativeiro da Babilônia ( 1Cr. 9.10). O esoterismo é este: Maçônicamente, Aarão representa o oficial responsável pela leitura do Salmo 133, recebeu tradição dos Cainitas e sua função sacerdotal foi para seu descendente, que recebeu o nome de uma das Colunas do Templo de Salomão.
ORLA DOS SEUS VESTIDOS: o óleo da unção aspergia também, além da cabeça, as vestes do sacerdote. O sacerdote é aquele que oficializa o ofício sacralizado. Sua vestimenta é parte do cerimonial. O esoterismo é este: o Maçom faz seu ofício sacro, sua vestimenta deve ser parte do ritual.
ORVALHO DE HERMOM : Montanha Sagrada em hebraico. Montanha mais alta de Israel, recebe neve que ao derreter forma as nascentes do Rio Jordão. Ela não deve ser confundida com o Monte sião, mas no Salmo 133 este simboliza aquele. O esoterismo é este: foi das águas do Hermom que João Batista batizava(padroeiro da Grande Loja de Londres pela fundação da Maçonaria Especulaitva em 24 de Junho de 1717- aproximada do Solstício de Inverno, Hemisfério Sul) e anunciava o fim da Velha Dispensação, outros Templos simbolizariam os Templos de Jerusalém.
MONTES DE SIÃO : Jerusalém estava edificada em parte destes montes. Davi levou a Arca da Aliança para Sião (2Sm 6.10-12). Mas Salomão, ao construir o Templo, a levou para o Monte Moriá (2 Cr 3.1; 5.2). Sião é símbolo do Templo de Jerusalém, da cidade de Jerusalém e do povo de Deus. No apocalipse de São João, o Reino Celestial é denominado de Sião (Ap. 14.1). O esoterismo é este: O Templo Maçônico e os Maçons são Sião.
SENHOR ORDENA A BÊNÇÃO : Teísmo ao final da mensagem, na tradução da Bíblia de Jerusalém, Deus é “nomeado” Iahweh ( YHWH). O esoterismo é este: Deus abençoa a União entre os Irmãos.
A Ritualística do Salmo 133 para o Grau de Aprendiz Maçom, independente de sua legitimidade, estabelece concatenações que favorece a conceitualização da temática com sua finalidade introdutória, com um esoterismo plausível em seus símbolos e uma mística que une o Maçom ao Templo, manifestando a fraternidade pela unidade. O Salmista, pai do construtor do Templo, em seu cântico fez uma exortação fraterna.
À.G.D.G.A.D.U.
Emanoel L. de Mendonça Jr ∴
SALUS SAPIENTIA STABILITAS.
ASLAN, Nicola. Comentários ao Ritual de Aprendiz Vade Mecum Iniciático. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 2006.
___________. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”,2012.
Bíblia de Estudo de Genebra. Tradução João Ferreira de Almeida revista e ampliada. São Paulo: Cultura Cristã, 2002
CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 5 ed. São Paulo: Madras, 2018.
CARVALHO, Francisco. A descristianização da Maçonaria. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 1997.
CASTELLANI, José. O Rito Escocês Antigo e Aceito: História Doutrina Prática. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 2006.
_________. Dicionário Etimológico Maçônico. 2 ed. Londrina: Editora Maçônica “ A TROLHA”, 2004.
COSTA, Frederico Guilherme. Questões Controvertidas da Arte Real. Volume 2. Londrina: Editora Maçônica “ A TROLHA”, 1993.
DAVIS, John. Novo Dicionário da Bíblia. Tradução J.R. Carvalho Braga. São Paulo: Hagnos, 2005.
FACHIN, Luiz. Virtude e Verdade Graus simbólicos Tomo I. 2 ed. Porto Alegre: Editora Agir, 2015.
HERNANDES, Paulo Antonio Outeiro. Curso de Formação de Aprendizes do R.E.A.A. 2 ed. Londrina:Editora Maçônica “A TROLHA”, 2017.
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