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sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

ANÁLISE DO LIVRO: O SIMBOLISMO DA MAÇONARIA (ALBERT G. MACKEY) PARTE I


 

O Livro “O Simbolismo da Maçonaria” foi publicado originalmente em 1882, mas foi escrito em 1869, em Charleston, Carolina do Sul (EUA) por Albert G. Mackey. O livro por ora analisado foi lançado pela editora Universo dos Livros em 2008 e traduzido por Caroline Furukawa.


PREFÁCIO

No prefácio, Mackey começa considerando os dois principais elementos maçônicos que fundamentam a Ordem: Lendas e Símbolos. Estes são os métodos que ensinam ao Neófito os Mistérios e os dogmas. A Lenda, para o autor, é distinta da narrativa histórica pois não está plenamente fundamentada em documentação e é dependente dos domínios da oralidade. Aplicada à Maçonaria, as lendas são metodicamente usadas para a doutrinação e desenvolvimento dos dogmas. A Lenda de Hiram, por exemplo, independente de sua exatidão histórica, educa o maçom a significados tal qual a imortalidade da alma.

Com relação aos Símbolos, este método serve para comparar uma coisa a outra denotando uma ideia que assimila um objeto a um atributo moral. Os Símbolos e as Lendas maçônicas possuem caráter religioso, sua filosofia. As proposições maçônicas se referem a Deus e ao homem, à vida presente e futura. O simbolismo maçônico, em síntese, proporciona o bom entendimento desta filosofia.

O conceito de “dogma” é difuso pelo texto em sua tradução. Os “dogmas” desposados por Mackey são exatamente a crença no Grande Arquiteto do Universo e a imortalidade da alma. Durante o livro, ele desenvolve os motivos que o faz defender estes “dogmas”. Porém, esta definição é alusivo ao modo de como o Rito Escocês Antigo e Aceito é doutrinariamente aplicado e fundamentado no Supremo Conselho da jurisdição Sul dos Estados Unidos, influência sentida em todo desenvolvimento da maçonaria brasileira que tem o R.E.A.A como principal Rito praticado devido ao número de Lojas que o adotaram.

A leitura da obra de Albert G. Mackey deve ser feita sob a lente de maçons, especialmente de maçons escocesistas ou de filosofia maçônica similar. A linguagem utilizada é aberta e comprometida com o ideário maçônico. Não é um livro preocupado em fazer “política de boa convivência” ou sequer defender a Ordem, mas elaborar conceitualizações que melhor definam o simbolismo da maçonaria e sua doutrina. Para um Neófito que não esteja versado na locução das expressões maçônicas parece um pouco confuso e de difícil entendimento, mas havendo o desvelamento de suas colocações sob a égide maçônica suas conclusões são justas e perfeitas.

CAPÍTULO I : PRELIMINARES

A ORIGEM E O PROGRESSO DA MAÇONARIA

Mackey propõe incialmente fundamentar a Maçonaria como uma Instituição Simbólica, a filosofia maçônica está essencialmente velada no cerimonial do Ritual e alegorizada nas ilustrações dos simbolismos. Sua substância, no entanto, não está na superficialidade das cerimônias mas em sua natureza doutrinária de Deus como um Ser eterno, auto-suficiente, e do homem como um ser imortal preparando-se em vida para um futuro eterno. São estes dois dogmas, que apesar dos corrompimentos politeístas, eram ensinados por instituições de forma particular, alegórica e simbólica, constituindo protótipos para a atual Maçonaria.

A preocupação não é unicamente historicizar a Ordem, o autor tenta antes perscrutar o origem mística daquilo que se entende como doutrina maçônica. A base desta sabedoria está na tradição bíblica partindo dos ensinamentos pós- Dilúvio. Existem verdades ao bem estar da humanidade que foram comunicadas por inspiração de Deus ao homem. A religiosidade, característica essencial da humanidade, une Deus à alma imortal e este é um sentimento distintivo do homem e outras criaturas. Esta é uma das verdades caracterizada pela relação entre Deus e o homem através da crença e da adoração.

Assim sendo, temos uma base teórica fundamental para entendermos a originalidade em Maçonaria: Deus é o Criador do homem e esta criatura está fadada, para seu bem estar, em adorar seu Criador. Esta essência humana é característica em toda a Criação, relação esta que deve ser testemunhada na natureza, assim como nas instituições. A especialidade do homem não está encerrada em apenas crer no Criador, mas esta é sua finalidade pois sua alma, como será melhor explicada adiante, é imortal e deve seu propósito a esta espiritualidade, ou seja, crer e adorar.

Estas verdades teriam sido preservadas por Set e estendidas à humanidade pós-diluvianas por Noé, através dos noaquitas, seus descendentes. Os noaquitas espalharam-se pelo mundo, mas com o fenômeno da Torre de Babel houve uma dissociação entre eles havendo uma heterodoxia que corrompeu a adoração e a tradição que herdaram. Poucos preservaram a luz da verdade, com os sábios favorecendo aqueles que foram iniciados nos segredos dessas verdades. Afinal, a maioria dos sacerdotes já não conheciam as verdades exceto os sábios que o ensinavam através de símbolos.

O repositório denominado Set é o sucessor de Abel, assassinado por Caim, é pai de Enos, pelo qual a humanidade começou a invocar o nome do Senhor (Gn 5. 6-8). Mackey utiliza este dado simbólico para referenciar a antiguidade do conhecimento da verdade. O mal não conseguiu calar o bem, Set ensina a seu filho, Enos, a tradição primordial e este à humanidade. Simbolicamente podemos inferir que Set simboliza toda fonte de conhecimento e Enos a continuidade fiel deste conhecimento. A intempérie do tempo, ou o Dilúvio, não é capaz de apagar o archote doutrinário mas isso ficou confiada a uma minoria: os noaquitas. A Torre de Babel é colocado como outro símbolo, desta vez como outra ameaça para apagar a luz archote. A Torre foi construída por egolatria humana e desafio da criatura ao Criador, causando um efeito devastador que dissociou os noaquitas entre os heterodoxos e ortodoxos (Gn 11.1-9). A primeira alegoria contrapunha a natureza ao homem, o que conseguiu superar por sua crença e adoração, em suma a fé, fazendo exaltar a especialidade do homem diante da Criação. A segunda alegoria temos o homem contrapondo o próprio Deus, o que causa uma derrota ao orgulho humano mas, por outro lado, sobressaindo invariavelmente a heterodoxia. A Tradição Primordial, no entanto, não se perde e fica preservada entre sábios que ortodoxamente transmitem as verdades de modo cuidadoso e devidamente iniciático, para que não haja outra dissenção entre os homens. Temos então uma defesa esotérica dos valores antigos da Maçonaria contra as “heterodoxias”.

O sistema primevo de doutrina é denominado por Mackey de Maçonaria Pura ou Primitiva da antiguidade e a forma corrompida (heterodoxa), dissociada, de Maçonaria Espúria. A Maçonaria recebida da linhagem judaica ( de Sem) é a Pura e a Maçonaria corrompida pelos pagãos é a Espúria. Muitas comunidades no mundo desconheciam totalmente a verdade divina e por isso estavam imersas na falsidade e na adoração pagãs. No entanto, traços originais são percebidos e não constituem invenções espontâneas mas são deturpações das verdades ensinadas a partir de Noé. Por exemplo, o deus Vulcano é uma corruptela de Tubalcaim, ambos artífices de metais sendo o vul-cano uma forma modificada de Baal-Caim ( Gn 4.22).

Todas as religiões partem de um princípio e nenhuma são originais, este axioma de Mackey fortalece a doutrina de a verdade é uma e ortodoxa, ou seja, apenas existe a verdade singular e de modo a ser unicamente entendido. Estas qualidades estão associadas à Maçonaria que chamaríamos de Regular ou Pura, embora Torres de Babel estejam sendo erguidas com bandeiras corsárias na Maçonaria Regular hodierna, o que foge a isso é considerada Maçonaria Espúria. O que não podemos desconsiderar, em Mackey, é que a superestrutura montada na doutrina maçônica é teorizada pelo Teísmo. A crença em Deus e na imortalidade da alma, que são o escopo da compreensão de sua tese, o faz por uma adoração por ser Deus um Ser de providencialismo e não um Ser indiferente à moda Deísta, tal como estava, já no século XIX, sendo aceito por maçons do Grande Oriente de França, pensamento este que exime o maçom de uma reponsabilidade espiritualista em sua iniciação. Estas disposições foram quiçá essenciais para o Rito Escocês Antigo e Aceito e seu Supremo Conselho, que ganhava cada vez mais conotações “americanistas” desde o início do século. Inclusive temos que a linhagem noaquita que se manteve fiel para as verdades divinas foram justamente a dos semitas, ou seja, dos hebreus, a qual temos boa parte da doutrina do Rito baseada.

O texto continua dissertando que o sistema de ensino adotado para o conhecimento da verdade era o de iniciação aos Mistérios sagrados que através de símbolos e alegorias havia o ensino das doutrinas maçônicas da unidade de Deus e imortalidade da alma .Por fim, não obstante, as duas Maçonarias foram unidas com a construção do Templo de Jerusalém, unindo Salomão, que acreditava na forma ortodoxa de crença religiosa, que seja o monoteísmo, e Hiram, rei de Tiro, pagão politeísta. Com a atuação de Hiram Abiff, fundiram os dois sistemas abolindo a distinção e havendo o protótipo da instituição atual, com a Lenda de Hiram, Legenda Áurea , exemplificando a Maçonaria Pura.

O bom entendimento do texto pede que a ideia da construção do Templo seja uma alegoria que o autor utiliza para fazer referência à Torre de Babel, esta é símbolo de dispersão ou dissociação e o Templo é uma referência, no teor maçônico, a unidade e prevalência da doutrina da “verdade divina”. Desta vez, a construção humana foi para a honra e adoração a Deus e não para seu enfrentamento. Esta iniciativa consolida a união entre as duas Maçonarias, sendo que para a Maçonaria Espúria, que deixa de existir, uma forma de se redimir legando para a Maçonaria atual a Lenda de Hiram que reconhece as verdades basilares maçônicas em sua forma Pura: a Deus é Uno, Criador e Provedor e a alma do homem é imortal. Nisto consiste a ideia simbólica da união entre as duas Maçonarias.

A Maçonaria Pura, continua Mackey, era de conteúdo somente especulativo. Mas com a junção das duas vertentes, a arte operativa dos pagãos de Tiro promulgou o novo sistema externados pelo Collegia Fabrorum romano de Numa (Pompílio, um dos fundadores de Roma) os essênios, que também eram construtores; e as Guildas medievais. No início do século XVIII, a Maçonaria toma forma aperfeiçoadas com maçons de todas as profissões. As características, no entanto, nunca mudaram: a união de Deus e a imortalidade da alma, além das formas didáticas de ensino com símbolos e alegorias.

Todas as formas de operatividade de construtores que praticavam espiritualidade eram parte da unidade entre as duas Maçonarias, a arte de construir ou dos construtores estavam relacionadas com a construção do Templo de Jerusalém. As Referências de Mackey começam com o período antes de Cristo, com os Collegia na época da fundação de Roma, depois no tempo contemporâneo ao Cristo, com os essênios, depois com o tempo depois de Cristo, com as Guildas medievais. A presença dos Collegia é explicada, além da referência implícita a Cristo, também por não haver independência entre os credos pagão, todos tem como início a Tradição Primordial. Esta dependência de simples operários em espiritualizar seu ofício é uma referência a necessidade do homem em crer e adorar, pelo bem estar de sua alma imortal. Esta é uma herdade da união entre as duas Maçonarias.

Finalizando, Mackey comenta que a Lenda de Hiram Abiff, que versa sobre a imortalidade da alma está, no seu conteúdo, referenciado pelos Mistérios pagãos. A mentalidade grega sobre a imortalidade da alma também o exemplifica. O ofício operativo e a filosofia religiosa, seja entre gregos ou romanos, herdaram à Maçonaria uma nomenclatura que compõe os Graus Simbólicos nas divisões de Aprendiz, Companheiro e Mestre.

A origem da Maçonaria está na crença nas verdades divinas de existência de Deus e a imortalidade da alma. Esta é a Maçonaria Pura, comum aos descendentes de Set antes do Dilúvio e de Noé, depois do Dilúvio. Por desconsiderar a presença de Deus e sua majestade, os noaquitas são dissociados da verdade fazendo surgir a heterodoxia ou Maçonaria Espúria, sendo que os sábios se mantiveram na verdade ou na Maçonaria Pura, a ortodoxia. Este conhecimento é confiado a sábios noaquitas semitas que por linhagem são representados por Salomão, com a construção do Templo e a representação pagã por parte do rei de Tiro e seu artífice, a Maçonaria se une e progride se tornando em unidade favorável às doutrinas verdadeiras. A união entre a Maçonaria Pura e a Maçonaria Espúria é um arquétipo de que tudo retorna ao mundo espiritual do Deus único, assim como a alma imortal, em termos doutrinários prevalece a Maçonaria Pura mas em termos cerimoniais e terminológicos há heranças da operatividade Hiramita.
À.G.D.G.A.D.U
E. L. de Mendonça
SALUS SAPIENTIA STABILITAS

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