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sábado, 14 de agosto de 2021

ANÁLISE DA OBRA MORAL E DOGMA, ALBERT PIKE (1871): GRAU COMPANHEIRO PARTE II

 

           PARTE II: A FILOSOFIA DO COMPANHEIRO MAÇOM

As Escolas de Mistérios preparavam e responsabilizavam o Iniciado pela manutenção da Ordem social, incluindo a religião. Este privilégio intelectual não estava oferecido à população pelos sacerdotes, pois estes não dividiam verdades filosóficas. A Maçonaria, herdeira desta tradição iniciática em seus feitos filosóficos, decide ensinar as pessoas oferecendo os Mistérios para favorecer o nível de conhecimento à população. Este espírito democratizador maçônico é a da tríade Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que enaltece a consciência humana, responsabilizando em seus deveres. O despotismo, indiferente a isso, aliena o homem, retira seus direitos e ocasiona retomadas que pervertem a Verdade através de más aplicações ou de uma sentimentalidade de anárquica desforra.

A Maçonaria, compreendendo a Verdade e com a sabedoria de aplicação, ensina através de seus símbolos de finalidade construtiva, ajudou na causa revolucionária francesa, apoiando Napoleão em sua decisão de reconhecer o direito do povo em escolher seus governantes. Fora a sabedoria maçônica que não permitiu a anarquização da aplicação dos direitos e deveres entre os homens, nem tampouco que estes princípios fossem perdidos. A Ordem, ao aperfeiçoar o homem, oferece a filosofia do progresso intelectual e moral inspirado por um nobre sentimento de religiosidade. A relação de Deus para com os homens está demonstrada na ciência da Criação e nas boas ações. A natureza, criada por Deus, maior e mais completo livro de Ciências, faz com que o homem, além de tomar conhecimento cientifico, perceba o poder Divino e seja bom. Este é o motivo da Maçonaria estar corretamente preocupada em fazer a verdadeira educação, tornando as pessoas mais sábias pelo fazer o bem, pela caridade.

O homem sábio, de acordo com o ensino maçônico, estará cônscio de seus direitos e deveres. Seus limites são esquadrinhados pela Ordem, a disciplina evolutiva da Maçonaria. Aperfeiçoando o homem com sabedoria e jaez, o ensino maçônico faz do Iniciado um instrumento de Deus. A fé é recomendada à Razão, pois esta é falha, como falhou na Revolução Francesa e é falha quando lida com o infinito. Deus, com sua sabedoria, piedade e amor, faz da fé uma necessidade para o homem. Há uma multidão de fenômenos que o racionalismo não explica. Mas, a razão não deve ser subestimada nem a fé fanatizada. A maior preocupação deve ser pelo bem comum.

ANÁLISE CONCEITUAL DA PARTE II DO ESTUDO DO GRAU DE COMPANHEIRO DE ACORDO COM O MORAL E DOGMA DE ALBERT PIKE.

A Maçonaria herda das Escolas de Mistério a conscientização não apenas de verdades espirituais, mas também verdades imanentistas, a exemplo dos direitos e deveres do homem. Para ilustrar este cenário, de cunho particularmente de cidadania, Pike evoca o tradicional lema da Igualdade, Liberdade e Fraternidade. A finalidade maçônica à sociedade é fornecer homens filosoficamente preparados para fundamentar com justiça social a ordem social, baseada na humildade da fé e numa racionalidade comprometida com este despojamento. A diferença entre democracia e tirania está em o homem estar ciente de seu papel social e de criatura partícipe da natureza elaborada por Deus. O Criador é abertamente apresentado em seu texto como sendo providencialista e não há indícios de que esteja indiferente aos homens.

O Grau de Companheiro é representado pelo trabalho de burilamento da Pedra Bruta, antes desbastada pelo Aprendiz. A Pedra Bruta simboliza o homem comum em suas imperfeições. Nisto temos que para a doutrina maçônica é verdade que o homem é naturalmente imperfeito, com isso é que a Maçonaria é instrumento divino. Com a evolução ao Grau de Companheiro, o maçom experimenta o progresso pela mudança das colunas, do Norte para o Sul, terminado o trabalho na pedra e a oferecendo cúbica para o Oriente e pronta para a construção do Templo. O bloco moldurado pelo Companheiro é útil para o edifício social, fundamento para os direitos e deveres, justo e perfeito pela fé e pela razão. O escrúpulo maçônico, nos escritos de Pike, não contém conflitos com a crença em Deus.

O conceito de progresso, progressismo ou progressista merece ser bem entendido. O site do Grande Oriente do Brasil traz a seguinte definição: É progressista porque partindo do princípio da imortalidade e da crença em um princípio criador regular e infinito, não se aferra a dogmas, prevenções ou superstições. E não põe nenhum obstáculo ao esforço dos seres humanos na busca da verdade, nem reconhece outro limite nessa busca senão o da razão com base na ciência. Apesar da confusa conceituação, temos que o termo é desligado a qualquer posicionamento político. Não raramente, materialistas inseridos em Lojas, militantes político-partidários acomodados em Ritos maçônicos, reivindicam o conceito para uma adequação do termo a seus modos de conceber o mundo.

A Ordem iniciática, fundada na evolução de graus, é progressista. Nicola Aslan, em seu Grande Dicionário Enciclopédico da Maçonaria e Simbologia, faz a exegese dos símbolos do Malho e do Cinzel como ensino do progresso. O Cinzel simboliza o progresso humano e o Malho, a vontade, O trabalho inicial do Maçom é, portanto, progredir. Como o Cinzel também representa Inteligência, que faz interação com a Força do Malho (Maço), temos uma dialética de impulsionamento, com a Força e Inteligência para o burilamento da Pedra. Ainda assim, este progresso é individual, referência à Pedra (Homem) e não a mudanças nas estruturais fundamentais da Ordem maçônica (2012:1076).

O lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade, escrito literalmente no texto, requer uma reflexão. No contexto, o tema é o da Liberdade. A liberdade do homem e seu uso com sabedoria. Pike utiliza o lema simbolizando a mudança do Regime Absolutista francês para o republicanismo, ou seja, a tirania derrocada em favor da democracia. Neste ínterim, ele tenta localizar a Maçonaria como sendo uma escola para Napoleão, este sendo senão um símbolo do homem que defende os direitos e deveres dos cidadãos e não que fosse um Iniciado na Maçonaria, pois não há evidências documentais de sua iniciação, o que à época não seria difícil de documentar. O romantismo a Napoleão talvez influenciara a inserção de Pike em seu texto, mas historicamente sabemos que o imperador francês não era propriamente um republicano.

O termo costumeiramente atribuído à Maçonaria foi adotado pela Maçonaria francesa. Aslan escreve, baseado em Mellor, que seu uso não é dos tempos da Revolução Francesa, mas durante a denominada II República (1848-1852), copiado pelo Grande Oriente de França e substituindo em Loja a aclamação escocesista Huzzé (2012:682). O Moral e Dogma, publicado em 1871, já associava o lema à Maçonaria universal, indiferente ao mau uso em Loja para com o R.E.A.A. Resumindo, o lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade não é criação maçônica.

Analisando a Revolução Francesa, o maçom francês Allec Mellor, no Dicionário de Maçonaria e dos Franco Maçons, afirma que a tese de que a Maçonaria urdiu e realizou a Revolução foi a de um jesuíta, A. Barruel, autor do livro crítico à Revolução em 1797, denominado de A Franco Maçonaria francesa e a Revolução. Esta tese foi imediatamente refutada por J.J.Mounier no livro Da Influência atribuída aos filósofos, aos franco-maçons e aos iluminados sob a Revolução Francesa , lançado ainda em 1801. Os maçons franceses protestaram contra esta farsa até meados do século XIX, mas com o anticlericalismo as supostas urdiduras e a realização da revolução foram sendo aceitas. O maior historiador da Revolução Francesa , Albert Mathiez, negou, inclusive, que os iluministas utilizavam as Lojas para fazer revolução (1989:213). Pike não faz nenhuma defesa aberta à Revolução Francesa, o racionalismo ateu ou deísta está excluído de qualquer relação ao Rito ou ritualística maçônico.

À.G.D.G.A.D.U
E. L. de Mendonça
SALUS SAPIENTIA STABILITAS

REFERÊNCIAS

ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2012.

MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons. Tradução: Sociedade das Ciências Antigas revisado por Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

PIKE, Albert. Moral e Dogma do Rito Escocês Antigo e Aceito. Tradução de Celes Januário Garcia Júnior e Glauco Bonfim Rodrigues. Birigui: YOD, 2011. 

SITE

https://www.gob.org.br/o-que-e-maconaria/ (acessado em 14/08/2021)


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