COMPANHEIRISMO:
SABEDORIA, FÉ E PALAVRA
A natureza humana é cruel, o
sofrimento para os profanos pode ser aceito como útil desde que o satisfaça em
suas aspirações. O tirano, ao sentir-se ameaçado em sua autoridade, lança mão
deste artifício para calar a voz de seus opositores, independentemente de qualquer
racionalidade. A Maçonaria, principalmente em sua vertente inglesa, ambientada no
pacifismo, entende que o Maçom deve estar sempre atento em respeitar as leis e
esperar democraticamente por qualquer mudança. Por isso, a Verdadeira
Maçonaria defende a Liberdade e os Direitos à Igualdade. Por outro lado, ao
defender estes princípios, foi condenada na França de Luís XV, em 1737, e
sofreu a Bula de excomunhão de Clemente XII, em 1738, que apelava para a
autoridade civil punir os maçons por serem veementemente suspeitos de heresia.
O reinado de castas corrompe a sociedade com sua influência nefasta, as duas esferas
material e espiritual, mal utilizadas, são aceitas por uma população cuja educação
é baseada na imbecilidade, o que a torna escravizada.
Para que um povo seja livre, sua
experiência deve estar embasada na sabedoria. Esta conscientização causada por tal
qualidade deve estar atrelada a aspirações que requerem uma fé determinante. Na
batalha de Damasco, na Terra Santa, os cristãos possuíam uma fé temerária, mas
os árabes possuíam uma fé repleta de confiança e determinação, com a certeza
que o Paraíso estava a seu dispor. A Bíblia não ensina, outrossim, uma fé vacilante.
Aliás, a fé é fruto da Palavra Revelada e esta é relacionada à sabedoria. Na
Ilha de Patmos, foi ao apóstolo revelado uma espada de duas lâminas afiadas,
saindo da boca do Filho do Homem, com sete castiçais, tendo na mão direita sete
estrelas (Ap 1.16). Esta espada é a sabedoria do Filho do Homem, ou seja, sua
Palavra. O apóstolo Paulo diz que a espada do Espírito é a palavra de Deus (Ef
6.17). A espada é, biblicamente, a Palavra usada com sabedoria e fé. Esta é a
lição para o Maçom, sua experiência deve ser externada no uso sábio de sua palavra
com fé.
Na exposição de Pike, o
companheirismo maçônico capacita o individuo a superar sua natureza cruel e indolente,
a favor de uma atuação para que sociedade seja justa. A consciência do Maçom
irrita e representa ameaça a autarquias, que com abuso material e espiritual
imbecilizam a população. O povo, por sua vez, à mercê de sua natureza profana,
se deixa escravizar pelos poderes de castas dominantes.
ANÁLISE CONCEITUAL DA PARTE IV DO
ESTUDO DO GRAU DE COMPANHEIRO DE ACORDO COM O MORAL E DOGMA DE ALBERT PIKE.
O texto nos apresenta a ideia antropológica
de homem para a Maçonaria, a natureza humana é depravada. Esta inerência profana
causa males sociais que culminam com despotismo e o sofrimento da população. A
Maçonaria, doutrinariamente, entende que o Iniciado pode mudar de modo qualitativo
sua natureza através do esclarecimento de sua razão. A liberdade é o acesso
para que esta transformação seja sentida no meio social, pois é através dos
mistérios maçônicos que haverá a oportunidade do profano receber a iluminação e
atuar na construção do bem estar das pessoas.
O Aprendiz maçom, ainda envolto
em trevas, ou seja, ainda em sua natureza escravizada, recebe a incumbência,
pela Iniciação, de desbastar sua condição de Pedra Bruta, inadequada e
destoada, incapaz de fazer parte na construção de um edifico perfeito e duradouro.
O neófito, ao convencer a irmandade de sua livre vontade em aperfeiçoar-se, supera
os desafios místicos e se dispõe aos trabalhos que o fará, finalmente, sair de
sua coluna trevosa para a coluna iluminada, a da elevada posição, que o faz ser
reconhecido como Companheiro, preparado para o burilamento da Pedra Cúbica. O
Companheirismo, qualidade evolutiva que muitos entendem como sendo o do iniciado
definitivo, está como sendo uma definição da Sabedoria, ou seja, a Inteligência
bem aplicada. O Companheiro Maçom está preparado para assumir sua posição de
esclarecido perante a sociedade e artífice de uma nova sociedade, justa e educada.
O instrumento operativo do
Companheiro que representa a Inteligência é a Alavanca, acompanhada da Régua de
24 polegadas. Ambas estão entrelaçadas, demonstrando uma intimidade. Nicola
Aslan, em seu Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia,
citando J. Boucher, ensina que Régua e Alavanca são análogas em seu formato de
retidão, sendo a Régua correspondendo ao espiritualismo e a Alavanca, o materialismo.
O diferencial da Alavanca, porém, está em seu esoterismo, pois é um instrumento
passivo transformado em ativo pela sua utilização (2012:73). De
outro modo, temos a atuação do homem em sociedade amparado pelo seu lado espiritual,
removendo pedras ou levando a Pedra Cúbica para o Oriente. Por fim, seria a atuação
social do Maçom.
Comparativamente ao Maço e Cinzel,
também representados no Painel Simbólico, temos que o Cinzel simboliza também a
Inteligência, mas permanece em sua função passiva dependendo do uso do Maço,
que é o correspondente ativo, para que surta efeito. O Companheiro utilizará,
para o burilamento, além da Força e Inteligência simbolizados pelo Maço e
Cinzel, a Régua para a forma retilínea cúbica e sua remoção para o uso da
construção, função da Alavanca, que em seu estado passivo é a Inteligência, mas
que com sua atividade, se torna Sabedoria. Este é o esoterismo do símbolo, a Inteligência
aplicada sabiamente para que haja a movimentação e oferta para construção. O
Aprendiz, usa o Maço e o Cinzel para o simples desbastamento da Pedra, mas é o Companheiro
que faz o retoque, mantendo o serviço dos instrumentos, mas acrescentando a Régua
de 24 polegadas, que a torna reta e a Alavanca, que a moverá para ser
utilizada. Salientemos que sem a espiritualidade, simbolizada pela Régua, tal
como reza a exegese maçônica, o princípio de retidão, a Pedra jamais será cúbica.
Comentando a simbologia da
Alavanca, Allec Mellor, no Dicionário da Franco-Maçonaria e dos
Franco-Maçons, citando Oswald Wirth, afirma que esta faz alusão à vontade
inflexível plicada à Inteligência (1989:53). A fé (Régua) aplicada à Inteligência
(Alavanca modo passivo), faz com que aconteça a Sabedoria (Alavanca modo
ativo), a transformação social que liberta os homens da imbecilizante escravidão.
A “arma” do Maçom para este
intento é a Espada, que simboliza a Palavra e está associada à exegese da
Quinta jornada do Aprendiz para ser reconhecido como Companheiro. Para fechar o
ternário de sabedoria, fé e palavra, Pike reverencia a Bíblia ao citar os
apóstolos João e Paulo, autores neotestamentários afirmando demonstrativamente
a relevância da Palavra Revelada, o Livro da Lei, como sendo instrumental
exegético para entender o Grau de Companheiro.
A Quinta Jornada do Companheiro é o abandono das ferramentas operativas, simbolicamente úteis para o aperfeiçoamento material, a favor da Espada, útil para o aprimoramento espiritual e sua conscientização. A Espada, a Palavra, é a arma revolucionária, que libertará o homem da escravidão e o elevará conscienciosamente a uma sociedade livre. O arcabouço do Grau de Companheiro elevará o Maçom a transcendência por sua sabedoria, com o começo do predomínio do Compasso sobre o Esquadro.
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria
e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2012.
PIKE, Albert. Moral e Dogma do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Tradução de Celes Januário Garcia Júnior e Glauco Bonfim Rodrigues. Birigui:
YOD, 2011.
MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos
Franco-Maçons. Tradução: Sociedade das Ciências Antigas revisado por Marina
Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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