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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

PATRONOS DA MAÇONARIA: SÃO JOÃO BATISTA E SÃO JOÃO EVANGELISTA

 




A Maçonaria possui em sua tradição dois padroeiros que fazem alusão a símbolos alquímicos.
Trabalho dedicado aos IIr ∴ José Humberto e meu padrinho Carluce Miguel.


A maçonaria reverencia dois personagens bíblicos em suas festividades, os padroeiros São João Batista e São João Evangelista. Estes santos do cristianismo são adotados pela tradição maçônica não apenas pela suas lições morais mas também pelo seu simbolismo esotérico embasando diversos itens ritualísticos e doutrinais. Os santos padroeiros são alusivos aos limiares da Ordem e sua identificação com símbolos e emblemas judaico-cristãos. 

Os dois “São João” são reverenciados padroeiros desde a Idade Média pela Maçonaria por ocasião das festas Solsticiais: Solstício de Verão, referendado por São João Batista em 24 de Junho, e o Solstício de Inverno, referendado por São João Evangelista em 27 de Dezembro, no contexto do Hemisfério Norte. No Hemisfério Sul, os Solstícios são invertidos o que causa uma perfeita concomitância entre os símbolos e os santos, sendo o Inverno relacionado ao elemento água alusivo a São João Batista e o Verão, fogo-calor, relacionado a São João Evangelista , profeta que escreveu o Apocalipse com o fogo sendo elemento utilizado como purificador (Ap. 18.8). A Maçonaria saúda a posição da Terra em relação ao Sol e por isso os Solstícios são demarcados. 

As festividades solsticiais são heranças dos povos da Antiguidade, especialmente os egípcios, representando transformações na natureza e representados com diversas alegorias. A Loja maçônica, constituída pelo Templo, representa o Universo e por esta razão nela contém elementos astrais como o Sol e a Lua com estrelas no Oriente, a Abóbada Celeste em todo o espaço e a Estrela Flamejante guiando o Ocidente, por exemplo. A “marcha solar” em Loja visita as casas zodiacais (no R.E.A.A), representando os doze meses do ano, sendo avalizadas pelas Colunas B e J, associados aos dois padroeiros solsticiais. A Coluna B, Norte, Aprendiz, relacionada ao primórdio da remissão do elemento Água referendado por São João Batista, e a Coluna J, Sul, Companheiro, relacionado a consumação do Fogo referendado pela Luz e redenção.

A Loja de São João, Justa e Perfeita

A Grande Loja de Londres, primeira Potência Obediencial Regular maçônica, começou seus trabalhos em 24 de Junho de 1717, dia de São João Batista e Solstício de Verão no Norte, e nesta data fazia a eleição de seus Grão Mestres, data modificada em 1725 para o dia 27 de Dezembro, dia de São João Evangelista e Solstício de Inverno. A mudança de datas não modificou a reverência aos padroeiros. 

O Rito Escocês Antigo e Aceito, tradicionalmente na Europa, utiliza para o Grau de Aprendiz a leitura ritualística do Evangelho de São João (Jo 1.1-5) e não o Salmo 133, usual no Brasil pelas Grandes Lojas e Grande Oriente do Brasil. De acordo com José Castellani, a decisão de modificar o uso ritualístico da leitura bíblica foi devido a Cisão de 1927, ocasião da fundação das Grandes Lojas, decisão essa acatada pelo G.O.B que também adota o Salmo 133 no decorrer do tempo ( 2006:274). 

Autores maçons consagrados como Nicola Aslan e José Castellani aceitam que São João Batista e São João Evangelista sejam legítimos padroeiros da Maçonaria, inclusive Castellani defende que seja São João Batista o “principal” , por anunciar a Luz, e São João Evangelista seja o da leitura ritualística pela tradição do Rito Escocês e por seu “Evangelho do Espírito” (2006:276). Para Francisco Carvalho, no seu livro Descristianização da Maçonaria , o verdadeiro padroeiro seria o São João Evangelista. O indício utilizado por “ Xico Trolha” é exatamente o uso da leitura do Evangelho de São João pela tradição maçônica, no mínimo a partir da “maçonaria especulativa’’ em 1600 e as referências do Manuscrito SLOANE, de 1700 ( “uma capela consagrada a São João”) , e do Manuscrito DUNFRIES DE 1710 ( “numa verdadeira Loja de São João, Justa e Perfeita” ) são entendidas pelo autor como sendo correlacionadas ao Apóstolo de Jesus, pois é este Evangelho o “símbolo máximo do cristianismo dentro da Maçonaria” (1997:38-42).

Os padroeiros e o esoterismo maçônico

A reverência aos solstícios , referendados pelo culto solar, está condizente com os símbolos dos padroeiros. No Brasil, apesar de usualmente as comemorações do dia de São João Batista serem populares , é compreensível a aceitação esotérica dos dois padrinhos. Além da relação entre eles e as Colunas que regem o Norte e o Sul da Loja, como já citado, os padroeiro representam a simbólica alquímica dos elementos Água e Fogo e dos símbolos de seres viventes, Galo e Águia. 

São João Batista, no Hemisfério Sul, está condizente com o Inverno (Junho a Setembro), período das chuvas. A água lustral de purificação e de anúncio da Luz é correlacionado a figura do profeta São João, que por batizar para remissão dos pecados recebe o nome de Batista. Na Iniciação Maçônica, a Água é o elemento da terceira prova de purificação e o Galo é o símbolo da Vigilância e Perseverança constante na Câmara das Reflexões. Estes símbolos da Água e do Galo são elementos que sintetizam São João Batista. 

São João Evangelista, por sua vez, está condizente com o Verão ( Dezembro a Março), período ensolarado. O Fogo também é elemento purificador e testemunho da Luz está correlacionado com a figura do Apóstolo que biografou Jesus Cristo, a Luz (Jo 1.1-5). No ritual da Iniciação, o Fogo é a quarta prova de purificação. A Águia, no Rito Escocês Antigo e Aceito, em sua forma bicéfala, simboliza os Altos Graus. Na tradição cristã, os evangelhos recebem símbolos (tetramorfos) com o evangelista João sendo simbolizado pela Águia por suas visões apocalípticas. Desse modo, temos em João Evangelista a síntese do simbolismo do Fogo redentor e da Águia mensageira divina. 

No Templo, em Loja, a Coluna B está referida a São João Batista pela purificação dos Aprendizes à Pedra Bruta ou ao seu desbaste. A Coluna J, a São João Evangelista, no Sul, à luz do Sol, pela purificação da Pedra Cúbica, burilada. São as duas Colunas da Maçonaria prefiguradas como usualmente são representadas no símbolo das Paralelas do Painel Alegórico do Aprendiz Maçom.

São João Batista, o profeta da Antiga Dispensação

O precursor de jesus e profeta João Batista era filho de Zacarias e Isabel, descendentes de Arão ( Lc 1.5), sendo que sua mãe era prima da Virgem Maria, da tribo de Judá. O anjo Gabriel anunciou a Zacarias o nascimento do profeta, que nasceu em 5 a.C na região serrana de Judá. No ano 28 d.C , João estava pregando no deserto e batizava às margens do Rio Jordão. O batismo de João era para remissão dos pecados e por sua popularidade recebeu a alcunha de Batista. Seu batismo, afinal, não era completo, pois ele anunciava que o batismo completo seria dado pelo Messias através do elemento fogo. O Batismo de Jesus por João Batista credenciou seu primo a ser chamado de Cristo, ou Messias, o Filho de Deus ( Jo 1.29-34). 

O ministério de João Batista foi curto, após batizar Jesus, foi preso por denunciar o adultério de Herodías, casada com Herodes Felipe mas que o traía com seu irmão Herodes Antipas (Lc 3.19-20). A adúltera, enraivecida pelas pregações de João Batista, sabendo que João estava preso, pediu que a filha dançarina, Salomé, fizesse uma performance para Herodes Antipas para que, diante dos convidados e com o rei bêbado, fosse pedido a execução do profeta por meio da decapitação com a entrega de sua cabeça numa bandeja ( Mt 14.8). Jesus Cristo denunciou a violência cometida contra João Batista e o abandono pelos sumo sacerdotes, que eram autoridades subservientes ao Rei e a seus desmandos ( Mt 11.12; Lc 7.28; Jo 5.33).

São João Evangelista, profeta da Nova Dispensação

Filho de Zebedeu e Salomé, irmã da mãe de Jesus. Nasceu em 9 d.C em Betsaida, Galielia. Seu irmão foi Tiago, o Maior, martirizado por Herodes Agripa, sobrinho de Herodes Antipas, em 44 d.C ( At 12.1-2). João testemunhou o primeiro milagre de Jesus Cristo em Caná da Galileia (Jo 2.1-11) e era muito próximo as irmãos e André e Pedro ( Jo 1.40). 

O temperamento dos irmãos João e Tiago era forte e Jesus os chamou de “Boanerges” ou “ filhos do trovão” (Mc 3.17). O Apóstolo João não aceitava que expulsassem demônios pelo nome de Cristo sem serem seus fiéis (Lc 9. 49) e até ameaçou chover “fogo” contra os descrentes samaritanos ( Lc 9. 52-54). Estavam prontos para serem martirizados em fidelidade ao Mestre ( Mc 10.38-41). 

João foi um dos três apóstolos selecionados por Cristo para testemunhar o milagre da ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.37), testemunhar sua transfiguração (Mt 17.1) e a agonia do Getsemani (Mt 26.37). Na Santa Ceia esteve ao lado da cadeira de Jesus, o acompanhou até o palácio do sumo sacerdote e seguiu para o Calvário. Como prova de sua fidelidade, recebeu de Jesus na cruz os cuidados a sua mãe, Maria (Jo 19.27). Ao lado de Pedro, testemunharam o sepulcro vazio (Jo 20.10) e esteve com Jesus ressuscitado diversas vezes (Lc 24. 33-43; Jo 20.19). 

Após o Pentecoste ( At 2.1-47), João pregou com Pedro na Samaria e em Jerusalém. Durante as perseguições, decidiu ficar em Jerusalém. Foi preso e enviado em degredo para a ilha de Patmos, daí seu apelido de “Águia de Patmos” por suas visões do Apocalipse em 95 d.C. No reinado do Imperador Nerva, João foi libertado e morreu, de morte natural, em 103 d.C, na cidade de Éfeso, na Ásia Menor.


Conclusão

A Maçonaria possui dois padroeiros, São João Batista e São João Evangelista, de acordo com sua tradição judaico-cristã teísta. São duas importantes personalidades do Paramento Livro da Lei. Sua relação com a Divindade é de anúncio e testemunho de fé e doutrina a suas acusas. A fidelidade aos princípios maçônicos e sua tradição são mensagens dadas por estes profetas das dispensações, a Maçonaria os aceitam e promovem em sua ritualística, festividade e doutrina, principalmente no que preconiza o Rito Escocês Antigo e Aceito, de cunho judaico-cristão.
À.G.D.G.A.D.U
Emanoel L. de Mendonça Jr 
SALUS SAPIENTIA STABILITAS




Referências

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___________. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”,2012.

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CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 5 ed. São Paulo: Madras, 2018.

CARVALHO, Francisco. A descristianização da Maçonaria. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 1997.

CASTELLANI, José. O Rito Escocês Antigo e Aceito: História Doutrina Prática. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 2006.

_________. Dicionário Etimológico Maçônico. 2 ed. Londrina: Editora Maçônica “ A TROLHA”, 2004.

COSTA, Frederico Guilherme. Questões Controvertidas da Arte Real. Volume 2. Londrina: Editora Maçônica “ A TROLHA”, 1993.

DAVIS, John. Novo Dicionário da Bíblia. Tradução J.R. Carvalho Braga. São Paulo: Hagnos, 2005.

FACHIN, Luiz. Virtude e Verdade Graus simbólicos Tomo I. 2 ed. Porto Alegre: Editora Agir, 2015.

HERNANDES, Paulo Antonio Outeiro. Curso de Formação de Aprendizes do R.E.A.A. 2 ed. Londrina:Editora Maçônica “A TROLHA”, 2017.



Sites

https://pt.aleteia.org/2019/08/20/touro-aguia-leao-homem-por-que-os-evangelistas-estao-associados-a-essas-criaturas/ acessado em 20-11- 2020

https://padrepauloricardo.org/episodios/de-onde-vieram-os-quatro-simbolos-dos-evangelhos acessado em 20-11- 2020

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