PARTE II: A
FILOSOFIA DO COMPANHEIRO MAÇOM
As Escolas de Mistérios preparavam
e responsabilizavam o Iniciado pela manutenção da Ordem social, incluindo a religião.
Este privilégio intelectual não estava oferecido à população pelos sacerdotes,
pois estes não dividiam verdades filosóficas. A Maçonaria, herdeira
desta tradição iniciática em seus feitos filosóficos, decide ensinar as pessoas
oferecendo os Mistérios para favorecer o nível de conhecimento à população.
Este espírito democratizador maçônico é a da tríade Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, que enaltece a consciência humana, responsabilizando em seus
deveres. O despotismo, indiferente a isso, aliena o homem, retira seus direitos
e ocasiona retomadas que pervertem a Verdade através de más aplicações ou de
uma sentimentalidade de anárquica desforra.
A Maçonaria, compreendendo a
Verdade e com a sabedoria de aplicação, ensina através de seus símbolos de finalidade
construtiva, ajudou na causa revolucionária francesa, apoiando Napoleão
em sua decisão de reconhecer o direito do povo em escolher seus governantes.
Fora a sabedoria maçônica que não permitiu a anarquização da aplicação dos
direitos e deveres entre os homens, nem tampouco que estes princípios fossem
perdidos. A Ordem, ao aperfeiçoar o homem, oferece a filosofia do progresso intelectual
e moral inspirado por um nobre sentimento de religiosidade. A relação de
Deus para com os homens está demonstrada na ciência da Criação e nas boas
ações. A natureza, criada por Deus, maior e mais completo livro de Ciências,
faz com que o homem, além de tomar conhecimento cientifico, perceba o poder Divino
e seja bom. Este é o motivo da Maçonaria estar corretamente preocupada em fazer
a verdadeira educação, tornando as pessoas mais sábias pelo fazer o bem, pela
caridade.
O homem sábio, de acordo com o
ensino maçônico, estará cônscio de seus direitos e deveres. Seus limites são esquadrinhados
pela Ordem, a disciplina evolutiva da Maçonaria. Aperfeiçoando o homem com
sabedoria e jaez, o ensino maçônico faz do Iniciado um instrumento de Deus.
A fé é recomendada à Razão, pois esta é falha, como falhou na Revolução Francesa
e é falha quando lida com o infinito. Deus, com sua sabedoria, piedade e
amor, faz da fé uma necessidade para o homem. Há uma multidão de fenômenos que
o racionalismo não explica. Mas, a razão não deve ser subestimada nem a fé
fanatizada. A maior preocupação deve ser pelo bem comum.
ANÁLISE CONCEITUAL DA PARTE II DO
ESTUDO DO GRAU DE COMPANHEIRO DE ACORDO COM O MORAL E DOGMA DE ALBERT PIKE.
A Maçonaria herda das Escolas de
Mistério a conscientização não apenas de verdades espirituais, mas também verdades
imanentistas, a exemplo dos direitos e deveres do homem. Para ilustrar este
cenário, de cunho particularmente de cidadania, Pike evoca o tradicional lema
da Igualdade, Liberdade e Fraternidade. A finalidade maçônica à sociedade é
fornecer homens filosoficamente preparados para fundamentar com justiça social
a ordem social, baseada na humildade da fé e numa racionalidade comprometida com
este despojamento. A diferença entre democracia e tirania está em o homem estar
ciente de seu papel social e de criatura partícipe da natureza elaborada por
Deus. O Criador é abertamente apresentado em seu texto como sendo providencialista
e não há indícios de que esteja indiferente aos homens.
O Grau de Companheiro é representado
pelo trabalho de burilamento da Pedra Bruta, antes desbastada pelo Aprendiz. A
Pedra Bruta simboliza o homem comum em suas imperfeições. Nisto temos que para
a doutrina maçônica é verdade que o homem é naturalmente imperfeito, com isso é
que a Maçonaria é instrumento divino. Com a evolução ao Grau de Companheiro, o
maçom experimenta o progresso pela mudança das colunas, do Norte para o Sul, terminado
o trabalho na pedra e a oferecendo cúbica para o Oriente e pronta para a construção
do Templo. O bloco moldurado pelo Companheiro é útil para o edifício social,
fundamento para os direitos e deveres, justo e perfeito pela fé e pela razão. O
escrúpulo maçônico, nos escritos de Pike, não contém conflitos com a crença em
Deus.
O conceito de progresso,
progressismo ou progressista merece ser bem entendido. O site do Grande
Oriente do Brasil traz a seguinte definição: É progressista porque partindo
do princípio da imortalidade e da crença em um princípio criador regular e
infinito, não se aferra a dogmas, prevenções ou superstições. E não põe nenhum
obstáculo ao esforço dos seres humanos na busca da verdade, nem reconhece outro
limite nessa busca senão o da razão com base na ciência. Apesar da confusa
conceituação, temos que o termo é desligado a qualquer posicionamento político.
Não raramente, materialistas inseridos em Lojas, militantes político-partidários
acomodados em Ritos maçônicos, reivindicam o conceito para uma adequação do
termo a seus modos de conceber o mundo.
A Ordem iniciática, fundada na evolução
de graus, é progressista. Nicola Aslan, em seu Grande Dicionário Enciclopédico
da Maçonaria e Simbologia, faz a exegese dos símbolos do Malho e do
Cinzel como ensino do progresso. O Cinzel simboliza o progresso humano e o
Malho, a vontade, O trabalho inicial do Maçom é, portanto, progredir. Como o
Cinzel também representa Inteligência, que faz interação com a Força do Malho (Maço),
temos uma dialética de impulsionamento, com a Força e Inteligência para o burilamento
da Pedra. Ainda assim, este progresso é individual, referência à Pedra (Homem)
e não a mudanças nas estruturais fundamentais da Ordem maçônica (2012:1076).
O lema Igualdade, Liberdade e
Fraternidade, escrito literalmente no texto, requer uma reflexão. No contexto,
o tema é o da Liberdade. A liberdade do homem e seu uso com sabedoria. Pike utiliza
o lema simbolizando a mudança do Regime Absolutista francês para o republicanismo,
ou seja, a tirania derrocada em favor da democracia. Neste ínterim, ele tenta
localizar a Maçonaria como sendo uma escola para Napoleão, este sendo senão um
símbolo do homem que defende os direitos e deveres dos cidadãos e não que fosse
um Iniciado na Maçonaria, pois não há evidências documentais de sua iniciação,
o que à época não seria difícil de documentar. O romantismo a Napoleão talvez
influenciara a inserção de Pike em seu texto, mas historicamente sabemos que o
imperador francês não era propriamente um republicano.
O termo costumeiramente atribuído
à Maçonaria foi adotado pela Maçonaria francesa. Aslan escreve, baseado em
Mellor, que seu uso não é dos tempos da Revolução Francesa, mas durante a
denominada II República (1848-1852), copiado pelo Grande Oriente de França e substituindo
em Loja a aclamação escocesista Huzzé (2012:682). O Moral e Dogma,
publicado em 1871, já associava o lema à Maçonaria universal, indiferente ao
mau uso em Loja para com o R.E.A.A. Resumindo, o lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade
não é criação maçônica.
Analisando a Revolução Francesa,
o maçom francês Allec Mellor, no Dicionário de Maçonaria e dos Franco Maçons,
afirma que a tese de que a Maçonaria urdiu e realizou a Revolução foi a de um jesuíta,
A. Barruel, autor do livro crítico à Revolução em 1797, denominado de A
Franco Maçonaria francesa e a Revolução. Esta tese foi imediatamente refutada
por J.J.Mounier no livro Da Influência atribuída aos filósofos, aos
franco-maçons e aos iluminados sob a Revolução Francesa , lançado ainda em
1801. Os maçons franceses protestaram contra esta farsa até meados do século
XIX, mas com o anticlericalismo as supostas urdiduras e a realização da
revolução foram sendo aceitas. O maior historiador da Revolução Francesa
, Albert Mathiez, negou, inclusive, que os iluministas utilizavam as Lojas
para fazer revolução (1989:213). Pike não faz nenhuma defesa aberta à Revolução
Francesa, o racionalismo ateu ou deísta está excluído de qualquer relação ao
Rito ou ritualística maçônico.
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria
e Simbologia. 3 ed. Londrina: Editora Maçônica A TROLHA, 2012.
MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos
Franco-Maçons. Tradução: Sociedade das Ciências Antigas revisado por Marina
Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
PIKE, Albert. Moral e Dogma do Rito Escocês Antigo e Aceito. Tradução de Celes Januário Garcia Júnior e Glauco Bonfim Rodrigues. Birigui: YOD, 2011.
SITE
https://www.gob.org.br/o-que-e-maconaria/ (acessado em 14/08/2021)
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