PARTE I: INTRODUÇÃO
A religiosidade popular na Antiguidade
era baseada em uma teologia que pervertia, por sua simplicidade, as práticas
religiosas da população, as deixando sem qualquer profundidade. Esta falta de pensamentos
mais profundos entre os povos era preenchida pelo ministério da pregação
exercida pelos Mistérios, ou Escolas de Mistério. O principal método utilizado por
estes espaços de conhecimento moral e filosófico era a simbologia, que por sua
variedade de interpretação aguçava o aprofundamento da reflexão do iniciado, nível
de complexidade que faltava às religiões populares. Para que o iniciado tivesse
uma experiência imersiva, os sacerdotes de Mistério desenvolveriam os Ritos.
De acordo com Pike, A
Maçonaria, sucessora dos Mistérios, ainda segue a maneira antiga de ensinar.
As cerimônias ritualísticas maçônicas aliam as apresentações místicas
aos símbolos. Por isso, o maçom deve estudar, interpretar e desenvolver esses
símbolos, colocando este conhecimento adequadamente em prática. Os Ritos,
na Maçonaria, bem entendido, são denominados pelo autor como sendo apresentações
místicas, parte metódica dos ensinos maçônicos, sendo sua prática uma tradição
que influenciou no aperfeiçoamento dos homens em suas civilizações.
Nesta introdução ao estudo do
Grau Companheiro maçom, Pike ressalta, portanto, a Maçonaria como sendo uma auxiliar
no comportamento do iniciado, cujos métodos antigos foram capazes de retirar a
infantilidade das práticas cultuais daquelas tradições em despertar
civilizatório. O modus operandi do uso da ritualística e da simbologia
em Maçonaria está, com esta explanação, justificada.
ANÁLISE CONCEITUAL À INTRODUÇÃO
AO GRAU COMPANHEIRO E APLICABILIDADE MAÇÔNICA
A literatura maçônica trabalha
conceitos de simbologia, Mistério e ritualística, o que nos
ajuda a estudar e facilita nosso entendimento na aplicação dos seus usos por Pike.
A crítica feita pelo autor às crenças rústicas que não permitiam a introspecção
exercida pelo homem antigo provavelmente está na simplicidade animista ou
politeístas destas crenças, que não permitiam uma reflexão mística mais apurada
sobre a espiritualidade humana. As Escolas de Mistérios, preocupadas com o ensino
filosófico da religiosidade, atuavam para que o homem aprendesse esta possibilidade
e o desenvolvesse, através da graduação dos desvelos. Assim eram os Mistérios Órficos,
Artemisianos e Osirianos, posteriormente, também, os Pitagóricos, dentre
outros, que não apenas lecionavam sobre imortalidade da Alma através de
elevações de graus, mas também aperfeiçoavam o homem moralmente. Serão delas
que a Maçonaria herdará sua essência, como corrobora Albert G. Mackey,
contemporâneo e amigo de Pike, em sua obra Simbolismo da Maçonaria, e José
Castellani, em seu comentário no livro O Rito Escocês Antigo e Aceito.
Nos Landmarks de Pike, a crença em Deus e a imortalidade da alma estão intrínsecos,
esta doutrina, correlacionada ao monoteísmo e sua tradição judaico-cristã, é
típica do Rito Escocês Antigo e Aceito a quem o autor dedica sua obra. Percebamos,
portanto, que esta doutrina é senso comum entre os maçons do R.E.A.A.
pois Mackey, em seu ensino, define esta doutrina como sendo Verdades antediluvianas,
ou seja, muito antigas e que compõe a essência da Maçonaria Verdadeira,
deturpada, porém, pela forma espúria, mas que será purificada com a construção
do Templo de Salomão (2008:62). Foi a convite exatamente de Mackey que Pike
padronizará o R.E.A.A. e lançará o Moral e Dogma em 1871 como apêndice. Nos Landmarks
de Mackey, a imortalidade da Alma e a crença em Deus também estão
predispostas. A crença em Deus e na imortalidade da alma são, em termos de
espiritualidade maçônica, as bases que enaltecem a Maçonaria em sua finalidade mística
e moral.
O elemento do simbolismo, na
execução do método maçônico, é abordado por Rizzardo da Camino, em seu Dicionário
Maçônico, como sendo ciência interpretadora dos símbolos, servindo para
aprofundar seus termos filosóficos e espirituais. No ambiente de Loja,
os símbolos despertam a mente dos Maçons e revela a mística do Rito praticado (2008:369).
Esta posição de Rizzardo está em correlacionada com a doutrina defendida nos Landmarks
de Pike e de Mackey, da reunião maçônica em Loja, ritualisticamente. A cerimônia,
referente a determinado ritual, ilustra a alegoria que representa a doutrina de
determinado Rito. A tradição esotérica, sistemática utilizada pelas Escolas de
Mistérios, era baseada no conceito mysterium. Os conhecimentos complexos
eram construídos como um edifício ao longo do tempo e não instantaneamente.
Este processo de construção, que simboliza o Templo de Salomão erguido por maçons
(simbolizados por pedreiros) por sabedoria e pela sabedoria, revela gradativamente
o resultado do trabalho, que afinal, será o Templo espiritual do individuo
iniciado. Esta temática incute ao Aprendiz maçom a doutrina evolutiva da Ordem,
o que o faz compreender estar no Grau de Companheiro, o motivo de sua elevação
e escopo do ensino. De acordo com Nicola Aslan, em seu Grande Dicionário
Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, o simbolismo maçônico, em sua autenticidade,
deve ser por deveras preservado pois ele é a manutenção da tradição e suas grandes
verdades (2012:1269). Nisto, sabemos que a ornamentação simbólica variada,
enriquecida e aplicada a uma boa hermenêutica consolida a doutrina maçônica
como uma linguagem ativa e plena de sentidos. O vulgarmente denominado “enxugamento”
ritualístico alerta para depauperação de determinado Rito, esvaziando seu sentido
e, como uma linguagem abandonada de conteúdo e fundamentação, tornando a Maçonaria
atrofiada e rudimentar. Esta involução, defendida por pragmáticos hodiernos
assentes em cadeiras autoritativas da Ordem, ameaça a doutrina defendida por
Pike e que fez a Maçonaria ser tão influente em seu país e no mundo.
Concluindo, Allec Mellor, no Dicionário
da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons, acautela que a racionalização
cientificista profana o sentido do simbolismo (1989:226). O materialismo e
descrença no espiritualismo são riscos que pervertem o ser Maçom e o ser Maçonaria.
O Grau de Companheiro é um ato de perseverança, símbolo da evolução maçônica
representada pela mudança da Coluna do Norte para a Coluna do Sul, o qual o Sol
aquece nossas consciências através da decisão em permanecermos atentos a sua luminosidade.
Autores como Pike, ao lado de outros escocesistas, que defendem e apoiam nosso
Rito, merecem nossa reverência.
REFERÊNCIAS
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria
e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2012.
CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 5 ed. São Paulo:
Madras, 2018.
CASTELLANI, José. O Rito Escocês Antigo e Aceito: História
Doutrina Prática. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 2006.
MACKEY, Albert G. O Simbolismo da Maçonaria. Tradução de
Caroline Furukawa. São Paulo: Universo dos Livros, 2008.
MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos
Franco-Maçons. Tradução: Sociedade das Ciências Antigas revisado por Marina
Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
PIKE, Albert. Moral e Dogma do Rito Escocês Antigo e Aceito. Tradução de Celes Januário Garcia Júnior e Glauco Bonfim Rodrigues. Birigui: YOD, 2011.
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